Analfabetismo funcional alcança 51% dos brasileiros entre 50 e 64 anos

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Pesquisa avalia as competências de leitura, escrita e matemática em situações cotidianas da população e revela que índice está estagnado há seis anos - Envato
Pesquisa avalia as competências de leitura, escrita e matemática em situações cotidianas da população e revela que índice está estagnado há seis anos
Por Bianca Bibiano

Publicado em 05/05/2025, às 14h56

São Paulo, 05/05/2025 - O analfabetismo funcional não recuou no Brasil nos últimos seis anos e atinge com mais força pessoas acima de 50 anos de idade. É o que revela a edição 2024 do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf). O levantamento, divulgado nesta segunda-feira, aponta que 51% das pessoas com idade entre 50 e 64 anos podem ser consideradas analfabetas funcionais.

Coordenado pela organização da sociedade civil Ação Educativa e pela consultoria Conhecimento Social, a nova edição do Inaf é uma co-realização da Fundação Itaú, em parceria com a Fundação Roberto Marinho, Instituto Unibanco, UNESCO e UNICEF. Ao todo, a pesquisa ouviu 2.554 brasileiros para avaliar as competências de leitura, escrita e matemática em situações cotidianas da população entre 15 e 64 anos, em todas as regiões do País.

O maior percentual de pessoas funcionalmente alfabetizadas se encontra nas faixas de 15 a 29 anos (84%) e 30 a 39 anos (78%). Segundo a Fundação Itaú, isso evidencia o efeito positivo das políticas de inclusão e valorização da escola para crianças e jovens realizadas nas últimas duas décadas.

“Durante as duas décadas de existência do Inaf, dados do IBGE evidenciaram uma transformação no panorama educacional brasileiro, refletindo os avanços obtidos com a expansão da educação pública no período, que se aproximou da universalização do acesso no ensino fundamental. Também demonstram uma grande expansão do acesso e conclusão do ensino médio, assim como um aumento significativo do acesso ao ensino superior”, avalia Ana Lima, coordenadora do estudo.

Contudo, os valores oscilam negativamente se comparados a 2018, quando a proporção de analfabetos funcionais entre os jovens de 15 a 29 anos foi de 14%. Além disso, dois em cada três analfabetos funcionais (65%) têm entre 40 e 64 anos.

Segundo Lima, existem algumas propostas que buscam endereçar esse grupo etário, como o redesenho das políticas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e outras estimuladas pelas autoridades educacionais (Ministério da Educação e secretarias estaduais ou municipais), mas não necessariamente realizadas pelas escolas. "Seriam propostas bastante alinhadas com as características e demandas dos territórios onde seriam implementadas, com exemplos de iniciativas que acontecem tanto no mundo desenvolvido, como Canadá e Alemanha, quanto em países menos desenvolvidos da Ásia, África e América Latina", explica. 

O que é analfabetismo funcional?

São considerados analfabetos funcionais aqueles que conseguem realizar tarefas bastante simples que envolvem a leitura de palavras, pequenas frases e números familiares como o do telefone, da casa, de preços etc. Porém, ao se deparar com textos um pouco mais longos e complexos, números maiores ou que exijam alguma operação para sua compreensão, verifica-se que o indivíduo apresenta dificuldades e não consegue mais realizar uma tarefa.

Os níveis de alfabetismo no Inaf são definidos a partir do desempenho em um teste que aborda situações presentes no cotidiano dos respondentes, considerando tanto habilidades relacionadas a textos - chamadas de letramento - quanto aquelas relacionadas aos números, designadas como numeramento.

O indicador traz evidências de que, mesmo após intervalo de seis anos, não houve mudanças significativas no cenário do alfabetismo no Brasil. E traz um alerta: possivelmente em função dos dois anos de descontinuidades nas trajetórias educacionais e de outras oportunidades de desenvolvimento por conta da pandemia de Covid-19, alguns indicadores de alfabetismo oscilaram negativamente.

Em nota, Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú, disse que os indicadores apontam que estamos diante de um momento crítico e muito preocupante. "Potencializado em meio à transformação digital acelerada pela inteligência artificial e aos profundos desafios das mudanças climáticas, os países se diferenciarão, sobretudo, pela capacidade de formar sua juventude, desenvolver talentos e retê-los para atuar nessas duas novas fronteiras. É alarmante saber que apenas 10% da população brasileira é considerada proficiente em leitura, escrita e matemática. Como enfrentar a desigualdade e ampliar a produtividade com uma população nessas condições?”, questiona.

Palavras-chave analfabetismo funcional

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