Divulgação BC
Por Fabiana Holtz, Maria Regina Silva, Gustavo Nicoletta e Eduardo Laguna, do Broadcast
[email protected]São Paulo, 06/05/2025 – No noticiário econômico não se fala em outra coisa: amanhã acontece a "super-quarta", com decisão sobre juros no Brasil e nos Estados Unidos. No caso da decisão do Comitê de Política Econômica do Banco Central do Brasil, que deu início à reunião hoje e amanhã no final da tarde comunicará o resultado, não deve haver surpresas.
A maior parte do mercado - 56 de 59 corretoras e bancos de investimentos consultados pelo Broadcast - espera que o BC cumpra o que tem sinalizado e anuncie uma alta de 0,50 ponto porcentual na Selic, elevando a taxa básica da economia para 14,75%. Assim, seria a sexta alta consecutiva da taxa de juros, com o objetivo de conter a inflação.
Quando a inflação aponta tendência de alta, como temos visto nos últimos meses diante do caos comercial global despertado pelo tarifaço de Donald Trump, a autoridade monetária tem a Selic como principal recurso para conter esse avanço.
Ao elevar o juro, o BC torna o crédito mais caro, limitando o consumo e investimentos. Já quando a economia está em desaceleração, a autoridade monetária tem a redução da Selic como artifício para estimular o consumo, deixando o crédito mais barato e consequemente reaquecendo a economia. A questão aqui é a 'dosagem do remédio', por que dependendo da redução, o reflexo no estímulo ao consumo pode levar a mais inflação.
O Morgan Stanley espera que, assim, o BC promova o seu último ato do ciclo de alta - ou seja, que a decisão desta quarta-feira seja a último ajuste para cima da taxa Selic em 2025 - para então manter esse patamar até o fim deste ano.
Os analistas do BTG Pactual acreditam em um aumento de 0,50 ponto porcentual nesta reunião também, mas consideram que pode haver outra alta, de 0,25 ponto em junho, o que colocaria a taxa básica em 15,00% ao ano.
O motivo é a escalada nas tensões comerciais globais, diante das tarifas impostas pelos Estados Unidos, o chamado "tarifaço", e medidas retaliatórias pela China, que causam incertezas no cenário internacional.
Os economistas do Itaú Unibanco também acreditam que a autoridade monetária continuará "seguindo a sinalização de elevação adicional e de menor magnitude da última reunião", para justificar a aposta em alta de 0,50 ponto porcentual. No encontro anterior, em 19 de março, os diretores do Banco Central também aplicaram aumento de meio ponto, para 14,25% ao ano
Na avaliação da economista-chefe do Inter, Rafaela Vitoria, a mudança do cenário externo desde a última reunião do comitê, período marcado pelo vaivém nas tarifas dos Estados Unidos contra seus parceiros comerciais, em paralelo a uma guerra tarifária com a China, indica um risco maior de desaceleração global.
No cenário doméstico, comenta Rafaela Vitoria, que também prevê alta de 0,5 ponto, os sinais de desaceleração da economia podem se intensificar, exatamente como reflexo do alto nível de taxa de juros - que tem como objetivo conter o consumo e causar o esfriamento da atividade, de modo a atingir a meta de inflação, que é de 3%.
Porém, o dado de inflação mais recente, o IPCA de março, mostra que o acumulado de 12 meses está em 5,48%.
A economista chama a atenção para o menor crescimento tanto da concessão de crédito como os dados de atividade doméstica, incluindo a produção industrial e o setor de serviços, no primeiro trimestre do ano. Ainda que o mercado de trabalho continue firme, alerta ela, a geração de novas vagas mostra queda discreta, o que pode contribuir a uma menor pressão salarial nos próximos meses. Afinal, emprego gera renda e, com isso, causa pressão inflacionária, o que consequentemente estimularia novas altas na Selic.
Para os economistas do C6 Bank, a alta deve se confirmar, mas o BC não deve indicar quais serão os passos futuros da política monetária. Eles observam ainda que desde o encontro anterior, em março, houve pouca mudança nos indicadores domésticos, a despeito do "aumento da incerteza" no cenário externo.
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