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São Paulo, 23/06/2025 - A presença de profissionais 50+ registrou maior aumento, em termos porcentuais, em áreas de alta intensidade tecnológica. O crescimento foi de 41%, indo de 48.251 posições, em 2018, para 68.001 em 2023 – um acréscimo de 19,750. Os dados fazem parte do levantamento Afferolab/Pezco Economics, que se debruçou sobre os dados da RAIS nesse período de cinco anos. A Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) coleta informações socioeconômicas sobre o mercado de trabalho formal.
Ao se fazer um recorte, o setor de tecnologia e comunicação foi o responsável pelo maior crescimento, 53%, indo de 27.608 profissionais para 42.287, alta de 14.679 posições. O restante da movimentação se deu em serviços financeiros. No entanto, é nos setores de serviços de média intensidade tecnológica que está a maior parte dessa população: 229.512 trabalhadores, elevação de 12% em relação a 2018.
O estudo também apurou que, no geral, a maior parte dos profissinais 50+ ocupa posições de perfil técnico em diferentes setores. No total eram 239.855 cargos em 2023, ante 222.210 em 2018, o que configura uma variação de 7,94%.
No entanto, o maior crescimento se deu em posições de gerência: alta de 39,96%, passando de 57.849 para 80.965 no período.
Posições envolvendo tecnologia muitas vezes são vistas com restrições para os profissionais mais velhos, que são considerados pessoas sem contato mais frequente com o mundo digital e com maior dificuldade de aprender.
Tanto que o estudo também revelou aumento significativo de pessoas com menos de 35 anos em cargos de chefia, um crescimento puxado pelas regiões Norte (+75,9%), Sul (+70,4%) e Sudeste (+67,4%).
Na análise de Alessandra Lotufo, sócia e managing director da consultoria Afferolab, o que está ocorrendo é uma nova geração de líderes que assumem responsabilidade antes de acumular décadas de experiência formal, em consequência do grande aumento de cargos técnicos em áreas de alta intensidade tecnológica.
“Esse jovem, no entanto, não está emocionalmente preparado”, diz a executiva. “Estão sendo promovidos (os jovens) porque eles conhecem tecnicamente o mercado onde estão, sabem desempenhar muito bem as funções que têm a ver com intensidade de tecnologia, porém, não têm maturidade para subir nesse cargo”, analisa. “Há uma carência gigantesca dessas habilidades socioemocionais”, diz.
Segundo ela, há uma nova “classe média emergente”, formada por técnicos que não necessariamente têm ensino superior e sobem de cargo, porque as empresas estão requerendo é habilidade técnica. “Principalmente os millenials, que vêm de um momento de explosão digital muito grande e cresceram embotados nessas bolhas online”, diz.
Trata-se de um cenário que pode ser uma oportunidade para os 50+.
“Nós, os 50+, somos os últimos híbridos, porque vivemos no mundo analógico e maioria já está completamente letrada no mundo digital. Mas vivemos com a fricção necessária para criar maturidade, para criar um bom calo emocional”, declara.
“Vivemos em um mundo em que precisávamos nos submeter à contradição, ao olho no olho, a críticas, fomos forçados a amadurecer”, recorda.
Por isso, os maduros estão sendo procurados no mercado de trabalho para liderar, porque têm justamente a maturidade, a estabilidade emocional necessária. “Muitas empresas estão entendendo isso e buscando as pessoas mais seniores e pedindo para retornar ao mercado de trabalho, para que possamos ser um exemplo e deixar um legado para essa geração que teve menos fricção.”
Ela conta que a pesquisa "Mind the Soft Gap – o novo valor do trabalho: evidências sobre o avanço do modelo skill-based e a ascensão das competências nas organizações brasileiras", realizada pela Afferolab com líderes brasileiros mostrou que está havendo a valorização de competências socioemocionais, que em muitos casos se tornaram tão relevantes quanto às habilidades técnicas .
"Até poucos anos atrás, quando nós íamos alinhar uma posição com o cliente, o mais comum de se ouvir é 'eu quero alguém até 30 anos'", conta Fred Torres, sócio sênior do Grupo Hub, que atua na área de recursos humanos e busca de talentos. Mas esse quadro de preferência pelos mais jovens tem mudado, segundo ele. "Hoje, a tomada de decisão com relação a isso está muito mais pela facilidade de adaptação, pela facilidade de controle, de concentração. E também porque a geração 50+ que em algum momento já liderou", afirma.
"Eu vejo, dentro do nosso negócio, os jovens com muito menos resiliência do que os mais velhos. Mas não é diminuir essa geração. Há uma série de benefícios que a geração Z nos trouxe, como a adaptação ao mercado de trabalho, a adaptação aos horários, a forma de trabalhar, que também beneficiam os mais 50", declara.
Torres destaca que, nos últimos anos, passou-se a ter programas de inclusão para os 50+ "porque é um público que tem muita experiência". Mas faz uma ressalva: "Aqueles que não se dedicaram a evoluir, a conhecer novas ferramentas, novos gadgets, vão ter dificuldade em se recolocar".
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