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Maria Alcina, símbolo da irreverência, terá história contada em dois filmes

Foto: Reprodução Instagram

Com mais de 50 anos de carreira, a cantora ainda segue sua intuição para a escolha de cada projeto e parceria - Foto: Reprodução Instagram
Com mais de 50 anos de carreira, a cantora ainda segue sua intuição para a escolha de cada projeto e parceria
Fabiana Holtz
Por Fabiana Holtz fabiana.holtz@viva.com.br

Publicado em 08/11/2025, às 13h00

São Paulo, 08/11/2025 – Filha de uma dona de casa e um ex-músico que perdeu a audição e não permitia que ligassem o rádio em casa, a cantora Maria Alcina Leite, ícone rebelde de voz grave e inconfundível, lembra de sentir a presença constante da música em sua vida desde muito cedo. Sempre desafiadora e audaciosa,  a cantora de 76 anos teve sua história contada no recente documentário musical “Sem vergonha”, com direção de Rafael Saar.

Além da cantora, o público poderá ver a atriz Ewä no papel da protagonista mais jovem, e a participação de artistas como Ney Matogrosso e Bayard Tonelli. O documentário, que narra sua luta contra a censura da ditadura militar em 1974, foi exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, no ano passado. O filme já está disponível em plataformas de streaming como CurtaOn e pode ser acessado via Amazon Prime ou Claro TV+. 

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Foto: Reprodução/Instagram

Fonte inesgotável de histórias das noites cariocas da década de 1970, a cantora também serviu de inspiração para o longa documental “Alegria Brasil: estrelando Maria Alcina”, que está em produção e tem lançamento previsto para o segundo semestre de 2026. Dirigido por Elizabete Martins Campos, reconhecida por retratar ícones femininos da música brasileira, o filme pretende trazer uma celebração da identidade brasileira e da irreverência da cantora.

Entre outros trabalhos, Campos dirigiu “My name is now, Elza Soares” (2014) e o curta “Na parede da memória, Elis Regina” (2023).

Realizado pela It Filmes em parceria com o Polo Audiovisual da Zona da Mata, Instituto Energisa, Animaparque e Fábrica do Futuro, a produção de ‘Alegria Brasil’ conta com patrocínio do Grupo Energisa, via Lei Estadual de Incentivo à Cultura, e investimento do FSA/BRDE/Ancine.

“Tenho muita gratidão por tudo que vivi. Contei com a ajuda de pessoas tão especiais ao longo da minha trajetória e o mais legal é que sigo me renovando”, comentou a cantora em entrevista exclusiva ao Viva.

Infância musical e feliz

“Meus pais, dona Arminda e seu Fábio, tiveram oito filhos. A minha infância foi muito feliz e a música sempre esteve presente. Apesar de não termos rádio, eu tinha um tio que de vez em quando levava um radinho para casa e era uma alegria só”, conta a cantora, entre uma gargalhada e outra.

“Fui descoberta como cantora ainda na escola. No grupo escolar Coronel Vieira tinha aula de canto e me destaquei pelo tom da minha voz. Sou contralto. Desde menina a minha voz era mais grave, peculiar”, relembra a cantora, que saiu ainda adolescente da pequena Cataguases (MG), aos 17 anos, para o Rio de Janeiro em busca de uma chance na música.

Na época, ao observar que sua voz era de um tom mais grave, suas principais inspirações eram cantores como os Agnaldos (Timóteo e Rayol) e Moacir Franco.

“Depois fui descobrindo as cantoras, Helena de Lima, Lana Bittencourt, Carmen Costa, Maria Bethânia, Nara Leão e Inezita Barroso."

Ansiosa e encantada com a efervescência da capital carioca, a mineirinha exuberante arrumou emprego na boate Number One, casa de Mauro Furtado. “Fui descoberta por ele, que acolhia os artistas. Por ali passaram nomes como Djavan, Paulinho da Viola, Marlene. Toda música popular brasileira esteve naquele palco”, relembra.

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Foto: Reprodução/Instagram

Pouco tempo depois veio o convite para a participação na trilha sonora do filme “O Anunciador, o Homem das Tormentas”, de Paulo Bastos Martins. A produtora Brazuca foi a primeira a acreditar em seu talento, lançando a cantora. Na mesma época a produtora também lançou Toni Tornado, cantor e ator que estorou com a música BR-3. Com 95 anos, Tornado segue firme brilhando na novela "Eita mundo melhor", da Globo.

Fio Maravilha e os anos de chumbo

A fama nacional chegou em 1972, com o convite de Solano Ribeiro para cantar Fio Maravilha, escrita por Jorge Ben Jor. A música lhe rendeu o prêmio na categoria nacional do Festival Internacional da Canção daquele ano e impulsionou de vez sua carreira. Ousada, seu estilo a transformou em um ícone de androginia e desinibição, ao lado de figuras como Ney Matogrosso e o grupo Dzi Croquettes.

Ela recorda que o auge de sua carreira se deu enquanto a ditadura tomava conta do País. “Eu tinha todo um comportamento histriônico em cena e respondi processo por isso. Fui chamada na polícia, mas por comportamento, tudo era problemático naquela época”, recorda.

Entre 1973 e 1974 a cantora lançou seus dois primeiros trabalhos e foi proibida de se apresentar publicamente, além de ter proibida a veiculação de suas músicas.

Pouco tempo depois, em 1978, Maria Alcina gravou um disco com o hino do Corinthians e a canção Transplante de Corintiano em homenagem ao seu time do coração.

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Em recente participação no Altas Horas, programa do Serginho Groisman, na TV Globo
Foto: Reprodução/Instagram

Mauro Furtado, que era seu empresário na época, não soltou da mão da cantora, permanecendo ao seu lado e a protegendo juridicamente. “Estive muito bem assessorada por ele. Ele cuidou muito dessa parte”, afirma.

Além de Furtado, a cantora recorda com carinho de grandes parceiros dessa época, como a atriz Leila Diniz, o maestro Severino Filho, e músicos da banda que acompanhavam na boate.

Ao longo da década de 1980, Alcina enfrentou um período de entressafra, seguindo como jurada de calouros em programas de TV como Raul Gil e Clube do Bolinha, além de participações frequentes no Cassino do Chacrinha.

Com relação ao duplo sentido de algumas de suas canções mais famosas como “É mais embaixo”, “Prenda o Tadeu” e “Calor na Bacurinha”, que vieram mais adiante, Maria Alcina defende que elas pertencem ao folclore pernambucano. Segundo ela, na sua visão artística, se trata de uma mistura de teatro de revista com pastoril pagão.

“São músicas que fazem parte da cultura do Nordeste e contam a história da música do Brasil. É uma alegria maravilhosa, que contagia."

Carnaval e novos projetos

Ao falar sobre carnaval Maria Alcina, que já foi destaque da Beija Flor em 1976, no enredo Sonhar com Rei Dá Leão, de Joãosinho Trinta, ela se derrete. “Carnaval é tudo para mim. Com o carnaval foi que eu aprendi sobre arte. Na minha cidade eu ficava observando tudo encantada. Para mim representa beleza, liberdade e arte, um olhar que vai além”. Em 1977, sua imagem se tornou capa do LP das Escolas de Samba.

Em 2026, a cantora já tem seu programa de carnaval definido: se apresenta na Casa de Francisca, em São Paulo. “No momento estou envolvida com as ações de divulgação do “Sem vergonha”. Vou para Recife em 15 de novembro para acompanhar uma exibição do filme, que está participando de festivais”, conta, revelando que ainda vem muita coisa boa por ai.

Recentemente ela encontrou com Antônio Adolfo, renomado pianista, compositor, arranjador e amigo de longa data, em gravação para o programa “Conversa com Bial”, do jornalista Pedro Bial. Exultante pelo reencontro, ela disse que ainda não sabe quando o episódio, que era uma homenagem à carreira do amigo, vai ser transmitido.

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Minha intuição não falha, afirma Maria Alcina
Foto: Reprodução/Instagramption

A cantora também está envolvida na produção de um show com escritor e músico Heitor D'Alincourt, que a convidou para participar de um projeto sobre a Turma da Tijuca (Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Tim Maia e Jorge Ben Jor). Por enquanto a produção está sendo feita em São Paulo e não tem data para estreia.

Feliz e em paz com suas escolhas, Maria Alcina diz se orgulhar de sempre ter acreditado em sua intuição para guiar sua carreira. “A intuição é a nossa matéria-prima. Sempre digo: segue a intuição que não tem erro. Quando eu descobri isso fiquei ainda mais atenta”.

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