Divulgação/Assaí Atacadista
Publicado em 25/09/2025, às 08h59 - Atualizado às 09h38
São Paulo, 25/09/2025 - A rede paulistana Assaí Atacadista deu um passo importante na dinamização da equipe a nível nacional: a criação de vagas para pessoas com mais de 50 anos e atuação na formação constante destes profissionais. Hoje, 10% do quadro de funcionários da empresa é composto por trabalhadores mais velhos e isso começou há quatro anos, no setor do açougue.
“Em 2021, começamos a implementar o serviço de açougue nas lojas e, quando fomos olhar o perfil, entendemos que precisávamos de pessoas mais experientes. E, consequentemente, a gente se deparou com profissionais 50+”, conta a VP de gestão de gente e sustentabilidade, Sandra Vicari.
Nesta iniciativa de olhar para profissionais mais maduros, a rede percebeu que os trabalhadores tinham um know-how diferenciado, em comparação com os mais novos.
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“Aos poucos, eles começaram a atuar muito como formadores dessa mão de obra mais nova. Além da interação com os clientes, que sempre foi muito positiva.”
Segundo Vicari, os açougueiros 50+ trazem mais serenidade, equilíbrio e comprometimento. Essa também é a percepção de Manuel Henrique Farias Ramos, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Carnes Frescas do Estado de São Paulo e presidente do Conselho Deliberativo Estadual do Sebrae-SP, que categoriza os profissionais mais velhos como “experientes".
“Os mais maduros apresentam uma qualidade de serviço excelente. Eles podem até ter alguma dificuldade com tecnologias mais modernas, mas têm ampla experiência na tomada de decisões, já que não estão contaminados a recorrer o tempo todo ao algoritmo e inteligência artificial em busca de respostas.”
Erinalda Lopes, 53, começou a trabalhar como açougueira em 1997, em uma época em que a profissão era marcada por um trabalho mais braçal, sem uso difundido de equipamentos de proteção individual (EPIs). Há dois anos, entrou para a coordenação da equipe de açougueiros na unidade do Assaí da Marginal Tietê, em São Paulo capital. “É muito gratificante ensinar os meninos. Tem gente que instrui lá atrás que vejo crescendo e trabalhando pelos corredores”, relata.
O vice-presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Marcio Milan, reforça a impressão que a profissão de açougueiro é preenchida, em sua maioria, por profissionais com mais de 50 anos. “Quando comparamos com o restante dos trabalhadores da loja, a faixa etária dos açougueiros é maior. Primeiro porque é uma profissão que exige uma experiência maior nas áreas de preparo e manejo, com formações e capacitações especificas”, aponta.
Milan relembra que o supermercado é tradicionalmente lembrado como o local do primeiro emprego, uma lógica que se manteve, mas que não impediu as equipes de se tornarem multigeracionais. “O supermercado ocupa esse espaço de primeiro cargo e fazer a capacitação dos jovens dentro do açougue é uma das estratégias de negócio. Porém, o setor está mudando, e os mais novos procuram hoje trabalhos mais flexíveis, logo as empresas se movimentam à procura de uma faixa etária maior.”
Já Erlon Ortega, presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), defende que todos os setores dos supermercados foram impactados pelos mais velhos, devido ao desinteresse dos mais novos na lógica de trabalho tradicional. “Hoje, os profissionais do açougue não são os mais jovens. Notamos que os mais novos buscam flexibilidade na carga horária, algo que, neste momento, os supermercados não conseguem suprir”, disserta.
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“Eles não querem o velho formato, querem estudar, empreender e fazer outros serviços nas horas vagas”, conclui Ortega. Mesmo nos cursos formativos para açougueiros, a média das idades costuma ser mais alta, como explica o vice-presidente da Abras. “Na nossa escola, notamos que a faixa etária dos nossos alunos costuma ser em torno de 35 a 40 anos, o que demonstra uma mudança na lógica da profissão”, demonstra.
A Escola Nacional de Supermercados da Abras oferece 30 cursos formativos gratuitos, cinco deles ligados ao trabalho de açougue. Os módulos são disponibilizados on-line, com temas que abordam boas práticas no trabalho, manipulação de alimentos, questões de higiene e atendimento ao cliente. Instituições como o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) também oferecem cursos de açougueiros espalhados nas mais diversas unidades federativas do País, em parceria com a Abras.
O setor de açougue nos supermercados está em alta, de acordo com informações da Abras. Nos últimos 10 anos, a participação dos açougues no faturamento dos supermercados brasileiros foi de 8%. Entretanto, há quatro anos, o impacto se estabilizou em torno de 12%, segundo Milan. Em 2024, o consumo das famílias no varejo de alimentos foi de R$ 1,067 trilhão, o que representa 9,12% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. A informação é do ranking anual da associação.
A nível nacional, as vagas disponíveis atualmente chegam a 357 mil, com 30 mil destinadas aos açougueiros, ainda de acordo com o vice-presidente. No ano passado, 9 milhões de profissionais trabalhavam em supermercados, em 424,1 mil lojas espalhadas pelo País.
“Hoje, o supermercado procura o trabalhador. Isso se inverteu com o passar das décadas. Ou seja, as empresas precisam fazer um movimento muito grande em busca de profissionais capacitados para conseguir dar vazão a essas vagas, com campanhas de contratação que instiguem a diversidade das equipes.”
O próprio preço da carne bovina, nesta época apresentando grande oscilação por corte, conforme mensurado pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC), não afasta o consumidor brasileiro das prateleiras do mercado.
“Em condições normais, todo ano, o movimento da carne bovina atinge o pico lá pelo final do ano. Estamos sofrendo com as consequências das mudanças climáticas, que afetaram consideravelmente o setor em 2024, mas os efeitos do ‘tarifaço’ foram suavizados pela compensação de exportações para outros países, o que naturalmente aumentará o preço para o consumidor final”, explica o coordenador do IPC, Guilherme Moreira, Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
Mesmo com a previsão de aumento nos preços, o pesquisador explica que o consumo de carne bovina é cultural no Brasil. “Estamos vivendo um período das menores taxas de desemprego da história do País. Mesmo com o poder de compra reduzido pela inflação alta, não estamos em uma situação de queda forte na renda. Existe uma demanda muito grande do brasileiro pela carne bovina. Em termos mais simples, o consumidor não vai deixar de fazer o churrasco de fim de ano porque a carne está mais cara”, exemplifica Moreira.
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