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Por Isadora Duarte e Flávia Said, da Broadcast
redacao@viva.com.brBrasília, 06/08/2025 - A tarifa adicional de 40% dos Estados Unidos, que entrou em vigor nesta quarta-feira, 6, somada à tarifa de 10% já vigente desde 5 de abril sobre produtos importados brasileiros, atingirá 36% das exportações brasileiras para aquele país. Esse montante correspondeu a US$ 14,5 bilhões de embarques ao mercado norte-americano em 2024, segundo levantamento da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
A nova tarifa, de 40%, entrou em vigor à 1h01 de hoje (0h01 no horário de Washington). Haverá ainda um período de carência para mercadorias já despachadas, que deverão chegar aos Estados Unidos até 4 de outubro e precisavam estar em navio em trânsito, deixando o último porto de embarque com destino direto aos EUA até ontem.
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Em levantamento divulgado na terça-feira, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) estimou que, mesmo com as exceções, as tarifas adicionais sobre produtos brasileiros exportados aos EUA afetam 55% das exportações do Brasil e podem comprometer mais de 147 mil empregos no País.
A simulação feita pela Fiemg chegou à conclusão de que a imposição da tarifa pode reduzir o PIB brasileiro em R$ 25,8 bilhões no curto prazo e em até R$ 110 bilhões no longo prazo. A perda de renda das famílias poderá alcançar R$ 2,74 bilhões em até dois anos, além da eliminação de 146 mil postos de trabalho formais e informais.
Os setores industriais mais atingidos, segundo o estudo, serão a siderurgia, a fabricação de produtos de madeira, de calçados e de máquinas e equipamentos mecânicos.
Além disso, 19,5% das exportações brasileiras para os EUA estão sujeitas a tarifas específicas, aplicadas a todos os países, correspondendo, em 2024, a US$ 7,9 bilhões. Essas tarifas foram adotadas com base na Seção 232 da legislação americana, que permite impor tarifas por razões de segurança nacional, e, sobre esses produtos, não se aplica a sobretaxa de 40%. No caso de autopeças, por exemplo, a alíquota é de 25%, aplicável a todas as origens.
Já 694 itens exportados pelo Brasil aos Estados Unidos foram excluídos da tarifa adicional de 40%, ficando sujeitos apenas à alíquota anterior de 10%. Esses produtos representam 45% das vendas brasileiras para o mercado americano, o equivalente a US$ 18 bilhões em 2024, conforme dados do MDIC. A lista de exceções é composta por aviões, celulose, suco de laranja, petróleo e minério de ferro.
Já no agronegócio, um dos setores mais afetados pela taxação americana, o governo norte-americano deixou de fora da lista de exceções 80% de tudo que foi exportado em produtos agropecuários aos Estados Unidos no ano passado. Entre as exportações do agronegócio, US$ 9,57 bilhões dos produtos vendidos ao mercado norte-americano em 2024 serão afetados pelo tarifaço de 50%.
Os principais produtos do agronegócio exportados aos Estados Unidos - suco de laranja, celulose e castanha - foram poupados da sobretaxa de 40%, ficando apenas expostos à taxa de 10% em vigor desde 5 de abril. Entretanto, café, carne bovina, frutas, pescados, açúcar e etanol e cacau seguem no tarifaço.
Em valor nominal, as exceções à sobretaxa de 40% contemplam US$ 2,512 bilhões de produtos agropecuários exportados pelo Brasil aos EUA em 2024. O cálculo considera os US$ 12,082 bilhões em produtos do agronegócio nacional embarcados ao mercado norte-americano no último ano e a lista de exceção anexa à ordem executiva do governo Donald Trump divulgada pela Casa Branca, segundo dados do Agrostat - sistema de estatísticas de comércio exterior do agronegócio brasileiro, gerido pelo governo federal.
No agronegócio, estima-se que o setor deixará de exportar pelo menos US$ 3,6 bilhões aos Estados Unidos neste ano com a imposição da tarifa de 50%, segundo dados preliminares das entidades do setor. As cadeias mais afetadas são café, carne bovina, pescados, frutas e cacau.
Em carne bovina, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) estima perda de US$ 1 bilhão com o produto que deixará de ser exportado para os EUA neste ano, considerando apenas o último semestre do ano. Em cacau, a Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) calcula que o setor pode perder pelo menos US$ 36 milhões em 2025 se a tarifa sobre derivados de cacau for mantida.
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Há ainda expectativa de que café, cacau e frutas tropicais possam entrar na lista de exceções, por serem produtos não cultivados nos Estados Unidos. Mas a exceção tende a ser para todos países e não restrita ao Brasil. Já a carne bovina é considerada mais difícil de ser incluída pelo fato de os Estados Unidos serem um grande player do setor. O governo brasileiro já sinalizou que vai buscar negociar a lista de exceções para ampliar o rol de produtos isentos aos 40%.
Os setores de produtos perecíveis correram ao longo dos últimos dias para embarcar o maior volume possível aos Estados Unidos, escapar do tarifaço de 50% e conter o prejuízo às exportações. Vendas externas de pescados, carnes e couro, de produtos encomendados anteriormente à escalada tarifária, foram aceleradas pelos exportadores brasileiros tanto por navios quanto por aviões a fim de garantir que os produtos estivessem em trânsito até ontem.
Entre as regiões, os três Estados da região Sul devem ser os mais afetados pelas tarifas contra produtos brasileiros formalizadas pelo presidente americano. Em média, só 12% das exportações da região devem entrar na lista de exceções à cobrança extra de 40%, conforme levantamento da Broadcast. Entre as sete Unidades da Federação (UFs) que exportaram mais de US$ 1 bilhão aos EUA no ano passado, o Paraná seria um dos mais atingidos, com somente 4% dos embarques excetuados da sobretaxa de 40%.
O governo brasileiro espera ampliar a lista de produtos excetuados da tarifa à medida que as negociações bilaterais com os Estados Unidos avancem. Como mostrou a Broadcast, emissários da Casa Branca relataram a empresários americanos que o Brasil será chamado a negociar com o governo americano. A data, contudo, ainda segue em definição e não é aberta pelos emissários.
Apesar de ter sido o país mais taxado até aqui - com exceção da China, cujas alíquotas passaram dos 100% e foram suspensas por 90 dias para tratativas bilaterais -, o Brasil teria ficado mais para o fim da fila, de acordo com interlocutores, porque Washington estaria dando prioridade aos mercados que são superavitários comercialmente com os Estados Unidos.
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*Fonte: Secex/MDIC
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