Exclusivo: É preciso fechar a porta da discriminação 50+, diz Luiz Marinho

Divulgação / Ascom Ministério do Trabalho

"O próprio vigor econômico é o principal incentivo que o governo possa dar", diz ministro do Trabalho, Luiz Marinho - Divulgação / Ascom Ministério do Trabalho
"O próprio vigor econômico é o principal incentivo que o governo possa dar", diz ministro do Trabalho, Luiz Marinho

Por Flávia Said, da Broadcast, especial para o Viva

redacao@viva.com.br
Publicado em 10/09/2025, às 15h47
Brasília, 10/09/2025 - O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, defende que a inclusão do trabalhador 50+ no mercado formal de trabalho não depende de incentivos do governo. "O próprio vigor econômico é o principal incentivo que o governo possa dar", afirmou em entrevista exclusiva ao Viva. Nas empresas, Marinho reforçou que é preciso "fechar a porta da discriminação".

Ele fez um "chamado à responsabilidade" dos recrutadores para não terem preconceito por faixa etária. Além disso, ele orientou trabalhadores com esse perfil a buscarem qualificação. "Eventualmente as pessoas têm que fazer um complemento da sua capacidade de empregabilidade. Ou seja, dar uma atualizada. Então, é buscar as entidades que têm essa possibilidade".
O ministro orienta os trabalhadores a recorrer ao Sistema Nacional de Emprego (Sine), que oferece cursos gratuitos de qualificação social e profissional aos trabalhadores, visando prepará-los para o mercado de trabalho e o empreendedorismo. Veja abaixo os principais trechos da entrevista:

Viva: Considerando a perspectiva de inversão da pirâmide etária, como o senhor enxerga a inclusão do trabalhador 50+ no mercado formal, visto que muitos deles estão na informalidade?

Luiz Marinho: Veja, toda vez que a economia se fortalece, a tendência é aumentar a formalidade. Então você pode observar os gráficos, teve um momento em que o informal era maior que o formal. Essa curva se inverteu. Deve ter na informalidade - ainda é muito alto - na ordem de 39 ou 40 milhões de pessoas e outras 48 milhões, CLT. Mais os servidores públicos, chegamos a 60 milhões de trabalhores no mercado formal. Então, é um sinal que a qualidade do mercado está melhor.
Outra questão: tem que partir também da vontade das pessoas e das empresas. Nas empresas é preciso fechar a porta da discriminação. Nós fizemos uma experiência na construção civil para a formação de pessoas em uma comunidade, porque não tinha gente (para trabalhar). Apareceu uma senhora de 62 anos;"Quero fazer". Mas para quê?, perguntaram. "Meu neto não faz nada, eu quero aprender a trocar uma lâmpada, ter segurança e tal". O que aconteceu com a senhora? Está trabalhando registrada, com carteira, direitinho.
Ter  preconceito quanto a 50+ é uma falta de inteligência dos empregadores. Então, vou fazer um chamado aqui à responsabilidade dos selecionadores, para não ter preconceito com qualquer faixa etária que tem que trabalhar.
A pessoa que está se colocando à disposição para trabalhar é porque ela se sente com a capacidade física para poder desenvolver uma atividade. Coloque essa pessoa para trabalhar, dê o contrato de experiência. Esse é o primeiro lugar. Em segundo lugar, vem a qualificação. Eventualmente, as pessoas têm que fazer um complemento da sua capacidade de empregabilidade. Ou seja, dar uma atualizada. Então, é preciso buscar as entidades que têm essa possibilidade. Vai no Sistema Sine, que pode lhe oferecer acesso às vagas cadastradas e orientação do seu perfil, para aproximar ao que o mercado está pedindo.

Há um debate entre economistas de que atualmente o idoso seria com 65 anos, em vez de 60, para poder contribuir por mais tempo no mercado de trabalho. Qual sua opinião sobre isso?

As pessoas aos 60 anos estão na sua plenitude. Na década de 30, as pessoas estavam morrendo aos 40, 38 anos. Hoje, você pode trabalhar até os 60 anos tranquilo. Veja, o que tem é o seguinte: uma coisa é o tempo para a pessoa ter o direito à aposentadoria. Até tem um debate muitas vezes sobre justiça. Bom, o regime de previdência no Brasil é de partilha, de solidariedade. Então, se eu estou trabalhando estou contribuindo para remunerar quem já trabalhou. Se eu trabalhei, adquiri minha aposentadoria, quero me aposentar; e se eu faço a opção de me aposentar e continuar trabalhando, eu tenho que continuar contribuindo. Mas as pessoas não querem. "Ah, me aposentei e quero trabalhar agora sem contribuir, porque eu já me aposentei". Espera um pouquinho, você está ocupando o lugar de alguém que estaria contribuindo. Esses conceitos têm que ser compreendidos pela sociedade. Qual tipo de previdência que eu quero? Qual segurança que eu quero para todos?

Acha que seria necessário algum tipo de incentivo por parte do governo para manter essa pessoa empregada por mais tempo, o que significaria mais tempo de contribuição para a Previdência?

Não tem incentivo. Eu acho desnecessário, porque a economia está pedindo, está exigindo. O próprio vigor econômico é o principal incentivo que o governo pode dar. É crédito para investimento, é crédito para pesquisa. Você pode ajudar a criar condições, administrar bem e dar crédito para a produção, para o consumo, para o mercado continuar aquecido. Esse é o maior incentivo que o governo pode dar. Tem muito subsídio que não dá os efeitos que se necessita. Muitas vezes, (a questão) não é o incentivo.  

O consignado privado (Crédito do Trabalhador) não prevê autorização pelo empregador, é descontado de forma automática em folha. Isso abre uma janela para fraudes. O Ministério do Trabalho prevê algum dispositivo de segurança?

Fraude? Me apresenta alguma fraude. Está cheio de dispositivos de segurança. Você é a Joaquina (por exemplo), você tem empregador ou não tem? Se não, não tem acesso ao crédito. Agora, se algum banco quiser emprestar para a Maria Luiza, que não tem empregador, que não tem nada, é problema do banco. Não é fraude. Os bancos têm seu controle. Não vai oferecer crédito para quem não tem crédito. Qual é a fraude que possa ter? Veja, é um novo produto e que tem processos, curva de aprendizado, dos bancos inclusive. Teve problemas, momento com dificuldade das tecnologias, isso tudo está sendo aperfeiçoado, aprimorado a cada tempo. A portabilidade, que virá 100% em outubro, está aí. Tudo isso vai influenciar, tem a migração dos convênios. Agora está migrando para cá e vai impactar, inclusive, na curva de juros.

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