São Paulo, 27/06/2025 - A ocorrência de chuva em volumes maiores do que os inicialmente previstos ao longo de junho, principalmente na região Sul, alterou a perspectiva para a bandeira tarifária a ser acionada em julho. A maior parte dos especialistas consultados pelo Broadcast apontam tendência de acionamento da bandeira amarela, com cobrança adicional de R$ 1,885 na conta de luz a cada 100 kWh consumidos. Mas há quem ainda trabalhe com o cenário de manutenção da bandeira vermelha patamar 1, vigente em junho, com custo de R$ 4,46 a cada 100 kW/h consumidos.
Seja como for, o cenário é diferente do previsto no início de junho, quando o mercado trabalhava com a perspectiva de uma cobrança ainda mais elevada a partir do mês que vem, com acionamento da bandeira vermelha patamar 2, o que elevaria a cobrança adicional para a R$ 7,877 a cada 100 kWh consumidos. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) divulga oficialmente hoje, 27, a bandeira tarifária de julho.
Se confirmada a bandeira amarela para julho, acarretaria um alívio de R$ 2,58 por 100 KWh no bolso do consumidor, como também no índice inflação do próximo mês. Nos cálculos do Banco BMG, se a coloração se confirmar, o impacto médio no IPCA do mês será de 0,14 ponto porcentual.
A diretora de Preços e Estudos de Mercado na Thymos, Mayra Guimarães, está entre os especialistas que atualizaram a projeção de bandeira de vermelha para amarela. "O principal fator para a redução foi o volume de chuvas registrado no Sul do País no final do mês, somado às previsões de continuidade das precipitações nos próximos dias", disse, explicando que isso contribui para um preço spot da energia (Preço de Liquidação das Diferenças, PLD) mais baixo na abertura de julho. Esse preço é um dos gatilhos considerados na decisão de acionamento da bandeira.
Dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) indicam que o nível dos reservatórios no subsistema Sul subiu 20,2 pontos porcentuais (p.p.), tendo atingido 64,85% da sua capacidade ontem. "Somente de 15 a 20 de junho, o volume de precipitação nas bacias dos rios Jacuí e Uruguai superou a média mensal", destacou o diretor de Planejamento do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Alexandre Zucarato.
Ele também salientou que, preocupado com a perspectiva de baixa intensa dos níveis armazenados, o Operador também atuou para economizar água nas usinas, mesmo que a custo de geração termelétrica, o que colaborou para a melhora nos níveis dos reservatórios. Ele explicou que as hidrelétricas do Sul são importantes para apoiar o atendimento à carga no horário de pico, especialmente no fim do período úmido, por isso foi necessária a medida preventiva.
Seja como for, o resultado foi uma melhora dos níveis de armazenamento e a perspectiva de alguma elevação à frente, diante da previsão de chuvas nos próximos dias, o que ajudaria a manter os preços da energia em patamares mais baixos.
O gerente de Inteligência de Mercado da Electra Energy, Gabriel Apoena, calcula que o fechamento do PLD de julho deve ficar entre R$ 120 e R$ 170 por megawatt-hora (MWh), "devido principalmente à entrega favorável de hidrologia no Sul de junho para julho". Com isso, ele também antecipa bandeira amarela em julho.
Outra empresa que projeta bandeira amarela é a Armor Energia. O diretor de Trading da empresa, Fred Meneses, cita que há possibilidade até mesmo de bandeira verde, sem cobrança adicional, a depender das projeções incorporadas pelo ONS para o volume de chuvas e condição de armazenamento no próximo mês. "Desde o início do ano, o modelo [que calcula os preços de referência da energia] está mais sensível, e estamos num limiar que, se a premissa de reservatório for melhor, o preço cai", disse.
A Ampere Consultoria também trabalha com a perspectiva de bandeira amarela, tendo em vista as chuvas observadas e previstas na região Sul. No entanto, alerta que os efeitos favoráveis das chuvas aos consumidores não devem durar muito, o que podem levar a um retorno à bandeira vermelha no mês seguinte.
"Em agosto, as projeções da consultoria já indicam a possibilidade de acionamento da bandeira vermelha 2, em meio à perspectiva de retorno do PLD a valores elevados após a recessão da cheia de julho na região Sul e da boa expectativa de geração eólica e solar em agosto", disse o sócio consultor da Ampere, Guilherme Ramalho de Oliveira, explicando que a forte geração renovável prejudica o desempenho da geração hidrelétrica, influenciando no chamado risco hidrológico (GSF, no jargão setorial), outro fator de gatilho para a bandeira.
Manutenção da bandeira vermelha
É justamente o GSF que faz a consultoria PSR Energy projetar a manutenção da
bandeira vermelha 1 em julho, discordando de outras casas. Para o líder de inteligência de mercado da empresa, Mateus Cavaliere, a despeito da boa evolução da hidrologia no Sul em junho, o fato de o País estar no chamado período seco, em que o volume de precipitações é menor, faz com que a geração hidrelétrica fique reduzida. "O preço tende a ser mais leve em julho do que junho, mas o GSF tende a pesar mais", afirmou.
A previsão de bandeira vermelha 1 é compartilhada por outras empresas do setor, como a Comerc Energia e a Bolt Energy. O líder comercial da unidade varejista da Bolt, Luiz Madeira, também cita que a manutenção está relacionada ao período seco, que compromete os níveis dos reservatórios e exige maior uso de termelétricas. "Isso eleva o custo de geração de energia no País". Segundo ele, enquanto não houver uma reversão desse quadro hidrológico, a sinalização de bandeira vermelha tende a persistir.