Veja como técnicas ajudam a manter o foco e a concentração no trabalho

São Paulo, 30/11/2025 - A disputa por nossa atenção é parte do cotidiano. É o que está em jogo quando conversamos, assistimos a uma aula ou a um filme, lemos um livro ou quando trabalhamos. Mas o uso de múltiplas telas e a necessidade de gerenciar diversas plataformas (WhatsApp, e-mail, Teams, relatórios, etc.) simultaneamente levam à fragmentação da atenção, resultando em exaustão mental. A sobreposição de tarefas (escrever um texto, receber um e-mail, telefone tocando) mantém o indivíduo em constante estado de alerta.

É esse quadro marcado pela aceleração, mais trabalho e menos sono que contribui para sequestrar o foco e a atenção. Na visão do médico psiquiatra do Hospital das Clínicas de Porto Alegre Gustavo Estanislau, hoje há um consenso de que foco e concentração se tornaram um recurso escasso e valioso no mundo do trabalho, vivendo-se sob uma constante demanda de energia mental. 

A opinião de Estanislau é compartilhada pela psicóloga especialista em Saúde Mental no Trabalho Fátima Macedo. Aqui vale fazer uma distinção entre foco e concentração. De acordo com ela, foco é para onde a atenção está apontada, enquanto a concentração é a quantidade de energia mental dedicada à tarefa (a intensidade) e o quanto se consegue permanecer nela sem se dispersar.

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Tanto ela quanto Estanislau defendem que o ser humano não é multitarefa. ”Com o foco prejudicado, as pessoas levam muito mais tempo para realizar tarefas, pois perdem qualidade e eficiência”, comenta a Macedo, que adota técnicas voltadas a manter o foco e atenção. A palestrante, especialista em inovação e autora do livro Profissional do Futuro, Michelle Schneider, cita que a multitarefa constante pode levar a uma queda de até 40% na produtividade.

Estanislau chama a atenção para um outro resultado desse quadro de vida acelerada: “As pessoas não têm tempo para escutar o corpo”. Ou seja, não descansam e relaxam o suficiente e têm crises de sono, o que leva ao cansaço fácil e dificulta a concentração. Para ele, as pausas são importantes e, para relaxar, deve-se evitar jogos ou atividades que continuem submetendo o cérebro a muito gasto de energia. 

Acompanhada da perda de foco e concentração, Macedo resume:

– Gasto maior de energia para recuperar o foco em razão das interrupções

– Exaustão mental em razão do gasto maior de energia

– Perda de qualidade, mais erros, maior cansaço, estresse e ansiedade causados por múltiplas tarefas. “A multitarefa pode ser uma questão adaptativa, mas não biológica”, diz Macedo.

– Estresse é  “ladrão de bons hábitos”: leva às pessoas a terem mais dificuldades para se organizarem e se planejarem

– Estresse ocupacional e a sobrecarga (incluindo a digital) também podem levar a quadros de depressão e burnout, afetando a capacidade de concentração e foco.

Em meio a esse quadro de dispersão, há várias ferramentas disponíveis para ajudar na busca por foco e concentração, como a Técnica Pomodoro e a Matriz Eisenhower. “Eu sou apaixonada pelas técnicas, que nos ajudam a ter mais foco e concentração. Eu sou uma pessoa muito agitada. E tenho vários interesses, muita coisa me encanta. Então, essas ferramentas realmente me ajudam a ter entregas de melhor qualidade, a cumprir prazos e a ter disciplina”, diz Macedo. Ela ressalta a importância da disciplina para o processo produzir bons resultados.

A Técnica Pomodoro consiste em dividir o trabalho em blocos de 25 minutos de foco total (pomodoros), seguidos por pausas curtas de 5 minutos. A cada 4 pomodoros, faz-se uma pausa mais longa (15 a 30 minutos). 

Ao usar a técnica, é importante saber lidar com interrupções inesperadas: se surgir uma tarefa urgente no meio de um Pomodoro, anote-a e volte para ela somente depois de o ciclo terminar. Se a interrupção for crítica, abandone o Pomodoro e comece um novo para a tarefa urgente.

As tarefas grandes, que levam mais de quatro Pomodoros, deve ser dividida em tarefas menores. Mas se for uma tarefa pequena, que pode ser feita em menos de 25 minutos, agregue outras tarefas pequenas.

De acordo com Estanislau, a técnica ajuda a controlar a atenção, diminuindo o risco de dispersão, pois a pessoa sabe que terá uma pausa logo. Ao mesmo tempo, contribui para iniciar tarefas, incluindo as grandes, que podem ser fracionadas. E ainda melhora a noção e o gerenciamento do tempo. A pausa programada garante que o cérebro se recupere, mantendo-o alerta e concentrado.

Outra técnica bem conhecida e disseminada é a Matriz Eisenhower. O método classifica as tarefas em quatro quadrantes, como no quadro abaixo.

Dessa maneira, permite que o profissional gaste a maior parte do tempo focando no quadrante 2 (Importante e Sem Urgência) – o que impulsiona o crescimento e os resultados.

Utilizar as duas ferramentas simultaneamente traz melhores resultados: a Matriz para definir o que é mais importante e a Pomodoro para atestar uma execução eficiente. Assim, é possível ser mais produtivo.

Ainda que sejam sistemas bem disseminados, o fato de ainda serem muito usados, de acordo com os especialistas, mostra que trazem bons resultados. “Continuam sendo eficazes e importantes, porque tocam em questões centrais, como a dificuldade de priorizar em meio à sobrecarga de demandas”, avalia Estanislau. 

O chamado Princípio de Pareto, ou Regra 80/20, é outra ferramenta. Consiste em focar nas 20% das tarefas que são responsáveis por 80% dos resultados que se considera capazes de causar impacto. Dessa maneira, contribui para identificar atividades identificar e priorizar atividades de alto valor, evitando o desperdício de energia em tarefas menos importantes.Métodos como Monotasking (tarefa única) e Flow State (estado de fluxo)  também buscam melhorar a concentração.

Há, ainda, aplicativos e softwares que têm o objetivo de ajudar a escrever, planejar e organizar projetos e tarefas, conseguindo assim obter foco e  concentração. Alguns exemplos são o Tomato Timer, Focus Booster, Tick Tick, Todoist e Notion. Outras aplicações podem ajudar e execução de tarefas em grupo, como o Planner.

Macedo lembra que fazer uma lista de tarefas já é um passo rumo ao foco é à concentração. E também existem procedimentos que podem resultar em aumento da performance de foco e concentração. Schneider aponta:

– Desconexão: Desativar notificações, usar o modo "Não Perturbe" e “Avião” definir horários específicos para checar e-mails e mensagens, em vez de reagir a cada alerta).

– Mindfulness e Meditação: Praticar essas modalidades, mesmo que por poucos minutos diários, ou exercícios de respiração focada ajudam a treinar o cérebro a permanecer no momento presente.

– Sono de Qualidade e Exercícios: Manter um ciclo de sono adequado (7 a 9 horas) e praticar exercícios físicos regularmente. O foco é uma função cognitiva que depende diretamente da saúde física e mental.

– Ambiente de Trabalho Organizado: Manter a mesa limpa e organizada, com apenas o essencial à mão, para reduzir o estímulo visual desnecessário.