Lula: mundo resiste a aceitar que diversificação energética é chave para segurança

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Lula se encontrou com o premiê do Canadá, Mark Carney; mais tarde, deixou a Cúpula do G7 e antecipou seu retorno ao Brasil - Ricardo Stuckert / PR
Lula se encontrou com o premiê do Canadá, Mark Carney; mais tarde, deixou a Cúpula do G7 e antecipou seu retorno ao Brasil

Por Aline Bronzati, do Broadcast, enviada especial

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Publicado em 17/06/2025, às 20h00
Kananaskis, Canadá, 17/06/2025 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dedicou parte do seu discurso na sessão ampliada da Cúpula do G7, no Canadá, para tratar da crise climática e da agenda de transição energética. "A mudança do clima não espera, nem pode ser combatida sem esforço coletivo", disse ele, nesta tarde.
 Lula afirmou que os choques dos anos 1970 mostraram que a dependência de combustíveis fósseis "condena o planeta a um futuro incerto", mas que o Brasil não vai repetir os erros do passado. "O mundo resiste a aceitar que a diversificação é chave para a segurança energética", afirmou.
Ao falar a uma plateia de peso da comunidade internacional, incluindo boa parte dos membros do G7, além de convidados, o presidente brasileiro enfatizou o avanço do Brasil na pauta da transição energética.
"O Brasil foi o primeiro país a investir em larga escala em alternativas renováveis. 90% de nossa matriz elétrica provém de fontes limpas", enfatizou.
 De acordo com ele, o País está na vanguarda na produção do hidrogênio verde e do combustível sustentável de aviação. Lula chamou ainda atenção para o fato de que a expansão de parques eólicos e solares e a descarbonização do setor de transportes e da agricultura dependem de minerais estratégicos. "É impossível discutir a transição energética sem falar deles e sem incluir o Brasil", afirmou ele, durante discurso, realizado nesta tarde, durante a Cúpula do G7.
O presidente brasileiro reiterou a promessa do Brasil de reduzir suas emissões entre 59% e 67% até 2035 e convidou os participantes para a COP 30, a ser realizada em novembro em Belém (PA). Para ele, o evento será um teste para os líderes globais.

Nióbio

Segundo Lula, o Brasil possui a maior reserva mundial de nióbio. O produto costumava ser citado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro como argumento para defender a mineração em áreas conservadas na Amazônia.  "Durante séculos, a exploração mineral gerou riqueza para poucos e deixou rastros de destruição e miséria para muitos. Ela não deve ameaçar biomas como a Amazônia e os fundos marinhos", afirmou.
 Ele defendeu que os países busquem parcerias baseadas em benefícios mútuos e não em disputas geopolíticas. "Se a rivalidade prevalecer sobre a cooperação, não existirá segurança energética. Tampouco haverá segurança energética em um mundo conflagrado", enfatizou Lula.
Presente na sessão, o primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, destacou a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na agenda de desenvolvimento sustentável.
"Temos uma agenda muito importante juntos, é um sinal de maturidade do G7 que nos unamos (para tratar de) problemas comuns em segurança energética, oportunidades comuns em novas tecnologias, a necessidade de suprimentos confiáveis e minerais críticos que esta mesa pode produzir e maneiras de encontrar parcerias para o verdadeiro desenvolvimento e, sob seu controle, presidente Lula, desenvolvimento sustentável", disse.

Conflito no Oriente Médio

No discurso, Lula tambem abordou os conflitos no Oriente Médio e disse que os recentes ataques de Israel contra o Irã podem tornar a região um "único campo de batalha" e causar consequências globais "inestimáveis". O pronunciamento teve ao menos oito versões e recados diretos, mas sem nomeações, para líderes globais, a exemplo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.
De acordo com Lula, o fato de ainda existir países que resistem a reconhecer o Estado palestino evidencia a "seletividade na defesa do direito e da justiça". "Em Gaza, nada justifica a matança indiscriminada de milhares de mulheres e crianças e o uso da fome como arma de guerra", afirmou Lula.
O presidente brasileiro criticou os gastos militares no valor de US$ 2,7 trilhões e que, na sua visão, poderiam ser investidos no combate à fome e na transição justa. "Ano após ano, guerras e conflitos se acumulam. Os gastos militares consomem anualmente o equivalente ao PIB da Itália", comparou.

Ucrânia e Haiti

Quanto ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia, Lula instigou as lideranças globais. Disse que todos os presentes na sessão ampliada do G7 sabem que nenhum dos lados conseguirá atingir seus objetivos pela via militar. Além do Brasil, Austrália, Ucrânia, Coreia do Sul, México e Índia foram convidados para participar da cúpula neste ano. "Só o diálogo entre as partes pode conduzir a um cessar-fogo e pavimentar o caminho para uma paz duradoura", sugeriu.
 Ele mencionou ainda o Haiti, onde a comunidade internacional "permanece indiferente" ao "cotidiano de caos e atrocidades perpetradas pelo crime organizado".
Lula reconheceu o desafio de enfrentar essas ameaças, mas voltou a criticar a falta de liderança no cenário atual. Para ele, é o momento de devolver o protagonismo à Organização das Nações Unidas (ONU), com a liderança do secretário-geral, António Guterres, de um grupo representativo de países comprometidos com a paz. "Não subestimo a magnitude da tarefa de debelar todas essas ameaças. Mas é patente que o vácuo de liderança agrava esse quadro", concluiu Lula.
Posteriormente, o presidente deixou a Cúpula do G7, realizada nas montanhas canadenses, e antecipou seu retorno a Brasília.

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