Crise EUA-Irã pode deixar o país vulnerável em relação a fertilizantes

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Oferta global de fertilizantes também foi afetada pela destruição de uma das maiores fábricas de nitrogenados da Rússia - Envato
Oferta global de fertilizantes também foi afetada pela destruição de uma das maiores fábricas de nitrogenados da Rússia

Por Gabriel Azevedo, do Broadcast

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Publicado em 23/06/2025, às 13h03

São Paulo, 23/06/2025 - O Brasil está entre os países mais vulneráveis aos efeitos da crise entre Estados Unidos e Irã no mercado global de fertilizantes, afirmou o economista-chefe de commodities da StoneX, Arlan Suderman. Em análise publicada nesta segunda-feira, ele destacou que a forte dependência brasileira de importações de fertilizantes nitrogenados de regiões afetadas pela escalada militar torna o País particularmente exposto a choques de oferta e alta de preços. "O Brasil é um dos países que mais podem sentir os efeitos desse novo estresse geopolítico", disse.

Segundo Suderman, os ataques aéreos americanos contra instalações nucleares iranianas, realizados no fim de semana, aumentaram o risco de desabastecimento no mercado internacional de nitrogenados. Ele lembrou que o Irã é o terceiro maior exportador mundial de ureia, com capacidade anual de 4,5 milhões de toneladas métricas. "Muito disso foi fechado após Israel derrubar o campo de gás natural de South Pars, que fornecia suprimento para o Irã produzir fertilizante", afirmou.

O analista também citou os impactos indiretos do conflito. Segundo ele, a produção de ureia do Egito foi interrompida após o fornecimento de gás natural de Israel ser cortado, em consequência da escalada militar. "O Egito é o terceiro maior exportador de ureia do mundo, com 4,3 milhões de toneladas métricas", disse.

Suderman apontou o potencial fechamento do Estreito de Ormuz como o principal fator de preocupação para os fluxos de fertilizantes e energia. A rota é estratégica para o comércio global, por onde transitam cerca de 20 milhões de barris de petróleo por dia, além de gás natural liquefeito e volumes expressivos de fertilizantes. Ele destacou que, historicamente, o Irã já ameaçou o bloqueio em outras ocasiões, mas nunca conseguiu efetivá-lo completamente.

Mesmo que o bloqueio venha a ocorrer, Suderman avaliou que parte do petróleo poderia ser redirecionada por oleodutos que cruzam a Arábia Saudita, com capacidade de até 6,5 milhões de barris diários. "Ainda assim, isso deixaria um déficit global significativo", explicou.

Outros fornecedores

O economista-chefe da StoneX também alertou para a situação de outros fornecedores importantes de nitrogenados na região. "O Catar é o segundo maior exportador de ureia, com 5,2 milhões de toneladas métricas por ano, e sua capacidade de exportação seria impactada se o Estreito de Ormuz fosse fechado", disse. "Omã e Arábia Saudita são o quinto e sexto maiores exportadores."

Suderman mencionou ainda o agravamento recente da oferta global de fertilizantes após a destruição de uma das maiores plantas de produção de nitrogenados da Rússia por um ataque da Ucrânia no mês passado. "Os suprimentos globais de fertilizantes nitrogenados estão sob crescente pressão graças aos desafios geopolíticos", afirmou.

Nos mercados internacionais, Suderman relatou que o petróleo registrou forte volatilidade logo após os ataques dos EUA ao Irã. "Quando os mercados abriram na noite de domingo, o petróleo WTI estava acima de US$ 78 por barril, mas depois recuou para abaixo de US$ 74", disse. Segundo ele, o recuo ocorreu após os traders avaliarem que o Irã, neste momento, provavelmente não tem capacidade nem interesse em desafiar os Estados Unidos com uma tentativa de bloqueio efetivo do Estreito de Ormuz.

Apesar dessa acomodação temporária nos preços do petróleo, Suderman reforçou o alerta sobre os riscos para os mercados agrícolas, especialmente no Hemisfério Sul. "As coisas mais em risco atualmente são os suprimentos para a temporada de crescimento do Hemisfério Sul, incluindo o mercado brasileiro", disse.

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