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Publicado em 07/10/2025, às 17h42 - Atualizado às 18h22
São Paulo, 07/10/2025 - A pesquisa TIC Cultura 2024, lançada hoje pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) trouxe diversos dados sobre a digitalização da cultura no Brasil. Um destaque está naqueles que oferecem recursos de acessibilidade digital, assegurando que os recursos possam ser usados por todas as pessoas, incluindo aquelas com deficiência visual, auditiva, motora ou intelectual, sem barreiras ou necessidades de ajuda.
Apesar de os cinemas e arquivos serem bem representados, com respectivamente 53% e 41% deles disponibilizando estes recursos; os demais dispositivos contados na pesquisa oferecem os recursos em menos de um quarto dos casos.
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Tanto os bens tombados quanto teatros têm os recursos em 23% dos locais, enquanto os museus têm 20% e as bibliotecas, 8%. E 37% dos Pontos de Cultura (entidades apoiadas pelo Ministério da Cultura para promover ações socioculturais nas comunidades) não oferecem acessibilidade digital. Em 2016, 50% contavam com o recurso, conforme mostra a arte abaixo (clique na seta dentro da arte para ver a evolução no período).
Para a Lúcia Bueno, pesquisadora do O Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br), este dado é um exemplo de como as leis e normas feitas para o tema são essenciais. Como exemplo ela cita a Lei Paulo Gustavo, criada para financiar a produção cultural durante a pandemia e, para os editais, exige que 10% do valor seja destinado à acessibilidade.
Uma novidade desta edição foi a análise do uso de inteligência artificial pelos dispositivos culturais. O resultado do levantamento foi descrito como "incipiente", com percentuais de adoção acima de 10% somente em arquivos (20%) e cinemas (16%). Nos demais equipamentos, as proporções foram de 9% em pontos de cultura, 4% em bens tombados, museus e teatros, e 2% em bibliotecas. Alexandre Barbosa, Gerente do Cetic.br, comenta a aparente restrição no setor.
“Por um lado, o estudo mostra que uma adoção mais estratégica de aplicações baseadas em IA ainda é restrita no setor, por outro lado, os dados demonstram maturidade crescente dos equipamentos culturais brasileiros na incorporação das tecnologias digitais, apoiada pela universalização da conectividade e pelo maior uso de dispositivos próprios.”
A presença em plataformas e redes sociais online como Instagram, TikTok ou Flickr cresceu no período, alcançando 87% entre os pontos de cultura (ante 73% em 2022) e 78% dos bens tombados (ante 50% em 2022). O uso de aplicativos de mensagens como WhatsApp ou Telegram também aumentou entre pontos de cultura (de 62% para 72%) e museus (de 24% para 37%), teatros (de 24% para 35%) e bibliotecas (de 12% para 25%).
Por outro lado, após avanço durante a pandemia, a presença de ferramentas de transmissão de vídeos ao vivo/streaming no website recuou entre teatros e cinemas, retornando a patamares observados antes da crise sanitária. No caso dos teatros, o porcentual foi de 25% em 2022 para 16% em 2024; nos cinemas, passou de 20% para 12% no mesmo período.
Quanto aos sites próprios, os números foram pequenos se comparados a presença nas redes. Enquanto 72% dos cinemas, 62% dos arquivos e 50% dos pontos de cultura tem um site da instituição, apenas 43% dos bens tombados, 37% dos museus, 31% dos teatros e 7% das bibliotecas possuem um.
A Coordenadora de Projetos de Pesquisa, Manuella Maia Ribeiro, explica que muitas das instituições podem não ter site próprio por serem ligadas aos governos municipais ou estaduais, e usarem os sites governamentais. Ainda assim, ela alerta a respeito da importância de estar presente tanto nas redes, aproveitando o alcance que elas proporcionam, quanto em sites próprios, para não ficarem refém das regras próprias de cada rede social.
Os resultados de 2024 indicam que os equipamentos culturais priorizam a oferta de treinamentos internos relacionados a tecnologias digitais e privacidade em comparação com cursos externos pagos. Os arquivos são os que mais investem em formação interna, tanto para tecnologias digitais (50%) quanto para privacidade e proteção de dados (51%).
Já a oferta de cursos externos é mais limitada: somente 24% dos arquivos pagaram por qualificação em tecnologias digitais para suas equipes, e 23%, para privacidade. Por outro lado, apenas 6% dos museus ofereceram cursos externos sobre tecnologias digitais e 7%, sobre privacidade e proteção de dados, e as bibliotecas, com números ainda menores, de 4% e 5%, respectivamente.
"A quinta edição da TIC Cultura evidencia um setor cultural com uma infraestrutura tecnológica mais robusta, marcada pelo maior uso de dispositivos próprios e presença na internet, um legado importante do esforço de adaptação à pandemia e que pode estar associado ao contexto da ampliação de políticas de fomento no período. Ao mesmo tempo, os dados sobre formação mostram que a capacitação de equipes é um gargalo importante para que a tecnologia seja, de fato, uma aliada", enfatiza Renata Mielli, coordenadora do CGI.br.
A TIC Cultura considera 7 tipos de equipamentos culturais: "Arquivo", "Bem Tombado", "Biblioteca", "Museu", "Ponto de Cultura", "Cinema" e "Teatro". Nesta quinta edição foram identificados 17.154 equipamentos, e 1.818 deles foram entrevistados.
Na distribuição regional, a maioria dos equipamentos foi localizada no Sudeste, com exceção das bibliotecas, que estão mais concentradas no Nordeste.
*Estagiário sob supervisão de Claudio Marques
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