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Por Paula Bulka Durães
[email protected]São Paulo, 29/05/2025 - Os jovens estudantes brasileiros em universidades de prestígio dos Estados Unidos, como Harvard, temem perder a bolsa e não terminar a graduação. O clima é de instabilidade desde a sequência de retaliações de Donald Trump aos alunos estrangeiros. “Eu tinha os planos de ir para o Brasil, visitar a minha família antes de retornar do Spring Break (férias de primavera), mas optei ficar nos EUA com medo de não conseguir voltar mais”, conta Nathalie Arruda Milbradt, 21, estudante de Economia e Governo na instituição.
A tensão da Nathalie é compartilhada também pelas famílias que têm filhos estudando no país.
“A minha mãe trabalhou a vida inteira praticamente como empregada doméstica e o meu pai como caminhoneiro. Nenhum deles fez faculdade, então estar aqui é a realização muito mais do que de um sonho, mas de uma crença em um futuro melhor para eles”, explica.
A consultora de imigração de estudantes para os EUA, Giorgia*, afirma que recomendou para os pais e filhos evitarem exposição nas redes sociais neste período de incertezas, com cuidado especial no compartilhamento de publicações que fazem críticas ao governo estadunidense.
“Apague o que é indevido, cuidado com o que está publicando, com o que está curtindo, porque tudo está sendo vigiado”.
Nesta quinta-feira, 29, foi prorrogada a decisão da juíza federal Allison Burroughs que bloqueou a ação do governo norte-americano de proibir matrículas de alunos estrangeiros em Harvard. Ontem, o Departamento de Justiça recuou e ofereceu um prazo de 30 dias à universidade para responder às alegações do governo. Os agendamentos de visto para estudantes estão temporariamente suspensos desde a última terça-feira, 27, em uma declaração assinada pelo secretário de Estado, Marco Rubio.
Desde abril, Harvard, Princeton, Columbia e outras universidades norte-americanas estão na mira de Donald Trump. No caso específico de Harvard, a mais antiga universidade do país, as punições surgiram depois do presidente associar as manifestações pró-palestina pelos estudantes e corpo docente como antissemitas – aqueles que têm preconceito, hostilidade ou discriminação contra judeus , como explica Guilherme Vieira, CEO da On Set Consultoria Internacional e especialista em imigração para os EUA.
“A administração Trump quer fazer com que as universidades, escritórios de advocacia, veículos de comunicação, tribunais e outras instituições se alinhem à sua agenda. Nas últimas semanas, o governo propôs o fim da isenção fiscal de Harvard e o aumento de impostos sobre sua dotação, além de abrir uma investigação para apurar se a instituição violou as leis de direitos civis ao discriminar ‘funcionários brancos, asiáticos, homens ou heterossexuais’”, reitera.
As últimas retaliações do governo americano incluíram o pedido às agências federais de cancelamento de US$ 100 milhões em contratos com Harvard e o bloqueio de US$ 2,6 bilhões em bolsas federais de pesquisa. Na semana passada, Trump anunciou a proibição de matrículas de estudantes estrangeiros na universidade, mas a decisão foi contestada na justiça e segue bloqueada indeterminadamente.
Harvard tem cerca de 7 mil alunos estrangeiros matriculados, entre graduação e pós-graduação. Esse número representa um quarto de todos os estudantes da instituição. Nas redes sociais, Trump chegou a se referir a estes estudantes como “lunáticos radicalizados” e criticou a alta quantidade de estudantes internacionais. A universidade classificou a decisão como “sem precedentes”.
Com a situação atual, a consultora Giórgia* recomenda que os brasileiros procurem outros destinos fora dos EUA para estudar. Neste momento, os novos pedidos de vistos para estudantes (F-1, J-1 e M-1) estão suspensos. Entretanto, os agendamentos previamente marcados seguem normalmente.
Caso a medida de Trump de proibir estudantes do exterior em Harvard seja aprovada, serão afetados, a princípio, todos os alunos que ingressarem na instituição no ano letivo 2025-2026, que começa no segundo semestre deste ano. “Os estudantes e familiares devem ficar atentos às notícias verdadeiras, de fontes confiáveis, que devem enviar comunicados nas próximas semanas”, explica o advogado Guilherme Vieira.
Para esta reportagem, o Viva entrou em contato com a Embaixada dos EUA no Brasil e com o Itamaraty, mas não obteve respostas até o momento.
*O nome foi alterado para preservar a identidade da fonte.
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