São Paulo, 03/06/2025 - Muitas pessoas ao chegar na fase de aposentadoria ou quando tomam coragem de deixar a carteira assinada e empreender encontram no mercado opções de franquias. Entretanto, é preciso ter um bom capital inicial para arcar com os custos iniciais e a própria taxa de franquia. Mas há também uma modalidade mais em conta, a da microfranquia, ideal para quem quer começar no mundo empresarial, sem gastar tanto.
Mas é preciso tomar cuidado com o fato de que se tornar um microfranqueado é deixar o mundo do emprego para entrar no mundo do trabalho como empreendedor. De toda forma, a decisão precisa ser bem calculada e as chances de sucesso aumentam se o negócio tiver aderência com seus interesses pessoais e experiência.
De acordo com Leandro Bonvechio, especialista em franchising da BMF Advogados, ao se decidir por um negócio próprio, o ideal é que a pessoa estude sobre o tema, faça um reconhecimento sobre o potencial do mercado, busque informações no Sebrae, explore os riscos e as vantagens.
Se optar por entrar no universo das franquias, as de baixo custo se configuram como uma oportunidade para a pessoa identificar se tem aptidão para o negócio, defende ele. “Na franquia você começa dentro de uma marca, de uma metodologia que já existe, um serviço pronto, que já tem certa aceitação.”
Bonvechio conta que muitas pessoas buscam a microfranquia "pelos motivos certos", mas ainda não se enxergam como empreendedores, e sim como empregados na hora da execução.
“Muitos não exploram o que poderia vir com a franquia, não se comportam como empresários. Quanto mais se aprende, mais se consegue extrair o melhor do negócio. O franqueado tem que entender o papel dele."
O que é microfranquia?
A microfranquia é um sistema de negócio onde uma empresa, no caso o franqueador, concede a outra empresa, a do franqueado, o direito de usar sua marca, serviços, produtos, processos, etc, em troca de um valor inicial e uma taxa mensal, os chamados royalties.
Este modelo de negócio exige um investimento inicial a partir de R$ 5 mil até R$ 135 mil, de diversos segmentos e tipos de negócio, conforme a Associação Brasileira de Franchising (ABF).
Levantamento realizado pela ABF em 2024 mostra que as marcas que compunham o ranking das 20 maiores microfranquias somavam juntas 18.041 operações, 17% maior que em 2023. Serviços e outros negócios (60%) lideravam o ranking, seguidos de alimentação (15%), saúde, beleza e bem-estar (5%), entre outros.
Quando considerado o formato, há praticamente um empate, sendo 50,1% em "home based", que é sinônimo para home office, e 45,1% em lojas. Quiosques respondem por 4,8%. Ainda segundo a ABF, o prazo de retorno das microfranquias é de 20 meses.
Conversar com quem já franqueado naquele negócio ajuda a tomar a decisão, recomenda o diretor de microfranquias da ABF, Felipe Brunello - Foto: Divulgação
O diretor de microfranquias e novos formatos da ABF, Felipe Brunello, ressalta que é importante conversar com franqueados, não só os que são sugeridos pelo franqueador e, se possível, fazer um “test-drive” antes de se decidir pelo negócio.
“É importante conhecer melhor o negócio e ver se você se adapta, se você gosta”, afirma, lembrando que, muitas vezes, o valor investido é todo o dinheiro acumulado ao longo da vida. Por isso, não há espaço para perdas.
O diretor da ABF afirma que é muito importante não esquecer que franquia é um negócio como outro qualquer e por isso também tem riscos. “Não é garantia de sucesso, nem a principal marca consegue garantir isso. O que existe são previsibilidades, estudos, mas cada um precisa fazer sua parte”, pondera.
Microfranquias e seus microfranqueados
No site da ABF é possível encontrar várias orientações para quem quer entrar neste segmento. A associação também tem um canal de educação com conteúdo tanto gratuito quanto pago. Veja a seguir alguns depoimentos de microfranqueados 50+ ao Viva:
Carlos Alberto dos Santos, de 62 anos, franqueado do "Dr. Shape"
“Foi a hora de vender o negócio próprio e apostar numa franquia", Carlos Alberto dos Santos - Foto: Arquivo pessoal
O sonho de trocar uma cidade grande pelo interior, mais tranquilo, sempre fez parte da vida de Carlos Alberto dos Santos, de 62 anos, e de sua esposa, Carolina Amorim, de 49 anos.
Enquanto era CLT, Carlos tinha em paralelo uma cafeteria na capital paulista, que administrou com Carolina por dois anos. Mas a vontade de morar no interior era maior e, em 2015, ele se viu desempregado, prestes a se aposentar. “Foi a hora de vender o negócio próprio e apostar numa franquia”.
Eles optaram pela franquia por ter maior suporte e já terem passado pela experiência de começarem sozinhos, sem ajuda. “Escolhemos o ramo de suplementos porque é uma área em expansão”, lembra. Carlos e Carolina começaram o negócio sem funcionários, dividindo as tarefas, em 2022. A loja ganhou espaço no mercado devido ao atendimento personalizado. Esse é considerado o trunfo do casal. “Estudamos muito o segmento de suplementos e oferecemos uma boa consultoria para nossos clientes, que estão cada vez mais fidelizados”, diz o empresário.
Mônica Silvestre, franqueada da "3,2,1 GO!"
"O aprendizado é constante e todos os dias surgem novos desafios", Monica Silvestre - Foto: Divulgação
Após 40 anos dedicados à área da educação na Prefeitura Municipal de São Paulo, Mônica Silvestre e se aposentou em 2024. Ao vislumbrar a aposentadoria, percebeu que não gostaria de permanecer inativa. Apaixonada por viagens, decidiu transformar esse interesse em uma nova oportunidade de trabalho.
Em 2023, ao tomar conhecimento da Feira de Franquias, seu marido visitou o evento e conversou com uma representante da "3,2,1 GO!" sobre o modelo de negócio. A proposta de investimento acessível e a possibilidade de trabalhar em home office despertaram o interesse. Mônica então iniciou a operação da agência de viagens ainda em paralelo com suas funções na diretoria da escola, e ao final de 2024 optou por se dedicar integralmente ao novo empreendimento.
Hoje, afirma estar realizada com a agência. “O aprendizado é constante e todos os dias surgem novos desafios, especialmente nas áreas de marketing e divulgação." Como conselho para quem deseja empreender após a aposentadoria, ela diz: "Escolha algo que você realmente goste, assim o trabalho se torna prazeroso''.
Antonio dos Reis, 67 anos, franqueado "Royal Face"
O empresário Antônio dos Reis já possui cinco unidades da microfranquia de estética. Foto: Acervo pessoal
Aos 67 anos, o aposentado Antônio dos Reis decidiu que sua trajetória profissional estava longe de terminar. Em vez de desacelerar, ele enxergou na aposentadoria a oportunidade ideal para dar um novo passo como empreendedor no setor de estética.
A esposa de um colega trabalhava em uma unidade da Royal Face, em Goiânia, e foi a partir daí que ele percebeu o potencial do modelo de negócio.
“Me encantei pela proposta. Queria investir em algo já estruturado, com suporte e um mercado em crescimento. A franquia era o caminho mais sólido”, conta.
E foi assim que nasceu sua primeira unidade em Maceió. O sucesso e a segurança operacional do negócio falaram mais alto. Antônio decidiu escalar: vieram, na sequência, as unidades em Lauro de Freitas (BA), Campina Grande (PB), Manaus (AM) e Caruaru (PE), totalizando cinco unidades sob sua gestão. Reis não apenas diversificou sua fonte de renda, mas também mergulhou em um segmento que alia saúde, autoestima e alto potencial de crescimento.
Dicas para começar nas microfranquias
Não é porque o valor da franquia é menor que você deve pensar que a dedicação ao negócio também será menor. As franquias, mesmo as mais baratas, exigem:
Gerenciamento eficiente
Seguir as orientações do franqueador
Aplicar a fórmula da lucratividade: faturar mais do que gastar.
Fazer pesquisa de mercado para entender o setor, os hábitos dos consumidores e a concorrência;
Avaliar a experiência e a presença da franquia para entender se seus diferenciais são claros para o mercado.
Alguns cuidados
Fique atento a aceleradoras que querem ganhar capilaridade a qualquer custo;
Conheça a marca, sua história, reputação e a equipe por trás dela e se a franquia tem suporte e treinamento para seus franqueados;
Verifique se a franquia tem um modelo de negócios comprovado e seus lucros são consistentes;
Certifique-se de ter o capital necessário para cobrir os custos iniciais e de operação da franquia;
Estude o negócio: leia o contrato, conheça o modelo operacional e fale com outros franqueados para saber a opinião de quem está na rede;
Nunca subestime a importância de desenvolver competências como gestão e liderança, pois mesmo com um modelo de negócio estruturado, o sucesso de uma franquia depende diretamente do engajamento e da atuação do franqueado;
Adapte-se às novas tecnologias: explore ferramentas digitais para gestão, marketing e atendimento ao cliente.
Saiba como gerenciar sua franquia:
Marketing e Comunicação: use redes sociais como Instagram para gerar engajamento com conteúdos próprios e humanizados, mostrando sua equipe e o dia a dia da unidade. Aposte também em promoções locais, parcerias com comércios da região e ações sazonais para atrair e fidelizar clientes.
Gestão financeira: controle rigorosamente o fluxo de caixa e acompanhe o balanço contábil (DRE) da sua unidade. Negocie com fornecedores usando a força da rede para obter melhores condições. Automatize tarefas administrativas com softwares de gestão e ganhe mais tempo para focar no que traz faturamento.
Atendimento ao cliente: invista em treinamento contínuo da equipe com foco em excelência no atendimento. Crie canais de feedback e use plataformas como o Google Meu Negócio para ouvir clientes e valorizar sua reputação. Personalize o atendimento e fortaleça o relacionamento com quem já compra de você.
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