Adobe Stock
São Paulo, 11/07/2025 - Desde a implementação da biometria facial para operações de crédito consignado no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), no dia 23 de maio, os aposentados e pensionistas estão relatando dificuldades na hora de realizar o desbloqueio.
Dados da Dataprev, obtidos com exclusividade pela Broadcast, mostram que 22% dos beneficiários que tentaram realizar o desbloqueio não conseguiram. Entre 23 de maio a 20 de junho, 264 mil segurados tiveram os pedidos negados. Os empréstimos consignados no INSS sofreram uma queda de 44,9% de abril para maio, mês em que a nova operação foi implementada.
A ferramenta foi implementada no aplicativo “Meu INSS” como uma medida extra de segurança no mesmo período em que o instituto atua na contenção dos danos da fraude dos descontos associativos, com desvio de R$ 6,3 bilhões, de acordo com as investigações da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU).
Para o professor de MBAs da FGV e especialista em cibersegurança, Rafael Coimbra, o que está impedindo esses desbloqueios é a etapa de cruzamento da biometria com bancos de dados públicos. O governo trabalha com três bases de informação, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), da Carteira de Identidade Nacional (RG) e da Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
Se o aposentado não mantém essas informações atualizadas, é como se ele não existisse, um cidadão analógico em um mundo digital”.
A primeira etapa da biometria facial é pelo próprio aplicativo do INSS, inclusive com a facilidade da ferramenta que permite com que o reconhecimento seja feito tanto pela câmera frontal, quanto pela câmera traseira, o que facilita com que a pessoa idosa possa ter ajuda durante o processo. O segundo passo é o cruzamento de informações, que permite que o sistema identifique o segurado que está realizando a movimentação.
O professor reforça que o sistema é seguro e necessário para realizar operações de crédito. “São duas camadas de segurança. É muito mais difícil você fraudar com o rosto do que somente com uma senha. Os golpistas hoje telefonam para as pessoas e as convencem a fornecer informações sensíveis, mas complia com o rosto, ainda mais com o cruzamento de dados”, diz.
A advogada Renata Abalém, diretora jurídica do Instituto de Defesa do Consumidor e do Contribuinte (IDC) e membro da Comissão de Direito do Consumidor da OAB/SP, comenta sobre a dificuldade tecnológica. “Temos, por um lado, pessoas idosas que não precisam mais votar, então não procuram o TSE para atualizar as informações. Por outro, falta letramento digital", avalia a advogada, citando dois entraves para o acesso do aposentado ao sistema.
Os especialistas concordam que faltam políticas públicas que incentivem a atualização de dados cadastrais e, assim, facilitem a adesão à tecnologia de segurança. “Tem muita gente que não entende desse universo digital, muito menos que precisa manter os dados pessoais em dia. Elas precisam ser informadas com uma campanha governamental, junto com os bancos, ou ter acesso a algum tipo de serviço que facilite a atualização biométrica”, sugere Coimbra.
O benefício continuará bloqueado no seguintes casos: se a biometria não permitir comprovar a vivacidade da pessoa usuária; a pessoa não existir na base de dados; não conferir com a existente no banco de dados ou ocorrer algum erro no momento do reconhecimento facial.
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.