Cid reitera que Bolsonaro recebeu e editou a minuta golpista

Gustavo Moreno/STF

Mauro Cid, que foi ajudante de ordens de Bolsonaro, disse que havia pressão sobre o presidente para trocar comando do Exército - Gustavo Moreno/STF
Mauro Cid, que foi ajudante de ordens de Bolsonaro, disse que havia pressão sobre o presidente para trocar comando do Exército

Por Lavínia Kaucz e Isadora Duarte, do Broadcast

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Publicado em 09/06/2025, às 18h39
Brasília, 09/06/2025 - O tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro e réu no processo sobre a trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF), confirmou que Bolsonaro “leu, recebeu e enxugou” a chamada “minuta golpista”. O documento previa a prisão de autoridades e a decretação de estado de sítio para mudar o resultado das eleições. Ele confirmou a informação que já havia sido prestada à Polícia Federal (STF) em acordo de delação premiada.
De acordo com Cid, a primeira parte do documento era “muito robusta” e listava possíveis interferências do STF e do TSE no governo de Bolsonaro e nas eleições. A segunda parte era “mais jurídica” e previa o estado de sítio, prisão de autoridades e “decretação de um conselho eleitoral, alguma coisa assim, para refazer as eleições ou algo parecido”.
Moraes questionou se Bolsonaro recebeu e leu esse documento e se ele fez alterações. “Sim, senhor. Recebeu e leu. Ele, de certa forma, enxugou o documento. Enxugou o documento, basicamente retirando as autoridades das prisões. Principalmente o senhor ficaria como preso. O resto…” Moraes interrompeu: “O resto foi conseguido habeas corpus”, brincou.
Como ajudante de ordens, Mauro Cid prestou assistência direta ao ex-presidente entre 2018 e 2022. Era uma espécie de secretário particular de Bolsonaro, seu braço direito. O cargo lhe assegurava acesso a agendas oficiais e reuniões reservadas. Ao assinar a delação, se comprometeu a falar sobre diferentes episódios que assombram o ex-presidente, como o plano de golpe e o desvio de joias.

Troca de comando

Ao STF, Mauro Cid também confirmou que havia uma pressão para que Bolsonaro trocasse o comando do Exército, já que o então general Freire Gomes mostrava resistência a aderir ao golpe. 
Contou que, depois das eleições de 2022, Bolsonaro ficou “recluso” no Palácio do Alvorada e que recebia visitas do ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, Walter Braga Netto. “Não só ele como também o general Mario (Fernandes, ex-número 2 da Secretaria de Governo) falavam tira o Freire Gomes e coloca ou Arruda ou Teófilo, porque eles vão tocar para fazer alguma coisa.”
Em outro trecho do depoimento, Cid disse que o “plano de fuga” para Bolsonaro, encontrado pela PF, era para caso o próprio ex-presidente fosse vítima de um golpe. “Não sei se foi em 2020 ou 2021 que eu recebi. Alguém mandou um documento, eu acho, para mim. Eu não me lembro bem o contexto, mas era como se o presidente... se o golpe fosse contra o presidente Bolsonaro. Como seria feita a proteção do Bolsonaro, caso ele sofresse o golpe por meio das Forças Armadas? Seria o contrário”, disse.
O relator do caso, Alexandre de Moraes, perguntou por que havia um receio disso. “Não é uma coisa normal receber um documento e preparar um plano de fuga com o presidente eleito e empossado no cargo”, apontou o ministro.

Acampamentos e Bolsonaro

Em relação aos acampamentos na frente de quartéis, em 2022, Cid disse que Bolsonaro "nunca mobilizou, mas também não mandou embora" as pessoas que lá estavam e pediam golpe de Estado. Já Bolsonaro, depois de ouvir o depoimento de Cid, disse estar com a consciência tranquila e que não se prepara para uma eventual condenação. Ele é apontado pela Procuradoria Geral da República como o líder da organização criminosa que teria tramado um golpe de Estado.
"Não tem preparação para nada (caso seja preso). Não tem porque me condenar. Estou com a consciência tranquila", afirmou. "Mas é lógioc que eu não queria estar aqui", acrescentou. E se recusou a comentar a declaração de Cid de que teria "enxugado" a minuta golpista. "Não vou confrontar o Cid aqui", declarou. "Sem problemas com ele", reforçou.

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