São Paulo, 08/09/2025 - Fundada há cinco anos, a Silver Hub é um polo de aceleração focado na premissa de que a economia da longevidade é o futuro. Marcos Ferreira, cofundador e presidente do Conselho da aceleradora, conta que a ideia para o hub surgiu da constatação de que a maturidade profissional, muitas vezes, é vista como um fim de carreira, quando na verdade, pode ser um novo começo.
Com mais de 20 anos de experiência no setor de seguros, especialmente com produtos de previdência privada, relata que via desânimo em muitos clientes após a aposentadoria. "Para esses caras, mesmo com uma boa situação financeira, parecia que a vida tinha perdido um pouco o sentido para eles", conta.
A participação em um negócio, então, poderia ser uma nova etapa profissional dessas pessoas. Ele próprio, com a criação da Silver Hub deu um novo direcionamento para a fase que ele chama do pós-carreira, quando deixou a carreira executiva. A empresa hoje possui um portfólio de nove startups em aceleração e busca soluções tecnológicas e inovadoras para uma população que vive cada vez mais.
O modelo de negócio se baseia menos no investimento financeiro e mais no que ele chama de "capital de conexão". De um portfólio de nove startups, apenas uma recebeu investimento direto, enquanto as outras oito são associadas.
"Não é só a grana que interessa para os empreendedores. É a rede de conexões que as aceleradoras podem colocar à disposição."
A Silver Hub organiza um ou dois editais por ano para selecionar projetos e atua como uma ponte entre os empreendedores e as grandes empresas, levando o tema da longevidade para além da "bolha" de especialistas.
Veja a seguir duas empresas do portifólio da Silver Hub, voltadas ao público 50+, que partiram do mesmo ponto, tratar das dores do envelhecimento:
As memórias de quem fica: conheça a Misyu
A experiência ou as dores de uma pessoa podem, eventualmente, ser fontes de inspiração para a criação de um negócio. E isso vale para qualquer tipo de empreitada. Foi o que ocorreu com Mario Cassio Maurício: aos 49 anos ele finalmente começou a transformar a dor pela perda do pai em um negócio com propósito, a Misyu.
Trata-se de uma plataforma que é uma espécie de cápsula do tempo: oferece um serviço para que as pessoas possam registrar e compartilhar seus legados, tanto materiais quanto emocionais, memórias e desejos a fim de serem entregues aos seus entes queridos em momentos estratégicos no futuro, quando já não estiverem mais presente.
Tudo começou em 2003. Ao organizar os pertences do seu pai recentemente falecido, ele encontrou uma secretária eletrônica. Veio o desejo de ouvir a voz do pai e passou a escutar as mensagens. “Foi muito importante, porque a primeira coisa que eu tinha perdido do meu pai, quando ele estava vivo, foi a voz”, conta, lembrando o enfrentamento de um câncer de tiróide e o procedimento de traqueostomia a que havia sido submetido e o deixou sem poder falar. “E a primeira coisa dele que eu recuperei foi a voz", conta. "Aí veio uma sensação em mim assim: poxa, imagina se tivesse alguma coisa (mensagem) aqui para mim."
Diante dessa situação, foi levado a pensar na importância de deixar mensagens e memórias para aqueles que ficam.
“Por que não podemos planejar alguma coisa para quando não estivermos mais aqui?”, pensou.
Embora a ideia tenha sido plantada naquela época, Maurício, então um profissional no mercado de seguros, só a tirou do papel em 2018, após apresentar a proposta em um evento do Google, que validou o potencial do projeto.
“O negócio nasceu como uma plataforma, onde se poderia deixar o que você gostaria de dizer para as pessoas, quando você não estivesse mais aqui. Basicamente era essa a ideia”, lembra.
O nome da startup então era "Meu último desejo”. Mas ele conta que a pandemia intensificou a proximidade da morte e o luto, impulsionando a necessidade de as pessoas se prepararem para o futuro. “A pandemia trouxe uma outra realidade, que não conhecíamos, pelo menos na nossa geração”, referindo-se ao fato de ela levar as pessoas a pensarem na morte e no futuro.
Mario Cassio Mauricio fundou a Misyu em 2018, a partir da "saudade" de ouvir a voz do pai - Foto: Divulgação
Foi nesse momento que o projeto se transformou em Misyu (algo como "miss you", do inglês), e expandiu sua missão, abraçando também a vida e o conceito de "saudade" de pessoas vivas.
“Hoje, ela é muito maior do que isso, porque passou por aceleração e evolução”, afirma o empresário.
Assim, a Misyu funciona como uma espécie de cofre digital. Nele, o usuário pode armazenar mensagens em vídeo, fotos, áudios, documentos e até mesmo testamento. De acordo com o seu fundador, a plataforma, construída em nuvem, garante segurança, disponibilidade e escalabilidade.
O envio das mensagens é planejado de acordo com três pilares: o que (o conteúdo), para quem (os destinatários) e quando (a data de entrega).
As mensagens podem ser agendadas para datas futuras (1, 5 ou 10 anos) ou para serem enviadas após o falecimento do usuário.
Ao se inscrever na plataforma, o cliente também indica dois tutores, que têm a missão de comunicar o falecimento dos clientes. Maurício ressalta que eles não têm acesso ao conteúdo das mensagens.
A Misyu, que inicialmente atuava voltada ao consumidor final, se direcionou para mundo corporativo, após o fundador constatar que o custo de aquisição de clientes (CAC) era muito alto para o valor do serviço, que custa R$ 9,99 por mês. Passou, então, a atuar como um benefício para empresas, especialmente seguradoras e corretoras, como uma ferramenta de relacionamento e retenção de clientes.
A empresa é totalmente autofinanciada, com mais de R$ 1 milhão investido por Maurício. Atualmente, a Misyu já opera no ponto de equilíbrio e vem crescendo a dois dígitos a cada ano, segundo ele. A Silver Hub, aceleradora de startups que apoia projetos 50+, fornece suporte de relacionamento e mentoria.
TechBalance para fisioterapia de prevenção
Com 20 anos de atuação em fisioterapia, a dor e a frustração por ver um grande número de pessoas, principalmente idosos, chegando para o tratamento já em um estágio avançado de debilitação, levou Fabiana Almeida a pensar na criação de uma plataforma em que a fisioterapia tivesse um caráter mais preventivo. "Eu sentia que podia fazer pouco. Aquilo me angustiava”, conta ela, que é fisioterapeuta especialista em Ortopedia e Traumatologia, palestrante em biomecânica do exercício, impactos na longevidade e qualidade de vida.
A ideia, portanto, é levar pessoas a se prepararem para ter um envelhecimento saudável e autônomo.
Fabiana Almeida é a fundadora e CEO da Techbalance, que atua no mercado B2B - Foto: Divulgação
“Se você quiser mesmo construir um processo de prevenção, tem que ser igual aposentadoria, tem de ir construindo ao longo do tempo”, diz.
Assim, em 2018 ela fundou a TechBalance justamente com o objetivo de estimular a prevenção em fisioterapia. “A necessidade de prevenção deve começar por volta dos 35 anos”, afirma Fabiana.
Também acelerada pela Silver Hub, a Tech Balance recebeu um investimento da empresa. De acordo com Fabiana, a startup saltou de uma clientela correspondente a 300 vidas, em 2020, para quase 50 mil vidas atualmente. E o break-even (ponto de equilíbrio) foi atingido nos últimos dois anos.
Um dos produtos da empresa é o Tech Safe, voltado ao público 65+, voltado à saúde motora, ajudando a recuperar a autonomia e uma vida ativa. É dirigido a operadoras de saúde e clínicas de fisioterapia, com foco na prevenção de quedas para pessoas com risco elevado. Neste caso, o gerenciamento do tratamento é feito por meio de teleatendimento ou clínicas credenciadas. Segundo Fabiana, o público 60+ corresponde a 65% dos usuários.
Outro produto é o Tech Sport, um aplicativo corporativo focado em promoção de saúde para pessoas acima de 35 anos. A pessoa segura o celular e faz um teste físico, tem um laudo automático com classificação de risco, diagnóstico músculo-esquelético e prescrição automática de exercícios. Ela é classificada em baixo, médio ou alto risco. "Se ela é baixo ou médio, ela segue no próprio app, uma lista de exercícios diários que ela vai fazer”, diz Fabiana.
A ideia é que a cada 16 e 32 sessões, de acordo com os protocolos, a pessoa se reavalia e automaticamente o sistema compara o progresso obtido. “É um app em em que você avalia, reavalia e trata no próprio app.
Em seu portfólio, a TechBalance conta empresas como Prevent Senior, Dasa, Omint, Fisiotrauma, Sabin Diagnósticos, entre outros. A empresa opera com dois modelos de negócio: mensalidade por vida para o aplicativo e um serviço adicional fee for service com equipes de fisioterapeutas.
Ela ressalta a importância desse processo, especialmente considerando o envelhecimento rápido da população brasileira e a necessidade de um modelo de saúde que não seja focado apenas na cura, mas sim na prevenção e na autonomia individual. A população brasileira hoje acima dos 50 anos está estimada em 59 milhões de pessoas, representando 27% da população, segundo dados do hub de pesquisas Data 8. E em 2030 haverá mais idosos do que crianças e adolescentes.
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