São Paulo, 22/10/2025 - Representantes dos maiores bancos do Brasil ressaltaram múltiplos desafios gerados pela popularização das apostas online no País e pediram mais clareza do setor público na definição das bets que operam ilegalmente. O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, definiu as apostas esportivas ilegais como uma vulnerabilidade do sistema financeiro. Para ele, desde a legalização das bets, os riscos de ilícitos financeiros "explodiram"
O tema foi discutido durante painel do 15° Congresso de Prevenção à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo (PLDFT), da Federação Brasileira de Bancos (
Febraban), em São Paulo. O superintendente-executivo de PLDFT do Bradesco, Alceu Del Petri Filho, afirmou que, atualmente,
há aior volume de dinheiro circulando em esquemas ilegais de apostas do que no segmento legal.
Segundo ele, bancos, governo e reguladores precisam acelerar esse debate, inclusive na declaração das casas de apostas legais e ilegais. "Para nós, [o assunto] é muito sério. Que consigamos caminhar para que essa seja uma agenda forte em 2026", destacou.
Em março, o governo publicou uma portaria que obriga instituições financeiras a notificarem a secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) do Ministério da Fazenda sobre contas suspeitas de operar em casas de apostas ilegais. "O problema é que elas [as instituições] não sabem ainda o que é a casa de apostas ilegal", explicou o diretor responsável por PLD/FTP no Itaú Unibanco, Vinicius Santana.
Origem do dinheiro
Executiva na Unidade Segurança Institucional do Banco do Brasil, Núbia Tavares também comentou que o segmento ilegal vem crescendo no Brasil, principalmente por conta do cenário fragmentado de plataformas de bets. "O desafio é muito grande de identificar a origem do dinheiro e o benefício final", ressaltou.
Sidney opinou que o Estado "errou bem a mão" ao legalizar os jogos online. No entanto, a atividade passou a ser legitima após a legalização, na visão dele. "O que temos de fazer é fortalecer os nossos laços contra qualquer trilha que faça do que é legal o ilegal", defendeu Sidney.
Ele acrescentou que os bancos precisam manter vigilância com recursos ilícitos associados a apostas e exigir que todos os agentes do setor financeiro atuem com rigor nessa frente. Ele lembrou que o crime organizado agora também atua em cadeias lícitas da economia brasileira.
O presidente da Febraban também chamou atenção para os riscos ligados ao trânsito de grandes valores em espécie.
"Os bancos defendem, com muita convicção, a criação urgente de uma lei federal que permita bloquear operações suspeitas e proteger o sistema financeiro. Não há mais espaço para permissividade", disse.
Segundo Sidney, o setor bancário exige "celeridade e efetividade" em reformas legais e regulatórias para dar mais agilidade à resposta do sistema ao crime financeiro. "O compartilhamento de informações entre bancos, Banco Central, COAF e órgãos públicos é vital para antecipar ações estratégicas e fortalecer a resposta rápida aos desafios", destacou, ao dizer que a omissão não pode ser "tolerada" pelo setor público e a sociedade.
Instituições frágeis
O presidente da Febraban reconheceu hoje que a abertura do setor financeiro é importante para a indústria como um todo. No entanto, Sidney alertou para a "proliferação" de instituições que se mostram "frágeis e vulneráveis" nos processos de combate ao crime financeiro.
Sidney disse que investigações recentes escancaram "a gravidade do cenário sombrio" e que os bancos estão atento a esse momento. De acordo com ele, o sistema financeiro enfrenta desafios inéditos.
"Teremos de ser intolerantes com todas as brechas na entrada, na permanência e na exclusão dos criminosos travestidos de clientes. Precisamos elevar integridade do setor"
Isaac acrescentou que os bancos têm reforçado barreiras de entrada do crime e exigem um padrão comum de vigilância para todos os elos do setor. Segundo ele, as instituições bancárias resistem contra quem age de forma "inescrupulosa" para manchar a imagem do setor.