EUA voltam a dizer que condenação de Bolsonaro é perseguição e censura

Wickmedia Commons

No X, o subsecretário Darren Beattie diz que os EUA vão encarar os desdobramentos da condenação com a máxima seriedade - Wickmedia Commons
No X, o subsecretário Darren Beattie diz que os EUA vão encarar os desdobramentos da condenação com a máxima seriedade

Por Pedro Lima e Aline Bronzati, da Broadcast

redacao@viva.com.br
Publicado em 12/09/2025, às 14h02
São Paulo e Nova York , 12/09/2025 - Os Estados Unidos voltaram a comentar a decisão de ontem do Supremo Tribunal Federal (STF) de condenar o ex-presidente Jair Bolsonaro no inquérito que apurava tentativa de golpe de Estado. No X, o subsecretário de Diplomacia Pública americano, Darren Beattie, afirmou que a condenação é "mais um capítulo do complexo de perseguição e censura" do ministro Alexandre de Moraes.
 A publicação de Beattie, também compartilhada pela Embaixada dos EUA no Brasil, diz que Moraes é um "violador de direitos humanos sancionado, que tem Bolsonaro e seus apoiadores como alvo". O subsecretário encerra dizendo que o país vai encarar esse "sombrio desdobramento com a máxima seriedade".
Leia também: Jair Bolsonaro é o primeiro presidente condenado por golpe de Estado
 Em 30 de julho, Moraes foi sancionado pelo Tesouro americano por meio da Lei Global Magnitsky, que autoriza os EUA a impor bloqueios econômicos a acusados de corrupção ou graves violações de direitos humanos.
 Ontem, o presidente americano, Donald Trump, classificou a condenação de Jair Bolsonaro como "terrível" e disse estar "muito descontente" com o julgamento. "Acho que é muito ruim para o Brasil", declarou a jornalistas. Trump elogiou o ex-presidente em dois momentos, chamando-o de um bom homem e de um bom governante. "E sempre o achei muito íntegro, muito notável."
 Questionado sobre a possibilidade de novas sanções contra o Brasil, o presidente não respondeu. Já o secretário de Estado, Marco Rubio, afirmou que os EUA reagirão "adequadamente" a "essa caça às bruxas". Segundo ele, "as perseguições políticas do violador de direitos humanos sancionado Moraes continuam, já que ele e outros membros do Supremo decidiram injustamente prender Bolsonaro", escreveu no X.
 O subsecretário de Estado, Christopher Landau, disse que a relação entre Brasil e Estados Unidos vive o "ponto mais sombrio em dois séculos" após a condenação. Em sua conta no X, afirmou não ver saída para a crise enquanto o futuro bilateral estiver "nas mãos do ministro Moraes".

Análise

O STF fez o que as instituições norte-americanas se recusaram a fazer: responsabilizar um ex-presidente que atentou contra a democracia. A afirmação é dos professores Filipe Campante, da universidade Johns Hopkins, e Steven Levitsky, de Harvard, em artigo publicado nas páginas de editorial do jornal americano The New York Times, nesta sexta-feira. A Corte "trouxe à Justiça o primeiro líder de golpe da História do País", avaliam Campante e Levitsky. 
 Os autores contrastam a decisão brasileira com o desfecho nos EUA. Trump, recordam, também tentou reverter sua derrota eleitoral, mas foi "enviado não à prisão, e sim de volta à Casa Branca". O Senado absolveu o republicano no impeachment, a Justiça demorou a indiciá-lo e, em 2024, a Suprema Corte reconheceu ampla imunidade presidencial, permitindo seu retorno ao poder em janeiro deste ano. O resultado, afirmam, é um segundo governo "abertamente autoritário", que persegue críticos e ameaça instituições, empurrando a maior economia do mundo para um regime "competitivo-autoritário".
 Campante e Levitsky enfatizam a reação de Washington ao julgamento de Bolsonaro. Antes mesmo da sentença, o governo Trump impôs tarifa de 50% à maioria das exportações brasileiras e aplicou sanções a autoridades, incluindo o ministro Alexandre de Moraes, em um "passo sem precedentes" reservado a violadores de direitos humanos. Após a decisão do STF, ontem, o secretário de Estado Marco Rubio prometeu "responder a essa caça às bruxas", mencionam.

Intimidação 

 Para os acadêmicos, trata-se de uma tentativa dos EUA de "intimidar brasileiros a subverter seu sistema legal" - uma guinada que abandona três décadas de política norte-americana de apoio à democracia na América Latina. Eles avaliam que, diferentemente dos EUA, autoridades brasileiras identificaram cedo o risco autoritário, criaram o inquérito das fake news, derrubaram atos de sabotagem eleitoral e isolaram o ex-capitão politicamente. Afastado da corrida presidencial de 2026, Bolsonaro deixou de ser opção viável para a direita convencional, dizem.
 A principal lição, concluem, é que democracias "não se defendem sozinhas". Se, com todos os seus problemas, o Brasil está hoje "mais saudável" institucionalmente que os EUA, é porque não tratou o Estado de Direito como mero "pedaço de papel". "Em vez de minar o esforço brasileiro", escrevem, "os americanos deveriam aprendê-lo".

Comentários

Política de comentários

Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.

Últimas Notícias