Tecnologia brasileira ajuda na recuperação de paraplégicos chineses
Divulgação/Nicolelis Institute
19/12/2025 | 08h00
O projeto, denominado Walk Again Neurorehabilitation Protocol (WANR), combina sensores que captam ondas cerebrais, simulações em realidade virtual e robôs que ajudam a caminhar. Durante o treinamento, os pacientes controlam uma versão sua em ambientes virtuais enquanto seus corpos são conduzidos por robôs, recebendo estímulos sensoriais que ajudam o cérebro a reconstruir a sensação de movimento. Nicolelis explica que a ideia é ensinar o cérebro a sensação de andar.
Essa abordagem funciona como um despertador neural. Ela reativa circuitos que ficaram adormecidos por muitos anos e dá ao cérebro um novo contexto para reaprender funções motoras que haviam sido interrompidas pela lesão."
O estudo clínico avaliou 19 pessoas com paraplegia completa, todas com lesões medulares há muitos anos. Elas foram divididas em dois grupos: um recebeu apenas fisioterapia convencional e o outro participou do treinamento completo com o protocolo WANR por nove meses. Já aos cinco meses, os pesquisadores observaram os primeiros sinais de recuperação no grupo WANR.
Ao final do estudo, metade dos participantes havia migrado de um estado de paraplegia completa para um de paraplegia parcial, recuperando movimentos voluntários das pernas e, em alguns casos, a capacidade de caminhar por seus próprios meios. Uma das participantes conseguiu inclusive voltar a caminhar pelas ruas de Pequim utilizando apenas um andador e uma órtese. No grupo que fez apenas terapia convencional, nenhuma melhora significativa foi registrada.
Leia também: Descoberta no Brasil pode ajudar a restaurar mobilidade após lesão medular; entendaOs avanços das interfaces cérebro-máquina
O uso de "interfaces cérebro-máquina", como a técnica é chamada, foi inventado por Miguel Nicolelis e seu colega John Chapin no final dos anos 1990. A aplicação desta técnica ficou famosa em 2014, quando o jovem paraplégico Juliano Pinto usou um exoesqueleto combinado com a interface cérebro-máquina para chutar uma bola na abertura da Copa do Mundo.
Após mais de uma década, o estudo sino-brasileiro revelou um avanço importante do tratamento. Por conta da falta de uso de certas regiões do córtex, pacientes paraplégicos com lesão medular crônica costumam apresentar perda de 15% a 22% da espessura cortical. Após análises de ressonância magnética, os pesquisadores detectaram queo grupo que experimentou o protocolo WANR exibiu um aumento significativo da espessura cortical, além de uma melhor conexão entre as partes do cérebro. Para Nicolelis, esse ponto representa uma mudança de paradigma:
Por muito tempo acreditou-se que o cérebro perderia progressivamente sua capacidade de reorganização após uma lesão grave. O que estamos vendo agora é justamente o contrário: sob os estímulos certos, o cérebro humano é capaz de se recuperar funcionalmente, usando circuitos neurais alternativos, ou mesmo recuperando alguns dos que foram afetados pela lesão medular original.”
O neurocientista afirma que as interfaces cérebro-máquina podem auxiliar pacientes com doenças neurológicas, recuperando até mesmo movimentos perdidos anos antes do tratamento. Além disso, o fato da interface ser não invasiva indica que, para pacientes paraplégicos, é possível realizar o tratamento sem implantes cerebrais. Segundo ele, estes avanços representam uma esperança para milhões que sofrem com distúrbios do sistema nervoso central.
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Agora, Nicolelis pretende abrir as patentes, para que o Brasil possa aplicar o tratamento em larga escala.
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