Foto: Envato Elements
Por Gabrielly Bento
[email protected]A Páscoa é uma das datas mais importantes para o cristianismo, marcando a ressurreição de Cristo. Apesar disso, os símbolos mais populares entre as crianças e até adultos — como ovos coloridos e coelhinhos — não têm origem direta na narrativa bíblica. Eles surgem de uma mistura de tradições, lendas e interpretações simbólicas que foram se fundindo ao longo do tempo.
Uma das histórias mais conhecidas dentro do imaginário popular é a de que um coelho teria sido o primeiro ser vivo a testemunhar o sepulcro vazio de Jesus, logo ao amanhecer do domingo. A tradição sustenta que Maria Madalena, ao visitar o túmulo para ungir o corpo de Cristo, encontrou a pedra removida e, ali, um coelho teria escapado da gruta, tornando-se mensageiro da ressurreição.
Embora não haja respaldo bíblico para essa versão, ela se tornou uma narrativa simbólica difundida em diversos círculos religiosos, principalmente entre famílias cristãs com crianças. O animal, então, ganhou a missão fantasiosa de entregar ovos de chocolate na manhã de Páscoa.
Historicamente, o coelho já era visto como símbolo de fecundidade desde o Egito Antigo. Conhecido por sua alta capacidade reprodutiva — com diversas crias ao ano —, o animal se tornou uma representação do renascimento da natureza após o inverno.
No Brasil, a associação entre o coelho e a Páscoa se popularizou a partir da década de 1910, graças à influência de imigrantes europeus, especialmente os alemães. Eles trouxeram o costume de pintar ovos e escondê-los para que as crianças os encontrassem.
Muito antes do surgimento do cristianismo, diferentes civilizações já viam o ovo como representação do início da existência. Povos como os romanos e persas acreditavam que o cosmos possuía forma oval, enquanto outros, como os chineses, viam no ovo um símbolo de sorte e renovação.
Durante o equinócio da primavera no hemisfério norte, celebrado no fim de março, era comum a troca de ovos como saudação ao fim do inverno. Com o tempo, a tradição pagã foi incorporada à liturgia cristã da Semana Santa. Para os cristãos, o ovo passou a representar a vida que renasce com a ressurreição de Jesus.
O professor Marcos Aurélio, da Universidade de Brasília, destaca que o ovo simboliza o ciclo da vida e da renovação, assim como o próprio espírito da Páscoa.
“O ovo significa aquilo que há de mais simples, o ponto de partida da vida. E, ao mesmo tempo, o ovo tem a ver com a renovação, renascimento, que é o ciclo que vai se renovando. Outro símbolo no cristianismo, o Círio Pascal é uma vela bastante grande, em que ela traz a luz, que significa a vitória da vida sobre a morte. A vida é luz. Mas ele é muito restrito às igrejas", afirmou em entrevista à Agência Brasil.
Se no imaginário popular os ovos são de chocolate e o coelho virou mascote da Páscoa, dentro da Igreja Católica o verdadeiro emblema da celebração é o Círio Pascal — uma vela alta e branca, com inscrições que remetem a Cristo como princípio e fim de todas as coisas. A vela pode representar a luz de Cristo vencendo as trevas da morte e da dor da crucificação.
Assim, em meio aos chocolates e aos enfeites temáticos, a Páscoa permanece como uma celebração que transcende o tempo, unindo tradições antigas a ensinamentos religiosos em um mesmo espírito de renascimento.
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