Já pensou em ser influencer 50+? Mercado tem potencial e também desafios

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Com o avanço demográfico da população idosa no Brasil, surgem oportunidades nas redes sociais, antes dominadas por jovens - Envato
Com o avanço demográfico da população idosa no Brasil, surgem oportunidades nas redes sociais, antes dominadas por jovens
Por Alessandra Taraborelli [email protected]

Publicado em 28/05/2025, às 08h14 - Atualizado às 14h50

São Paulo, 28/05/2025 - O segmento de influenciadores está cada dia mais presente no cotidiano. Basta abrir qualquer rede social que logo você encontra alguém falando sobre um produto, dando dicas de alguma coisa ou, simplesmente, falando sobre temas de que gostam. Provavelmente, você também já deve ter se perguntando se ainda há espaço para novos influenciadores. E a resposta é: sim, há um grande potencial para os 50+.

Segundo dados do o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2000 a 2023, a proporção de idosos (60 anos ou mais) na população brasileira quase duplicou, subindo de 8,7% para 15,6%. Em 2070, cerca de 37,8% dos brasileiros terão mais de 60 anos. Ou seja, essas pessoas, em boa parte, serão responsáveis pela dinâmica econômica, política e social do País.

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"Esse segmento tem potencial para crescer, e não é uma aposta", Christian Rôças – CEO da Flint.me - Foto: Divulgação

E o público 50+ está online, consome conteúdo, compartilha, opina — e agora começa a criar conteúdo com consistência.

“Esse segmento tem potencial para crescer, e não é uma aposta: é uma resposta a uma mudança demográfica e cultural. O potencial está justamente na combinação entre repertório, credibilidade e tempo de atenção qualificado”, afirma Christian Rôças, CEO da Flint.me, editora multiplataforma de educação e entretenimento focada na economia dos criadores, e um dos maiores especialistas em redes sociais do Brasil.

Rôças cita dados do Digital 2023 Brazil (DataReportal), que mostram que o tempo médio diário online gasto por pessoas entre 50 e 64 anos no Brasil já ultrapassa 5 horas.A rede TikTok, por exemplo, obteve um crescimento de mais de 500% na presença de criadores 50+ entre 2020 e 2023.

50+ à margens das marcas

Rôças chama atenção para o fato de o mercado ainda não olhar para este segmento com o olhar que ele merece. “O mercado ainda olha para a influência como um fenômeno jovem, mas isso não reflete mais o comportamento real das redes. A faixa 50+ já é produtora de conteúdo, não apenas consumidora. E quando decide ocupar esse espaço com intenção, traz algo que poucos têm: repertório e credibilidade. O desafio não é fazer essas pessoas entrarem nas redes, é o mercado deixar de subestimar o que elas representam”, avalia o especialista.

A mesma percepção é corroborada pela sócia-fundadora do instituto de pesquisas Data8, Cléa Klouri. Ela lembra que 54% do público 50+ sente falta de produtos e serviços voltados para esse segmento, conforme pesquisa da Silver Makers, outra empresa do grupo.

“As marcas estão deixando de falar com 27% do público, 50+ que está no Brasil. As marcas precisam olhar para isso e precisam entender que esse perfil tem características um pouco diferentes do que as outras gerações", explica Klouri.

É um público mais seletivo, mais crítico, que pesquisa mais e que quer ser considerado. Se você conquistar o 50+, é um público fiel”.

A pesquisa de diversidade realizada pela Silver Markers entre junho e julho de 2024 mostrou que os influenciadores digitais maduros estão em todas as plataformas nas diversas regiões do País e com vários tipos de conteúdo. Para o levantamento foram ouvidos cerca de 900 influenciadores com mais de 45 anos.

A executiva ressalta ainda que o influenciador traz autenticidade para uma marca. “Quando ele faz uma recomendação de uma determinada marca que ele usa, traduz aquilo com muita naturalidade e de uma forma bastante criativa. Isso aproxima a marca, porque ele conversa com a sua audiência de uma maneira orgânica, natural”, observa.

Agora, se você está pensando em se jogar para o mundo dos influenciadores: prepare-se. Embora seja um mercado em ascensão, ainda há tabus a serem superados.

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Os 50+  desempenham um papel crucial ao desafiar estereótipos e promover a inclusão", Cléa Klouri, sócia-fundadora do Data8 - Foto: Divulgação

Esses influenciadores enfrentam uma tarefa complexa de navegar por múltiplas camadas de discriminação e preconceitos. Eles desempenham um papel crucial ao desafiar estereótipos e promover a inclusão, mas muitas vezes precisam superar obstáculos significativos para obter reconhecimento e construir uma audiência", explica Klouri.

A pesquisa mostrou que o Instagram é a rede mais usada por pessoas mais velhas, seguido de Facebook, Tik Tok e Youtube. Também foi identificada diversidade nos conteúdos. O principal tema é comportamento, seguido de cultura, ativismo, moda, saúde e bem-estar, estilo de vida, beleza e maquiagem, empreendedorismo, carreira, viagem e turismo, entre outros.

Influenciadora: caminho desafiador

Rosangela Marcondes, criadora de conteúdo digital, conta que começou nas redes sociais em 2013, após passar pela síndrome do ninho vazio, quando os filhos saem de casa em busca de seus objetivos. Com 58 anos, pensou no que iria fazer a partir daquele momento.

Em conversa com a filha, ela sugeriu que a mãe criasse uma página na internet para falar sobre o que ela quisesse e gostasse. Ela gostou de ideia e começou a pensar no nome da página, que foi lançada no Facebook como “Domingo Açucarado”. O nome surgiu a partir de um livro que Marcondes estava lendo e que falava sobre os domingos. Em dois meses a página chegou a 2 mil e logo conseguiu atingir mais de 100 mil seguidores.

Em 2015, Marcondes começou a estudar sobre longevidade, gostou e resolveu, por meio deste tema, inspirar pessoas a fazerem coisas que nunca tinham feito antes. Em 2018, foi criado no Instagram o @It_avo. “Quis entrar no Instagram porque hoje os avós são diferentes, eles não ficam só em casa cuidando dos netos. Falo de coisas que tenho paixão, mesmo que alguns gostos me tirem do palco de ser perfeita. Eu não sigo roteiro, minha página flui do jeito que eu entendo que deve ser”. 

Mulher sorrindo
"Eu sempre digo: você é muito bobo de não falar comigo", criadora de conteúdo digital - Reprodução/Instagram/@it_avo

Mas exatamente por não abrir mão de seguir o que gosta, a influencer admite que hoje não é mais convidada para fazer determinadas campanhas. No começo, a renda obtida em campanhas gerou dinheiro para viajar por 20 dias. E dá um recado para as marcas:

Ela afirma ainda que as marcas ao não falar com ela, estão perdendo. “Eu sempre digo: você é muito bobo de não falar comigo. Quando você fala comigo, está falando com uma mulher que decide coisas para a filha, de quase 50 anos e para a mãe, que tem 80 anos. Então, é um desperdício das grandes empresas não nos prestigiarem. Vejo que as marcas estão preferindo as pautas velhas”, avalia.

Por falar em monetização, os especialistas apontam que antes de pensar em ganhar dinheiro com as redes sociais é preciso construir uma comunidade. A partir daí, abrem-se caminhos como branded content, com marcas que querem reputação e não só alcance, produtos próprios (consultorias, mentorias, cursos), presença em mídia e eventos. A creator economy para 50+ se sustenta menos na viralização e mais no vínculo.

Como começar a ser influencer

O CEO da Flint.me, Rôças compartilha algumas digas para quem está pensando em se tornar um influencer:

  • Comece com o que você sabe — mas se disponha a aprender o que ainda não domina;
  • Invista em clareza de mensagem e constância de presença;
  • Não se preocupe em “parecer digital”, e sim em construir uma comunicação que traduza sua identidade;
  • Use a tecnologia a seu favor, mas não abra mão da escuta humana.

O que é preciso para ser notado?

Visibilidade é consequência de clareza estratégica. É preciso definir com precisão quem você é, o que oferece e como isso se traduz em valor para uma audiência. Não basta aparecer: é necessário aparecer com intenção, frequência e coerência com o que se representa.

Quais temas ajudam a engajar o público 50+?

Temas que cruzam vivência e atualidade. Narrativas de recomeço, longevidade com autonomia, saúde com propósito, tecnologia acessível, educação financeira, consumo consciente e tudo que dialoga com o tempo vivido e o tempo que ainda se quer viver.

Mas, mais importante do que o tema, é o ponto de vista. O que engaja é a escuta qualificada e a confiança construída com consistência.

Conheça alguns influencers 50+

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