São Paulo, 22/07/2025 - Desde que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou no fim da tarde de 9 de julho que pretende
impor tarifas de 50% a produtos importados do Brasil, os investidores estrangeiros passaram a retirar recursos da Bolsa brasileira de maneira ininterrupta. Não é para pouco. O Brasil, que estava entre os países com o piso de 10% da política tarifária americana, irá se tornar o país com maior taxa nesta nova rodada de tarifas - se não houver um acordo comercial até 1º de agosto.
Até 17 de julho, foram oito sessões consecutivas de saída de recursos, somando R$ 6,372 bilhões, com acumulado mensal de mais de R$ 5 bilhões negativos e caminhando para ser o pior mês de julho desde 2021, quando havia terminado com saída de R$ 8,250 bilhões em meio à cautela fiscal e política no Brasil.
A avaliação é de que os
EUA politizaram a questão tarifária e isso pode dificultar as negociações, com risco de que o Brasil seja um perdedor relativo no movimento global de rotação das carteiras. O imbróglio também pode deixar a política monetária brasileira restritiva por mais tempo do que o imaginado, diante de dúvidas sobre os efeitos na inflação e no crescimento global, afirmam os entrevistados pela Broadcast.
A tarifa de 50% faz com que o mercado financeiro questione todos os motivos pelos quais a
Bolsa brasileira conseguiu atrair fluxo no
primeiro semestre de 2025, segundo o estrategista-chefe da Avenue, William Castro Alves. "Agora o Brasil sai como o pior entre todos os países em termos de tarifas, e no curto prazo não vemos uma mudança para melhor, considerando que o governo fala em retaliar", afirma.
A decisão de Trump sugere um componente político e não técnico, pontua o codiretor de gestão da Azimut Brasil Wealth Management, Eduardo Carlier. Do ponto de vista econômico, a tarifa não seria justificada porque os EUA têm superávit comercial em relação ao Brasil. Por isso a diversificação dos ativos por meio do processo mundial de rotação de carteiras, que ganhou força após o anúncio das primeiras tarifas de Donald Trump e beneficiou mercados emergentes como Brasil, pode perder força, acrescenta.
O economista-chefe do banco BV, Roberto Padovani, menciona que o desempenho da Bolsa brasileira é explicado muito pela tendência de crescimento global, principalmente no que se refere a matérias primas. Mas que, por ora, "o quadro
geopolítico tem gerado incerteza". Como cautela adicional, Padovani relembra que "o fiscal é sempre presente por causa da dívida do governo".
Os entrevistados também observam maior incerteza sobre o resultado das eleições de 2026, ficando, por ora, descrentes quanto à sustentabilidade fiscal. Desde o anúncio de Trump, pesquisas como Genial/Quaest e Atlas/Bloomberg mostram ganhos de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A
Selic elevada - atualmente em 15% ao ano - torna o cenário desfavorável para investimento na Bolsa, pois tende a diminuir o valor das empresas, principalmente das mais endividadas, afirma Padovani.
Esses fatores trazem algum alerta ao fluxo que foi "bem importante" no primeiro semestre e ajudou a sustentar o Ibovespa, ressalta Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Asset Management. O Ibovespa recebeu R$ 26,4 bilhões em capital externo no primeiro semestre - o maior fluxo positivo para o período em três anos. Esse resultado contribuiu para uma valorização de 15,44%, o melhor rali da Bolsa em um primeiro semestre desde 2016.
Ruídos como uma eventual demissão do presidente do Federal Reserve (Fed) por Trump, ainda que legalmente quase impossível, também elevam o grau de incerteza e têm reforçado a cautela. "Há uma discussão de interferência de Trump no Fed, e isso gera esses ruídos, apesar de sabermos que o Fed tem uma certa blindagem", cita Ashikawa.
Já Castro, da Avenue, afirma que os principais gatilhos para um eventual retorno do fluxo externo ao Brasil são as eleições de 2026 ou a sinalização de que Brasil e EUA cheguem a
algum tipo de acordo tarifário.