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Publicado em 31/05/2025, às 08h00
São Paulo, 31/05/2025 - Embora o Brasil seja referência internacional no controle do tabaco, com políticas reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), dados preliminares divulgados pelo Ministério da Saúde nesta semana indicam tendência de crescimento no tabagismo nas capitais e no Distrito Federal, com aumento de 11,7% para 13,8% na população adulta. Entre mulheres, a alta estimada é de 36%; entre homens, de 18%.
Também há propensão de crescimento do uso de cigarros eletrônicos. A prevalência entre adultos passou de 2,1% em 2023 para 2,6% em 2024. Nesse caso, o uso é mais comum entre jovens de 18 a 24 anos, com 6,1% declarando consumo. Os dados fazem parte de uma apresentação realizada pela Pasta no dia 28 em alusão ao Dia Mundial Sem Tabaco de 2025, comemorado hoje, e ainda serão consolidados antes da divulgação oficial da pesquisa Vigitel 2024, inquérito telefônico anual que monitora fatores de risco para doenças crônicas.
Segundo a pesquisa, 9,3% da população adulta brasileira se declarou fumante, o equivalente a cerca de 19,6 milhões de pessoas, com prevalência maior entre homens (11,7%) do que entre mulheres (7,2%). Além disso, para cada R$ 1 de lucro da indústria do tabaco, o Brasil gasta R$ 5 com doenças causadas pelo fumo.
Em nota, o Ministério da Saúde disse que oferece tratamento gratuito para cessação do tabagismo em Unidades Básicas de Saúde (UBS), com apoio multiprofissional, ações educativas e oferta de medicamentos como adesivos de nicotina, goma de mascar e bupropiona. Também disse que fortalece medidas como ambientes livres de fumaça, proibição da propaganda de cigarros e campanhas permanentes de conscientização, coordenadas pelo Programa Nacional de Controle do Tabagismo.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o tabagismo causa cerca de 156 mil mortes anuais no Brasil, o que representa aproximadamente 18% do total de mortes por doenças crônicas não transmissíveis. Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta o vício como uma das maiores ameaças à saúde pública global, causando a morte de mais de 8 milhões de pessoas anualmente.
Embora os danos à saúde sejam amplamente conhecidos, com o aumento do risco de doenças cardiovasculares, respiratórias e diversos tipos de câncer, o processo de cessar o tabagismo é desafiador e demanda compreensão, suporte emocional e empatia.
Nesse sentido, o psicólogo Marcelo Matias destaca a importância de abandonar o olhar moralista e punitivo sobre o tema. “Mais do que uma questão de força de vontade, parar de fumar é uma jornada pessoal que envolve vínculos, memórias, hábitos e, muitas vezes, questões emocionais profundas. Nosso papel, como profissionais e como sociedade, é oferecer acolhimento, não julgamento.”
Martim Medeiros Junior, médico da família do Santa Marcelina Saúde, explica que fumar enfraquece o sistema imunológico, tornando o corpo mais suscetível à infecções e doenças. O uso do tabaco está relacionado com o desenvolvimento de diferentes tipos de câncer, incluindo o câncer de laringe, cavidade oral, estômago, cólon e reto, traqueia, brônquios e do pulmão.
Os fumantes têm maior probabilidade de contrair gripes, resfriados e outras infecções respiratórias. “O tabagismo acelera o envelhecimento da pele devido à redução do fluxo sanguíneo e ao dano ao colágeno, além de aumentar o risco de doença arterial coronariana, que pode levar ao infarto do miocárdio e acelerar o desenvolvimento de placas de ateroma nas artérias”, aponta.
Medeiros Junior explica que parar de fumar reduz significativamente o risco de doenças graves. Em apenas um ano após a cessação, o risco de doenças cardíacas cai pela metade. Após cinco anos, o risco de câncer de pulmão é reduzido pela metade em comparação com os fumantes contínuos. “Além dos benefícios para a saúde, deixar de fumar também pode melhorar a qualidade de vida, aumentar a capacidade respiratória e reduzir os custos financeiros associados ao consumo de tabaco”.
O hábito é tão nocivo à saúde que afeta até pessoas que passaram por cirurgias de transplante capilar. De acordo com a presidente da Associação Brasileira de Cirurgia da Restauração Capilar (ABCRC), Anna Cecília Andriolo, pesquisas mostram que pacientes que interrompem o tabagismo pelo menos quatro semanas antes da cirurgia apresentam uma melhora de 19% nas condições de saúde, devido ao aumento do fluxo sanguíneo para órgãos essenciais.
“O cigarro contém milhares de substâncias tóxicas que aumentam as chances de infecção e necrose tecidual. O ideal é parar de fumar, mas, se isso não for possível, recomenda-se suspender o consumo por pelo menos um mês antes do transplante capilar e, se viável, também durante o período de recuperação”, ressalta Andriolo.
A médica cita ainda dados da OMS mostrando que fumantes têm um risco muito maior de desenvolver complicações após cirurgias, incluindo problemas cardíacos e pulmonares, infecções e cicatrização tardia ou deficiente. Esses fatores podem impactar diretamente o sucesso do transplante capilar, comprometendo a vascularização da área tratada e a fixação dos folículos capilares.
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