Longevidade: conheça três fatores que ajudam a viver mais e melhor

Milena Varella

Prevenção de doenças até os 50 anos, vida social ativa e políticas públicas estão atrelados à qualidade do envelhecimento - Milena Varella
Prevenção de doenças até os 50 anos, vida social ativa e políticas públicas estão atrelados à qualidade do envelhecimento
Por Bianca Bibiano

Publicado em 13/05/2025, às 15h42

São Paulo, 13/05/2025 - Com o envelhecimento da população mundial, cresce a preocupação sobre como viver mais e melhor. A medicina, aliada a estudos sobre bem-estar e qualidade de vida, tem ampliado o debate em torno da longevidade saudável. Mais do que acrescentar anos à vida, o desafio atual é garantir que esses anos sejam vividos com saúde, autonomia e dignidade. Nesta reportagem, conheça três fatores fundamentais para essa equação: a prevenção de doenças até os 50 anos, a importância da vida social ativa e o papel do investimento social e políticas públicas voltadas ao envelhecimento.

Garantir o cuidado com a saúde antes dos 50 anos

Estudo publicado em março pelo The New England Journal of Medicine demonstrou que a ausência de cinco fatores de risco clássicos — hipertensão, hiperlipidemia (colesterol alto), obesidade ou baixo peso, diabetes e tabagismo — até os 50 anos de idade está associada a uma expectativa de vida significativamente maior. Para mulheres, essa diferença pode chegar a 14,5 anos. No caso dos homens, 11,8 anos. 

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Vanessa Pesciotto, cardiologista do Instituto de Responsabilidade Social Sírio-Libanês (Crédito: Acervo pessoal)

Vanessa Pesciotto, cardiologista do Instituto de Responsabilidade Social Sírio-Libanês, explica que muitos desses fatores são modificáveis. "O papel dos médicos é atuar precocemente, observando hábitos familiares, tendência genética, presença de doenças em pais e irmãos, exposição ao tabagismo e outras substâncias. Isso influencia diretamente a saúde no futuro", explica. 

A médica diz ainda que esse acompanhamento pode ser feito nas unidades básicas de saúde, que realizam diagnóstico com exames clínicos para as principais doenças e, em alguns casos, oferecem apoios de rede secundárias para pacientes que já estejam desenvolvendo alguma doença.

Ela destaca ainda que a hipertensão, quando controlada, pode oferecer o mesmo risco cardiovascular que em pessoas não hipertensas. "Mudanças de hábito como parar de fumar, fazer atividade física, rever alimentação e lidar com o estresse são essenciais. Cada ponto que conseguimos controlar conta a favor", completa. 

Pesciotto também alerta sobre o impacto do uso de dispositivos como vapes e pods e lembra que o diagnóstico precoce, possível inclusive em unidades básicas de saúde, deve ser aliado à consciência individual.

"Cada um de nós sabe onde está tropeçando. É o famoso 'olhar para dentro'. Se a gente conseguir até aos 50 anos se proteger ou mesmo controlar problemas que temos geneticamente, o futuro será muito mais saudável."

Vida social ativa também ajuda a envelhecer com saúde

Manter uma vida social ativa tem impacto direto na qualidade do envelhecimento. Para a fisiologista e gerontóloga Milena Varella, a realidade brasileira impõe desafios que vão além da medicina. “Envelhecemos antes de enriquecer, diferente de países europeus. Isso exige políticas públicas voltadas às nossas especificidades”, afirma. Ela diz que os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram um descompasso entre a expectativa de vida total (73 anos) e a expectativa de vida saudável (63 anos). No Brasil, esse hiato é de quase 10 anos: vivemos, em média, 75,5 anos, mas apenas 66 com saúde.

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Milena Varella, fisiologista e gerontóloga (Crédito: Divulgação)

Varella aponta que muitos dos problemas vêm da baixa adesão à prevenção e da estrutura atual de saúde, baseada em um modelo curativo, e não preventivo. “As pessoas procuram ajuda só quando suspeitam de doença ou já estão com sintomas graves”, destaca. 

Ela cita as chamadas "Blue Zones", regiões do mundo com alta concentração de centenários, como exemplos de longevidade saudável sustentada por fatores como inserção social, autonomia, dieta equilibrada, atividade física moderada e propósito de vida.

Para Varella, garantir capacidade funcional, mobilidade, cognição e bem-estar emocional deve ser o foco. “Hoje temos mais anos de vida do que há algumas décadas. Mas longevidade sem saúde é sobrevida. Precisamos preencher esses anos com qualidade”.

A prática regular de exercícios pode aumentar em até quatro anos a expectativa de vida e reduzir pela metade o risco de doenças degenerativas, pontua. 

"A longevidade é construída no dia a dia, em cada caminhada, cada refeição equilibrada e cada laço social fortalecido. Mas viver mais não é um desafio só da medicina, é um compromisso social. Precisamos de políticas públicas comprometidas com essa questão para ter um envelhecimento saudável e digno."

Respaldo social e econômico

Além de cuidados com a saúde e o bem-estar, o envelhecimento saudável também exige investimento social e políticas públicas. Michelle Queiroz, professora associada da Fundação Dom Cabral e coordenadora do FDC Longevidade, explica que a revolução da longevidade já afeta a sociedade em múltiplas dimensões — pessoal, econômica e de gestão. “Nosso desafio é transformar esse impacto em resposta efetiva”, afirma.

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Michelle Queiroz, professora associada da Fundação Dom Cabral e coordenadora do FDC Longevidade (Crédito: Divulgação)

Ela explica que o envelhecimento exige uma articulação entre os três setores — governo, sociedade civil e iniciativa privada. “Hoje, temos um ecossistema ainda pequeno e pouco conhecido, que precisa ser fortalecido. E não se trata apenas de criar leis, mas de efetivá-las na ponta, onde as pessoas vivem”.

Queiroz destaca, por exemplo, o uso do Fundo do Idoso como ferramenta para estimular o investimento social voltado à população idosa. “É um mecanismo que permite que empresas façam doações dedutíveis do imposto de renda para organizações da sociedade civil. Apesar de sua eficácia potencial, poucos municípios têm fundos e conselhos instituídos”, lamenta. 

Ela também chama atenção para o impacto da desigualdade: “Marcadores de diversidade como gênero, raça, deficiência e orientação sexual reduzem a expectativa de vida. Pessoas negras, mulheres, LGBTQIA+ ou com deficiência enfrentam barreiras que influenciam diretamente sua saúde e longevidade”.

Dados do CEDRA (Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais), a partir dos dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) contínua de 2012 a 2023, mostram por exemplo que, apesar de a população negra ser maioria no Brasil, sua representação diminui nas faixas etárias mais altas, refletindo a desigualdade no acesso à saúde e aos direitos garantidos em lei.

“As pessoas estão morrendo mais cedo em função dos seus marcadores da diversidade. [...] Envelhecer com dignidade exige equidade. E isso passa por políticas públicas eficazes e comprometimento social”.

Palavras-chave Envelhecimento longevidade

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