Brasília, 08/07/2025 - O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, voltou a defender nesta terça-feira que é importante ampliar o acesso da população a linhas de crédito de menor custo. Linhas com juros muito altos diminuem a sensibilidade do crédito à política monetária, ele destacou.
"Temos de tentar facilitar o acesso a essas linhas de crédito, que são adequadas para o problema das pessoas", disse o banqueiro central, durante palestra em um evento da Frente Parlamentar de Empreendedorismo (FPE), em Brasília.
Galípolo voltou a defender que é necessário "normalizar" a política monetária do Brasil. Ele repetiu que há indícios de entupimento nos canais de transmissão da taxa Selic para a economia, o que exige juros mais altos do que em países semelhantes.
"O tema que geralmente causa estranheza quando você conversa com outros economistas de outros países, especialmente outros banqueiros centrais, é como é o Brasil convive com taxas de juros num patamar mais elevado, e ainda assim consegue performar do ponto de vista de apresentar uma atividade econômica dinâmica", disse Galípolo.
O presidente destacou que alguns subsídios cruzados parecem ter impacto na transmissão da política monetária. Ele citou como exemplo o uso do crédito rotativo pelas famílias. Como os juros da modalidade superam em muito a Selic, eles são pouco sensíveis à taxa básica.
"Subir de 10% para 15% [a Selic] tem basicamente o mesmo efeito para o cara que está pagando uma taxa de 300%. A sensibilidade é baixa", disse o banqueiro central.
O presidente do BC mencionou, ainda, que uma série de empresas no Brasil consegue emitir títulos de dívida com juros menores do que os de emissões do Tesouro Nacional. Também citou o financiamento imobiliário, dependente da caderneta de poupança, que rende menos do que a taxa básica de juros e cujo financiamento vem caindo estruturalmente, segundo ele.
"Como a gente consegue desfazer algumas dessas distorções? Não vai ser simples", disse Galípolo. "Nesse caso, não vai ter uma bala de prata."
O banqueiro central destacou que a comunicação sobre política monetária tem um dialeto próprio, e disse que é importante que os bancos centrais possam se comunicar também com a sociedade como um todo.
"A obrigação é do Banco Central de conseguir modular o seu discurso, conseguir amplificar e atingir uma camada maior da sociedade a partir da sua comunicação e da informação", disse Galípolo, ponderando que é necessário segmentar a comunicação.
Fatores como a prevenção de golpes de fraudes também exigem uma nova comunicação, mais aberta, ele afirmou.