São Paulo, 4/6/2025 - O envelhecimento da população brasileira tem afetado cada vez mais o mercado de trabalho do País e deve inspirar cuidados à frente, especialmente em questões como o perfil de contratação das empresas e de gastos previdenciários, avaliam especialistas que se debruçam sobre o tema.
Em webinar realizado pela LCA 4intelligence na manhã desta quarta-feira, o economista da LCA Bruno Imaizumi destacou que o envelhecimento da população já é o principal vetor responsável pela taxa de participação no mercado de trabalho não ter retornado aos níveis pré-pandemia, à frente de outros fatores que também são relevantes, mas pesam menos, como cadastros irregulares em programas de transferência de renda.
“A população brasileira está ficando mais velha e vamos sofrer com essas questões demográficas nas próximas décadas”, alertou durante o webinar. Imaizumi mencionou que, ao se fazer um estudo simples, de retirar dos cálculos da taxa de participação as pessoas com 60 anos ou mais - e só considerar trabalhadores entre 14 e 59 anos -, essa participação no mercado de trabalho já teria retornado para os níveis pré-covid.
“Temos uma contribuição cada vez maior de pessoas mais idosas no mercado de trabalho e isso vai ser um desafio muito grande. Teremos que enfrentar diversas questões, inclusive de preconceito com contratações de mais velhos, porque a população brasileira está ficando mais velha”, salientou.
Segundo o IBGE, a taxa de participação no mercado de trabalho encerrou o ano de 2019, o último antes da pandemia, em 63,6%. No final de 2020, em meio à crise causada pela covid, a participação no mercado de trabalho despencou para 59,5%. Desde então, a taxa vem se recuperando e, em dezembro de 2024, atingiu 62,6%, mas ainda abaixo dos níveis pré-pandemia.
Previdência
A subsecretária de Estatísticas e Estudos do Ministério do Trabalho e Emprego, Paula Montagner, que também participou do webinar, atentou para a necessidade de se preparar para a questão sob o ponto de vista dos gastos previdenciários. “O envelhecimento rápido da população não significa que iremos trabalhar por anos infinitos, mas que é preciso pensar na previdência pública ou privada”, pontuou.
O peso do envelhecimento populacional na taxa de participação também foi objeto de estudo recente do economista Bruno Ottoni, pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV) e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Em artigo para a revista Conjuntura Econômica do Ibre/FGV do mês de maio, Ottoni destacou que, entre 2019 e 2024, a população idosa no País aumentou em 4,2 milhões, enquanto a de jovens recuou 2,5 milhões. Ao simular um cenário em que essas mudanças demográficas não ocorresse, a taxa de participação no mercado de trabalho teria sido 63,3% no final de 2024 - quase 0,8 ponto porcentual acima do resultado efetivo, e mais próximo do nível pré-covid.
“Isso significa que, no cenário hipotético, haveria 1,3 milhão de pessoas a mais na força de trabalho”, aponta. “Embora a participação de idosos no mercado de trabalho esteja aumentando, o crescimento desse grupo na população em idade ativa é tão acelerado que ‘puxa’ a taxa geral para baixo”, conclui o pesquisador.