Reprodução/YouTube
São Paulo, 17/08/2025 - Felca, nome artístico do youtuber Felipe Bressanim Pereira, conhecido por seu vídeo sobre “adultização”, participou do Altas Horas, da Globo, exibido no sábado, 16. Sua entrevista a Serginho Groisman foi ao ar logo no início da atração.
“Causou um movimento tão gigantesco que, agora, nesse momento, está sendo meio nebuloso, meio difícil de cair a ficha. Mas é um convite para as pessoas que estão assistindo entenderem que vocês têm voz. Existe um poder nas pessoas. Você ver algo que está errado e falar, denunciar. As pessoas ouvem. Existe bondade no mundo”, disse.
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Felca relembrou que teve o sonho de trabalhar com vídeos na internet logo aos 12 anos, mas foi freado por seus pais. “Fiquei revoltado por um tempo. Hoje quando olho para trás eu entendo muito bem e agradeço aos meus pais”.
“Meus pais falaram: ‘Muito bacana o que você tá fazendo, apoio, mas ainda é muito cedo. Tem que esperar um pouco mais, amadurecer, nesse ambiente que você está entrando, talvez não entenda tudo”, prosseguiu.
Felca comentou que a ideia para o vídeo surgiu de sua indignação. “Eu observei que [havia] esse movimento na internet, de crianças produzindo conteúdo, e o público era dividido. Tinha outras crianças consumindo, alguns pais, mas tinha naquele público, também, pedófilos.”
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“Um conteúdo que se eu mostrasse para você sem dar o contexto, você ia falar que é inocente. Uma criança brincando, se divertindo com as amigas... Mas existiam pedófilos ‘cantando’ aquelas crianças”, completou. “Você vai vendo aquilo, aquele movimento acontecendo, pessoas que produzem conteúdos com crianças, que às vezes adultizam propositalmente a criança... Se você não sente uma indignação, você não é um ser humano. E eu senti uma indignação, tinha um público e falei”.
Felca também opinou que crianças “não têm que produzir conteúdo na internet”: “É um ambiente em que a exposição não é algo fácil de lidar. A exposição vem com críticas, pessoas comentando sobre você, a aparência, às vezes um assédio. A criança não está preparada para receber qualquer tipo dessas coisas. Internet é um ambiente para adultos”.
Uma mulher da plateia perguntou o que faltava, até então, para que o caso de Hytalo Santos - apesar de não citá-lo diretamente - tomasse proporções maiores, comentando que “isso não é de hoje”.
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Felca respondeu: “Existiam muitas pessoas falando sobre. Já era uma coisa bem pública. Acho que faltou uma mobilização mais numerosa, mesmo. Foi uma questão de alcance que atingiu.”
“O alcance não vem quando a pessoa tem muita autoridade, vem quando decide reunir informações importantes. Reunir provas, pesquisar, denunciar... Quando ela reúne informações em um vídeo que seja fácil de consumir”, opinou o influenciador.
Outro membro da plateia questionou “o que foi mais difícil: editar o vídeo e juntar as denúncias ou a repercussão” causada por ele. Felca respondeu que “com certeza foi reunir essas informações”, relembrando que ficou cerca de um ano na produção do vídeo e que parte da demora se deveu ao fato de ter que fazer pausas para cuidar da saúde mental em meio ao contato com um “tema tão aversivo”.
Felca celebrou a forma como o vídeo foi bem recebido. “Por mais que seja muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, a repercussão é muito positiva. Se estão dando luz para essa causa, acho que pode haver mudanças”, comentou. Serginho Groisman então aproveitou para questionar sobre as ameaças recebidas pelo influenciador.
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“Algumas ameaças, algumas críticas, alguns movimentos de difamação, de tentar descredibilizar. Como eu recebo isso? Eu sabia o que estava fazendo, que era grande. Tudo era esperado”, respondeu Felca, afirmando que também tinha receio de que fosse sofrer processos na Justiça por conta do vídeo sobre adultização.
“Isso é delicado de falar, mas é verdade: alguns pedófilos que se incomodaram pessoalmente por eu tentar quebrar o esquema de pedofilia deles. Vão se sentir atacados pessoalmente e bater de frente. Mas, sinceramente, quem tem que ter medo são eles, não a pessoa que está denunciando”.
Por fim, Felca foi questionado sobre mecanismos disponíveis para mudar o tema hoje no Brasil. “Existe o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e leis para proteção. O que esses criminosos fazem são crimes. Acho que o melhor movimento é a iniciativa do indivíduo em denunciar.”
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“Ir atrás, reunir provas e pesquisas e denunciar. Se tudo der certo, a gente consegue uma mudança no algoritmo para que esses conteúdos não sejam capazes de chegar no seu feed”, concluiu Felca em sua passagem pelo Altas Horas, antes de dar um abraço em Serginho Groisman.
Publicado em 7 de agosto de 2025 com o título “adultização”, o vídeo de Felca viralizou e trouxe grande repercussão nos dias seguintes. Nele, expõe como alguns perfis abusariam da imagem de crianças e adolescentes, e também algumas formas de agir de grupos de pedófilos na internet.
Após o vídeo ‘furar a bolha’, denúncias sobre pornografia infantil dispararam e chegaram a unir grupos de direita e esquerda na Câmara dos Deputados, que se mobilizou a pautar discussões sobre os assuntos levantados pelo youtuber. Receoso de ameaças recebidas, o youtuber também passou a andar de carro blindado e cercado por seguranças.
Um dos citados no vídeo de Felca, o influenciador Hytalo Santos foi preso em Carapicuíba, na Grande São Paulo, junto com seu marido, Israel Vicente. Os dois são acusados de exploração sexual infantil e tráfico humano. A defesa do casal afirma que ambos são inocentes e pede a revogação da prisão, afirmando que se trata de uma investigação que tramita desde 2020, e, por isso não haveria motivos para uma prisão preventiva.
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