São Paulo, 18/08/2025 - O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) determinou neste domingo, 17, que o Google quebre em 24 horas o sigilo de um usuário do serviço de e-mail da empresa que ameaçou de morte o youtuber Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca. Os e-mails têm os seguintes dizeres: "prepara pra morrer vc vai pagar com a sua vida" e "vc vai morrer se prepara por sua vida vc corre risco e vc vai pagar com a vida".
O juiz Pedro Henrique Valdevite Agostinho determina que sejam repassados "os dados de identificação vinculados à conta de e-mail, contemplando os IPs de acesso dos últimos 6 (seis) meses portas lógicas de origem, data, hora, minutos, segundos e milésimos de segundos, bem como quaisquer dados cadastrais aptos a identificar o usuário responsável." O magistrado fixou ainda multa diária no valor de R$ 2 mil, limitada a R$ 100 mil, para o caso de descumprimento.
Após a publicação do
vídeo, o assunto também entrou em discussão entre parlamentares e autoridades, que, pressionados a reagir diante de um tema tão importante, prometem definir com urgência uma proposta de regulamentação das redes sociais.
Em 50 minutos, o youtuber mostrou na prática como o algoritmo funciona para entregar conteúdos com crianças e adolescentes para pedófilos e entrevistou uma psicóloga especializada para falar sobre o perigo da exposição nas redes sociais para as crianças e adolescentes.
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As denúncias apresentadas por Felca apontaram que o influenciador Hytalo dos Santos sexualiza os conteúdos envolvendo os menores, publicados nas redes, além de manter uma convivência apontada como imprópria com os adolescentes em sua casa.
Após o vídeo de Felca, o influenciador e o marido, Israel Nata Vicente - conhecido como Euro -, foram presos na sexta-feira, 15, em Carapicuíba, na Região Metropolitana de São Paulo, acusados pelos crimes de tráfico humano e exploração sexual infantil. A defesa do casal afirma que ambos são inocentes e "sempre se colocaram à disposição das autoridades". Consideram também que a decisão de prisão é uma medida "extrema".
Crime virtual
Pelo Código Penal brasileiro, caracteriza-se como tráfico de pessoas quando a vítima é aliciada, comprada ou acolhida por outra pessoa, com propósitos que podem incluir remoção de órgãos servidão, submissão a trabalho análogo à escravidão, adoção ilegal ou exploração sexual.
Hytalo e Euro são investigados pelo Ministério Público da Paraíba pela suspeita de explorar menores de idade nas redes sociais por meio de vídeos virais que mostram crianças e adolescentes de forma sexualizada, seminuas e ingerindo bebidas alcoólicas em festas.
De acordo com a denúncia do Ministério Público, o influencer pagava às famílias dos adolescentes cerca de três salários mínimos para abrigá-los em sua casa. Os menores, sob a tutela de Hytalo, eram chamados de "cria" pelo influenciador. Ainda segundo o MP, o influencer apreendia os celulares das vítimas para garantir que apenas o seu perfil nas redes sociais fizessem postagens, estratégia que concentrava a audiência em suas plataformas.
Youtuber fala sobre ameaças
Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, exibida neste domingo, 17, o youtuber Felca falou sobre as ameaças que vem sofrendo após publicar o vídeo "Adultização". Ele contou ainda que decidiu falar sobre o tema por conhecer pessoas que foram vítimas de abusos na infância.
"Eu fiquei abalado, sofri algumas ameaças de morte. Pessoas do meu convívio sofreram ameaças de morte", afirmou o influenciador. Segundo ele, pessoas ameaçavam encontrá-lo na rua e matá-lo. Apesar disso, Felca diz que continuará pautando o tema. "Eu mantenho a cautela, mas estou fazendo algo que é mais importante do que eu. Desculpa aí, não vou conseguir parar", disse Felca.
Na entrevista ao Fantástico, Felca falou sobre o que o levou a gravar um vídeo sobre adultização e a relação desses conteúdos com a pedofilia. Ele afirma que decidiu usar seu poder nas redes para tentar dar projeção ao tema e auxiliar no combate a esses crimes.
"Eu conhecia pessoas do meu convívio social que foram abusadas sexualmente na infância, eu pensava como consolar essa pessoa", relata. O influenciador disse ainda que imaginava que o conteúdo ganhasse alguma repercussão, mas nada parecido com o que aconteceu. Ele conta que ficou aflito antes de publicar o conteúdo, mas criou coragem e postou o vídeo em suas redes.
A discussão mobilizada pelo vídeo reviveu a tramitação de um
projeto de lei sobre o tema no Congresso. Agora, a Câmara volta a debater o projeto de autoria do senador Alessandro Vieira (MDB-SE) para estabelecer regras para as plataformas no que diz respeito ao uso por crianças e adolescentes. O projeto prevê que empresas do setor adotem medidas para prevenir e mitigar práticas como bullying, exploração sexual e padrões de uso que possam incentivar vícios e transtornos diversos.
Felca conta que quando começou a produzir conteúdos sobre jogos, seu pai impediu, dizendo que ele era muito novo para aquele tipo de exposição. Ele diz que na época ficou contrariado, mas hoje agradece a decisão: "Porque se hoje a exposição é difícil, causa um dano, imagina quando eu era criança", analisa.