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São Paulo, 04/07/2025 - Uma pesquisa com médicos brasileiros de 50 anos de idade ou mais aponta um retrato delicado da saúde mental e dos hábitos de vida desse grupo. Os dados mostram que 20,7% dos profissionais têm atualmente o diagnóstico de algum tipo de transtorno mental, como depressão, transtorno de ansiedade ou síndrome de Burnout.
Realizado pelo Research & Innovation Center da Afya e divulgado com exclusividade ao Viva, o levantamento com 372 profissionais nas cinco regiões do País revela um cenário preocupante em relação aos cuidados com a qualidade de vida.
A ansiedade é o problema de saúde mental mais recorrente entre os médicos mais velhos: 47,6% relataram já ter enfrentado o problema ao longo da vida, com 15,6% apresentando o quadro atualmente. Outros 16,9% têm sintomas ativos, mas ainda não buscaram ajuda profissional.
Em seguida, vieram diagnósticos de depressão em algum momento da vida ou com sintomas atualmente, em 44,6% dos entrevistados. Além disso, 14% dos médicos estão diagnosticados com a doença atualmente, mas cerca de 2% ainda não contam com acompanhamento especializado e outros 9,9% têm sintomas ativos, mas ainda não procuraram ajuda.
A Síndrome de Burnout, que é causada pela exaustão no trabalho, também já afetou 36,6% dos médicos, enquanto 14,5% apresentam sintomas ativos e ainda não buscaram ajuda. A jornada média de trabalho relatada na pesquisa é de 46,7 horas semanais, mas 30,1% dos médicos ultrapassam 60 horas por semana. A renda líquida mensal média é de R$ 28.467 e 46% possui duas ou mais especializações.
Quando considerado o gênero, a pesquisa mostra diferença significativa na saúde mental entre homens e mulheres com 50 anos ou mais. Enquanto 25,4% das médicas relataram já terem sido diagnosticadas com algum tipo de transtorno mental, esse percentual cai para 16,4% entre os homens. A Afya diz que a disparidade pode refletir tanto maior vulnerabilidade das mulheres a esses quadros quanto maior disposição para reconhecer e relatar tais diagnósticos.
“A proposta desse estudo é manter um panorama vivo e dinâmico sobre a qualidade de vida dos médicos e, a partir disso, incentivar a comunidade a criar soluções que deem suporte e acolhimento a este público, diz Renata Pedro, gerente de pesquisa do Research & Innovation Center da Afya.
Promover a saúde mental, incentivar hábitos de vida mais saudáveis e valorizar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional não são apenas medidas desejáveis, são essenciais para garantir a longevidade, a qualidade de vida e a permanência ativa desses profissionais que há décadas sustentam o cuidado em saúde no País.”
Os hábitos de vida também revelam fragilidades importantes entre os médicos 50+. Embora algumas práticas sejam amplamente reconhecidas como fatores que mais contribuem para a saúde mental, uma parcela expressiva desses profissionais ainda não adota rotinas saudáveis de forma consistente. Apesar da importância que enxergam na manutenção de hábitos saudáveis, apenas 47,6% dos médicos afirmam praticar atividade física regulamente. Contudo, a maioria (79,3%) destaca a importância de manter uma alimentação saudável e a priorizam.
O uso de substâncias psicoativas é outro ponto de atenção do levantamento. Um quarto dos médicos (25%) diz fazer uso de antidepressivos, enquanto 9,4% utilizam benzodiazepínicos, medicamentos com potencial de dependência. Entre os usuários dessas substâncias, 43,6% disseram recorrer à automedicação, o que pode indicar tanto resistência em buscar ajuda especializada quanto uma cultura de autossuficiência que permeia a profissão médica, aponta a pesquisa.
Além dos medicamentos, o consumo de álcool também é expressivo: 39% dos médicos relataram uso regular da substância. Dentre outras substâncias, 5,9% disseram consumir tabaco, 0,5% fazem uso de vapes, 1,1% de cannabis e 1,3% de psicoestimulantes.
A ansiedade é uma reação natural e temporária do corpo a situações que causam medo ou apreensão, mas quando acontece de forma desproporcional pode ser caracterizada como um transtorno. A Organização Mundial de Saúde (OMS) calcula que os transtornos de ansiedade aumentaram em mais de 25% no primeiro ano da pandemia e desde então seguem em alta, somando-se aos quase um bilhão de pessoas que já viviam com essas condições.
Já o Ministério da Saúde explica que a experiência de ansiedade é caracterizada pela presença de sintomas físicos e mentais, associados a modificações no comportamento, fazendo com que a pessoa passe a ter dificuldade de enfrentar determinadas situações do cotidiano. Ela também pode estar associada a outros transtornos e ao uso de substâncias.
A depressão é um transtorno comum que interfere na vida diária e na capacidade de trabalhar, dormir, estudar, comer e aproveitar a vida. É causada por uma combinação de fatores genéticos, biológicos, ambientais e psicológicos. Segundo a OMS, pesquisas genéticas indicam que o risco de depressão resulta da influência de vários genes que atuam em conjunto com fatores ambientais. No entanto, a depressão também pode ocorrer em pessoas sem histórico familiar.
Nem todas as pessoas com transtornos depressivos apresentam os mesmos sintomas. A gravidade, frequência e duração variam dependendo do indivíduo e de sua condição específica.
A Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade. A principal causa da doença é justamente o excesso de trabalho. O Ministério da Saúde diz que essa síndrome é comum em profissionais que atuam diariamente sob pressão e com responsabilidades constantes, como médicos, enfermeiros, professores, policiais e jornalistas, dentre outros.
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