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Burocracia e custos elevados dificultam acesso a veículos adaptados

Divulgação/ Agência Senado

Carro com adesivo do símbolo internacional de surdez  está incluso nas isenções de impostos previstas em lei - Divulgação/ Agência Senado
Carro com adesivo do símbolo internacional de surdez está incluso nas isenções de impostos previstas em lei
Por Marcel Naves

14/12/2025 | 15h30 ● Atualizado | 21h32

São Paulo  14/12/2025 - As taxas caras, falta de ofertas automotivas, burocracia, limites de isenções  e uma logística de serviços ruim. Estes são apenas algumas das dificuldades enfrentadas por pessoas com deficiência que necessitam adquirir um carro adaptado (PCD). 
De acordo com o  Convênio ICMS 38/2012 apenas automóveis de até R$ 120 mil reais podem ter direito às isenções de IPVA/ICMS. Em relação ao IPI, a  Lei nº 8.989/95 determina que somente carros até R$ 200 mil ficam livres do imposto. 

Um legislação falha

A senadora Mara Gabrilli (PSD-SP) reconhece que são muitas as falhas existentes na concessão destes benefícios. O IPVA, segundo ela, por ser um tributo estadual tem regras diferentes, e isto pode limitar a concessão para algumas pessoas. 

Leia também: Isenção do IPVA para idosos? Entenda quem realmente tem direito ao benefício
No ICMS as regras são definidas pelo Conselho Nacional de Política Fazendária - Confaz. O colegiado formado pelos Secretários de Fazenda, Finanças ou Tributação dos Estados e do Distrito Federal determina desde os limites de valores até o público que tem direito a isenção. A parlamentar ressalta que isto precisa mudar.
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 Senadora Mara Gabrilli (PSD-SP) - Foto: Eduardo Tavares/Divulgação

“Tentamos por inúmeras vezes tratativas com o Confaz para mudar esse cenário, mas infelizmente são reuniões fechadas cuja decisão do colegiado, formado por secretários estaduais, deve ser unânime. Não basta haver consenso da maioria dos estados e, por isso, é um desafio mudar as regras e ampliar direitos”, disse Mara Gabrilli ao portal VIVA.

Um setor gigante

O Estado de São Paulo já chegou a registrar uma renúncia anual superior a R$ 800 milhões com isenções de IPVA para pessoas com deficiência. Após alterações legislativas que restringiram o benefício, o impacto fiscal foi significativamente reduzido, e a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2025 estima uma renúncia de aproximadamente R$ 85,8 milhões.  

A Anfavea, entidade que reúne os fabricantes de automóveis do Brasil, produziu  de janeiro a outubro deste ano cerca de 124.681 automóveis pela modalidade PCD. Os números chamam à atenção de especialistas e autoridades sobre a necessidade de mudanças na atual legislação.

O caminho para se adquirir um carro PCD


O processo se inicia com a formulação de um pedido de isenção de ICMS/IPI e IPVA. Depois é necessário fazer o agendamento junto ao Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo - IMESP, para validar as solicitações. A escolha do carro junto às concessionárias só pode ser feita depois de concluída estas etapas. Depois de comprado o automóvel devidamente adaptado é preciso realizar  a vistoria do INMETRO, que vai certificar as mudanças feitas no automóvel. Só depois de cumprida todas estas etapas é possível providenciar o emplacamento do carro. 

Classificação baseada na autodeclaração de dificuldades funcionais, conforme os critérios adotados pelo Censo Demográfico 2022.
Fonte: IBGE

O descaso com quem precisa

A  contadora Rose Lopes relata todas as dificuldades que passou a partir do momento que teve de comprar um automóvel PCD. A decisão ocorreu porque seu marido, devido a um AVC hemorrágico, ficou com o lado direito totalmente  comprometido. A compra do seu carro começou no dia 13 de outubro de 2025, mas até agora ela não conseguiu usar o veículo. O  motivo é que na cidade de Bom Jesus dos Perdões, onde ela mora, localizada a 78 quilômetros da capital paulista, não existem unidades do INMETRO para certificar o automóvel. 

Leia também: O que é IPI zero? Veja quais são os critérios para isenção do imposto sobre carros

“Como eu faço a vistoria em outra cidade com meu carro sem documentação?   A  burocracia é tanta que eu só consegui pedir isenção de impostos contratando uma empresa especializada. Nas concessionárias tive poucas opções e as que tinham eram sempre as mais caras. Durante todo este tempo precisei alugar um carro, e aí eu pergunto: Quem vai pagar esta conta?", desabafa Rose.
Os gastos mencionados por Rose quase inviabilizam os descontos que lhe são garantidos por lei. A empresa contratada para pedir isenção, devido a imensa burocracia, cobrou R$ 1.700,00. A taxa de vistoria junto ao INMETRO é de R$ 550,00 e o despachante para fazer o licenciamento não sai por menos de R$ 750,00. Somado a isto ainda estão os R$ 900,00 para à adaptação do veículo, que foi comprado por R$ 103 mil, e que  pela tabela FIPE custa R$ 120 mils. Não foram computadas despesas de locomoção tais como aluguel de carro ou uso de aplicativos. 

O que diz o INMETRO

O  Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia - INMETRO, tem contrato no Estado de São Paulo com  82 Instituições Técnicas Licenciadas. As chamdas ITL’s  são empresas credenciadas para realizar a inspeção em veículos que tiveram suas características originais alteradas. Deste total, quatro ficam na capital paulista,  as 78 unidades restantes  estão espalhadas em vários municípios.
Tomando por base que o atendimento nestas unidades depende da disponibilidade de vagas, fomos questionar o órgão sobre a necessidade de ampliar os serviços. Em nota, o INMETRO informou que, por se tratar de um processo de credenciamento, a expansão do serviço depende do interesse da iniciativa privada. O comunicado finaliza esclarecendo que qualquer empresa, desde que atenda aos requisitos da Resolução Contran nº 922/2022, pode ser licenciada pela Secretária Nacional de Trânsito.

A opinião de especialistas 

O presidente da ANAPcD - Associação Nacional de apoio às pessoas com deficiência, Abrão Dib,  reconhece que são muitos os problemas para se ter um carro PCD, entre eles  o fato de que o veículo mais em conta nunca é encontrado nas concessionárias. “Os carros mais baratos às vezes não são encontrados pelo público PCD. Infelizmente, estas questões só tendem a aumentar  com a reforma tributária que está em análise no Congresso”. Afirma o representante da ANAPcD.
Todavia, para Abrão Din a situação mais preocupante está na nova reforma Administrativa em discussão no Congresso. Para ele, se não ocorrem mudanças, os órgãos federais e estaduais continuarão dificultando ao máximo o direito garantido por lei, à isenção de impostos para pessoas com deficiência.

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