Entenda por que a Poupança ainda é a preferida entre os investidores

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Poupança segue popular, apesar de rendimentos pouco atrativos - Envato
Poupança segue popular, apesar de rendimentos pouco atrativos

Por Fabiana Holtz

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Publicado em 26/05/2025, às 09h26 - Atualizado às 13h22

São Paulo, 26/05/2025 - A caderneta de poupança segue liderando na preferência dos brasileiros, segundo o Raio-x do Investidor, pesquisa anual produzida pela Associação  Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima). Do universo de 59 milhões de investidores, 64% dizem utilizar a poupança, com larga distância do segundo colocado, os títulos privados, que representam 17%. 

No levantamento, a entidade categorizou o público em quatro perfis. Os 'Sem Reserva', que não conseguem economizar nem investir, representaram 52% dos entrevistados. O Caderneta, perfil considerado mais conservador por deixar seus recursos na Poupança, representa 20% da população ouvida pela pesquisa que declara ter investimentos. Outros 17% disseram que Diversificam seus investimentos e 12% revelaram 'Economizar e Não investir'.

A média de idade desse público é 48 anos. Dentro do grupo que tem preferência por investir na Poupança 71% estão enquadrados na população economicamente ativa do país, que vai de 15 a 65 anos.

No ano passado, porém, a utilização da caderneta recuou de 25% para 23%, retornando ao patamar de 2021, enquanto outros produtos financeiros apresentaram estabilidade ou alta no total de investidores. Segundo a Anbima, dois fatores podem explicar essa queda. O primeiro deles é a retirada de recursos da poupança para o pagamento de contas mais emergenciais ou a troca por outros tipos de investimento, em especial aqueles que são isentos de imposto de renda.

Função pedagógica

O número ainda considerável de pessoas fiéis a Poupança, na visão de especialistas em finanças, é explicado em grande parte por fatores históricos e comportamentais. “Mesmo com a perda para a inflação, colocar o dinheiro na Poupança tem uma função pedagógica de você guardar e não tocar nesse dinheiro”, diz Ahmed Sameer El Khatib, coordenador do Instituto de Finanças da Federação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap) e professor da Unifesp.

 "No Brasil a poupança é sinônimo de segurança", diz  Marcelo Fonseca, mestre em Economia e diretor de operações na HLB Brasil, empresa de consultoria e auditoria. Em especial, ressalta Fonseca, pessoas que não estão mais em idade produtiva sabem que não será fácil recuperar uma perda expressiva de suas economias. "Portanto, é correto que sejam mais conservadoras em suas aplicações", afirma.

professor Ahmed
Ahmed Sameer El Khatib, professor da Fecap, aponta a questão emocional do apego à poupança - Foto: Acervo pessoal

Ahmed destaca que a percepção histórica da população, principalmente a mais humilde, ainda é da poupança como um guarda-chuva protetor, apesar de não trazer um ganho real que valha a pena. "Neste ponto, esbarramos na questão da ausência de educação financeira. Você precisa entender as regras do jogo para saber escolher.”

Somado a isso, o professor menciona o histórico econômico turbulento do País, com planos econômicos, confisco da poupança, hiperinflação e outros sustos. “Isso acaba pegando mais forte nas gerações de 40 anos para cima”.

E a pesquisa da Anbima nos revela que o brasileiro tem um longo caminho a percorrer na estrada da educação financeira. Um terço da população está endividada e metade dos entrevistados relatou ter sentido alto estresse financeiro ao longo de 2024. Esse índice chega a 53% na faixa etária de 44 a 63 anos (geração X). Entre os integrantes da geração seguinte, acima de 64 anos, o nível alto de estresse é menor, mas ainda chega a impressionantes 44%.

Na visão de Marcelo Milech, planejador financeiro pela Planejar e sócio da Milenium Multi Family Office, a facilidade de uso e acesso da poupança, como um produto de aplicação automática e sem cobrança de imposto de renda, somada à sua tradição com campanhas históricas que a marcam como um investimento seguro, é um sinal desse viés comportamental.

Ele, no entanto, afirma que não dá para negar que houve uma redução nos volumes da poupança ao longo do tempo, a partir do maior acesso da população a produtos financeiros diversificados e do maior nível de informação sobre o seu funcionamento. "Se por um lado, a redução nos volumes da poupança dentre o volume total de investimentos do brasileiro demonstra uma certa racionalidade, por outro, sua elevada participação também é fruto desse histórico de massificação de informação sobre esse produto", pondera o planejador.

Brasileiro ansioso

O aspecto emocional (o medo, a insegurança) é outro ponto destacado por Ahmed, que acaba prevalecendo “porque muitos brasileiros não entendem como funciona a inflação, o que seria ganho real, vão mais pela emoção”.  

Segundo ele, a educação financeira nas escolas tem começado a ajudar, mas não resolve o fator emocional. “O brasileiro é muito ansioso e isso explica o perfil conservador de boa parte da população. Seria necessário um trabalho de base para superar esse obstáculo”, conclui. “Eu, que sou da área de Finanças, precisei buscar ajuda na área da Psicologia para entender melhor o perfil do investidor brasileiro”.

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