Quer aprender um novo idioma em outro país? Confira dicas de quem viveu essa experiência

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Três viajantes contam a experiência de estudar um novo idioma em outro país - Montagem/Acervo Pessoal
Três viajantes contam a experiência de estudar um novo idioma em outro país
Por Bianca Bibiano

Publicado em 31/05/2025, às 06h00 - Atualizado em 01/06/2025, às 12h00

Já pensou em estudar inglês em Malta ou Inglaterra, italiano na Itália ou francês em vinícolas europeias – tudo isso depois dos 50 anos? Cada vez mais brasileiros estão realizando esse tipo de sonho na chamada “economia prateada”, um mercado que cresce junto com a longevidade e o desejo de viver novas experiências mesmo após a aposentadoria.

Agências de intercâmbio ouvidas pelo Broadcast/Viva dizem ter percebido essa movimentação. A Experimento Intercâmbio Cultural, por exemplo, registrou aumento de 11% no interesse de estudantes acima dos 50 anos em 2024 e 10% de crescimento entre aqueles com mais de 60 anos, segundo Carla Gama, diretora da empresa. Hoje, 8% de todos os intercambistas da agência pertencem a essa faixa etária.

“É um público com sede de vida, que busca experiências com mais significado. Eles não querem uma excursão, querem aprender e se conectar com outras culturas, mas no seu ritmo.”

Nos destinos preferidos do público sênior lideram Reino Unido (23%), seguido de Estados Unidos (22%) e Canadá (19%). Malta, Itália e África do Sul também vêm ganhando destaque. “A África do Sul, por exemplo, ainda é pouco conhecida para esse tipo de experiência, mas tem excelente infraestrutura e custo-benefício”, diz João Dussim, gerente de produto da Experimento. Além disso, a América do Sul tem sido incentivada como opção de curta duração e menor custo, com experiências voltadas ao aprendizado de idiomas e cultura local.

Outra agência que aposta nesse mercado é a Roda Mundo, que nasceu em 2007 com foco em intercâmbio tradicional, mas há cerca de oito anos passou a se especializar no público 50+, como explica a diretora Roberta Gutschow:

“Começamos a perceber, no nosso site e no atendimento, que a média de idade dos interessados estava mudando. A maioria das agências foca nos jovens, mas vimos que havia um público subatendido, com vontade, tempo e condições de realizar o sonho de estudar fora."

Ela destaca que o público maduro é mais engajado e cuidadoso. “Diferente do jovem, que muitas vezes pede informações e depois desaparece, o 50+ responde, interage, manda foto, agradece. É um público que valoriza o atendimento humano e gosta de ser ouvido com calma. Isso fez com que a gente adaptasse nosso estilo de atendimento e também os pacotes oferecidos.”

Como são organizados os intercâmbios 50+

Os roteiros, em geral, combinam aulas pela manhã com atividades culturais à tarde e aos fins de semana. Há duas modalidades principais: o intercâmbio individual, em que a pessoa viaja sozinha e se junta a um grupo multicultural com suporte da escola, e os grupos com acompanhamento, nos quais um representante da agência viaja junto com os alunos – opção ideal para quem tem inseguranças com idioma ou tecnologia.

“Em destinos como Malta, organizamos grupos que embarcam juntos, têm programação compartilhada e ainda contam com o nosso suporte presencial. Isso é decisivo para quem nunca viajou sozinho ou não tem familiaridade com aplicativos e internet”, explica Gutschow. Nas agências ouvidas, a procura por intercâmbios de até quatro semanas é a mais comum.

A acomodação também é um ponto de atenção. Nesse sentido, as opções são variadas: hotel, hostel, casa de família, hospedagem em campus universitário e apartamentos que podem ser divididos com outros estudantes. “A maioria prefere estúdios com banheiro privativo ou casas de família mais confortáveis. A hospedagem pode definir o sucesso da experiência. A pessoa quer estudar, mas também quer descansar com conforto.”, explica Gutschow.

Ela acredita que o intercâmbio nessa fase da vida vai além da sala de aula. “É um resgate pessoal. Muitos clientes nos dizem: ‘Agora eu posso fazer o que não pude na juventude’”, conta. Carla Gama também compartilha da mesma opinião, e acrescenta: “Estamos colocando mais anos na vida das pessoas. Agora, é hora de colocar mais vida nesses anos.”

Experiência em primeiro plano

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Dimas Barros Moura, 67: "O importante é se jogar. A vida é curta e precisa ser vivida enquanto temos saúde"> (Acervo pessoal)

Em 2024, o executivo de marketing Dimas Barros Moura, 67, decidiu retomar um sonho antigo: fazer intercâmbio. Ele já havia tido essa experiência aos 35 anos, mas com foco no trabalho e sem a chance de uma vivência cultural. Aos 67 anos, o objetivo era outro. “Não fui para aprender inglês, fui para destravar. Para me desafiar como pessoa”, afirma. Sua escolha foi Malta, onde ficou três semanas, com aulas pela manhã e atividades culturais organizadas pela escola para alunos acima dos 50 anos.

Mesmo já falando inglês, Moura enfrentou certo etarismo em uma turma inicialmente mais jovem.

“No começo, senti olhares estranhos, como se eu fosse um intruso. Mas logo percebi que era só uma questão de ritmo. Hoje não me comparo com os jovens, cada um aprende do seu jeito.”

Para ele, o mais importante foi a vivência cultural. Ficou em uma acomodação compartilhada para poder conviver com pessoas de outras nacionalidades. “Minha dica é: não fique em hotel. Vá para lugares onde você possa interagir, sair da zona de conforto. Isso faz parte da experiência.”

Depois de Malta, Moura já planeja outros destinos: em outubro vai para a Itália estudar italiano e, em dezembro, para a África do Sul, onde vai retomar os estudos de inglês. “Aprender uma língua é a cereja do bolo. Se aprender só o básico, tudo bem. O importante é se jogar. A vida é curta e precisa ser vivida enquanto temos saúde.”

A primeira viagem abre portas

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Cristiane Alves, 59, Muitas mulheres da minha geração ainda acham que viajar sozinha não é para elas". (Acervo pessoal)

A psicóloga aposentada Cristiane Alves, 59, fez seu primeiro intercâmbio em setembro de 2023, após a pandemia. Assim como Dimas, foi para Malta, mas optou por ir com uma turma de mulheres 50+. “Nunca tinha viajado sozinha, não falava inglês direito, mas tinha suporte da agência o tempo todo. Isso me deu tranquilidade.”

Ela relata que a experiência foi transformadora. “Ficamos em hotel perto da escola, íamos de barco para as aulas. À noite, saíamos em grupo para bares e passeios. E o melhor: sem a pressão das provas ou de ser fluente. A gente vai para escutar, interagir, viver.”

Alves gostou tanto que traçou como meta fazer um novo intercâmbio a cada semestre. Em 2024, foi para Bournemouth, na Inglaterra, com duas amigas. Já neste mês, estudou em Victoria, no Canadá, de onde aproveitou para fazer um cruzeiro até o Alasca após o término das aulas.

“É essencial escolher escolas adaptadas para nosso perfil. Turmas de adolescentes não funcionam para a gente. Os interesses, os assuntos e o ritmo são outros.”

Sua dica é se preparar com antecedência e não deixar o medo vencer. “Muitas mulheres da minha geração ainda acham que viajar sozinha não é para elas. Mas basta uma primeira experiência bem-sucedida para tudo mudar.”

Como aprofundar o idioma morando em outro país

A jornada de aprendizagem de um novo idioma começou para Sandra Vasconcelos, 58, quando ela se tornou avó. Durante à primeira visita à neta, que nasceu há 5 anos em Londres, na Inglaterra, ela percebeu que era hora de realizar um sonho antigo e mudar-se para a Europa para se aprofundar no inglês e trabalhar por lá.

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 Sandra Vasconcelos, 58: “No Brasil, eu sentia olhares por ser mais velha em shows ou bares. Aqui, isso não existe. Ninguém julga sua idade. Isso muda tudo". (Acervo pessoal)

O vínculo familiar garantiu a ela o visto permanente, mas chegando lá, percebeu que precisaria se dedicar ao inglês se quisesse expandir a convivência para além dos grupos de estrangeiros.

Conseguiu, então, vaga em um curso oferecido pelo governo britânico a imigrantes e dedicou-se a entender mais a linguagem que usaria no dia a dia. “O foco do curso era no cotidiano, não em gramática ou na parte cultural. Não era para aprender sobre o Big Ben, mas sim como fazer uma reclamação na prefeitura, pegar transporte público, interagir com vizinhos e outras práticas cotidianas”, conta. Mesmo com dificuldade com o idioma, ela nunca deixou de se comunicar:

“O pouco que sei de inglês já mudou minha postura. Me sinto mais segura em eventos, em reuniões.”

Contudo, sente que ainda precisa se aprofundar mais na conversação para conseguir “romper a bolha” de convívio com brasileiros. “Minhas relações aqui, tanto no trabalho quanto em família, ainda são feitas principalmente em português. Até minha neta aprendeu nosso idioma para praticar comigo, quando na verdade eu queria conversar em inglês com ela”, conta.

Por isso, para quem vai viajar com foco em melhorar a fluência em um idioma, ela recomenda buscar escolas fora das regiões turísticas e evitar contato constante com outros alunos brasileiros. “Se você vai com alguém que fala sua língua, é natural que fique na zona de conforto. Ir sozinho te obriga a praticar.”

Vasconcelos acredita ainda que a experiência de viver e estudar inglês em Londres a libertou dos estigmas de envelhecimento:

“No Brasil, eu sentia olhares por ser mais velha em shows ou bares. Aqui, isso não existe. Ninguém julga sua idade. Isso muda tudo.”
Palavras-chave 50+ Intercâmbio idioma

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