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São Paulo, 17/05/2025 - Hoje, dia 17 de maio, é comemorado o Dia Mundial da Reciclagem, que foi instituído pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), com o objetivo de conscientizar sobre a importância da reciclagem e da gestão adequada de resíduos.
Além desta data importante para a preservação do meio ambiente, no último dia 8 de maio, durante a 2ª reunião do Fórum Nacional de Economia Circular, organizada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), foi aprovado o Plano Nacional de Economia Circular. O documento, que traz 18 objetivos e mais de 70 ações, servirá de base para o estabelecimento das políticas de circularidade nos próximos dez anos.
A economia circular tem como princípio a concepção de produtos e serviços, com a finalidade de minimizar a geração de resíduos, circular produtos e materiais no seu mais alto valor e regenerar a natureza. A transição para um sistema econômico circular implica em uma transformação profunda nos modos de produção, consumo e valorização dos recursos. A implementação dessa estratégia requer não apenas a mudança de processos industriais, mas também a adoção de uma nova mentalidade pelas empresas e pelos consumidores.
O objetivo da economia circular é reduzir a extração de recursos naturais e, consequentemente, o desperdício e a poluição, prolongando, assim, o ciclo de vida dos produtos e uma maior reutilização e reciclagem de matérias.
De acordo com o plano, o desafio está em repensar o ciclo de vida dos produtos, desde o desenho até o descarte e sua recuperação, de modo a promover novos ciclos de uso dos materiais, a eficiência de utilização de recursos, a sustentabilidade socioambiental e a produtividade econômica. Isso envolve inovações tecnológicas e a criação de novos modelos de negócios que priorizem a circularidade.
De acordo com o plano, para que a economia circular se torne uma realidade no setor produtivo, é fundamental o engajamento e a colaboração entre empresas, governo, academia e sociedade civil.
A educação para a sustentabilidade deve ser parte integrante das estratégias empresariais, capacitando profissionais a pensarem em soluções inovadoras que alinhem interesses econômicos e conservação ambiental. A transparência na cadeia de suprimentos e o investimento em pesquisa, desenvolvimento e inovação também são cruciais para identificar pontos de ineficiência e oportunidades de melhoria.
Outro ponto essencial das políticas públicas de economia circular é a definição de parâmetros que garantam a transição justa, inclusiva e equitativa do modelo linear para a lógica circular.
O documento ressalta ainda que a ação governamental é vital para incentivar e dar escala e velocidade à mudança, considerando as condições mais propícias para a transição. É preciso um direcionamento claro e fundamental para que se reduza a fragmentação das ações, levando em consideração a natureza global das cadeias de suprimento e dos sistemas de produção e consumo no processo de tomada de decisão.
A mudança para um sistema econômico mais circular não é apenas uma necessidade ambiental, mas uma oportunidade econômica que pode aumentar a eficiência no uso dos recursos, reduzir os custos de produção, criar oportunidades de negócio e empreendedorismo, gerar novos empregos e habilidades, inclusive em serviços de reparo e remanufatura, promover a competitividade nos mercados domésticos e internacionais, e estimular o desenvolvimento sustentável e o bem-estar social.
Especialistas apontam que políticas públicas que promovam incentivos econômicos para práticas sustentáveis são essenciais para estimular a transição.
Para a coordenadora de projetos no Instituto Veredas e doutora em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pela Universidade de Tecnologia de Delft (TU Delft - Holanda), Gabriela Benatti, o plano representa um avanço importante para a transição do Brasil rumo a um modelo econômico mais sustentável.
Ela ressalta que o plano toca em cinco eixos importantes, desde a criação de ambiente normativo e institucional até a busca por apoio às trabalhadoras e aos trabalhadores que estão envolvidos na economia circular.
Além disso, ele foi construído de forma participativa, com realização de consulta pública antes da aprovação. Esse processo sinaliza um compromisso importante com a inclusão social e o diálogo com diversos setores da sociedade."
Nesse sentido, a coordenadora avalia que o plano já nasce alinhado à ideia de uma transição justa, ou seja, uma transformação do modelo econômico que considera as pessoas que hoje atuam nesse sistema, e busca não deixá-las para trás.
O embaixador do Movimento Circular, doutor em Ciências Ambientais pela USP e professor de Economia Circular, Flavio Ribeiro, ressalta a coragem e a ousadia do MDCI de colocar o plano no papel e torna-lo público. “Isso é muito importante, porque por mais que se possa fazer críticas, ou por mais que ainda tenham pontos a serem aperfeiçoados, já existe um ponto de partida para se começar a trabalhar", afirma.
Embora tenha gostado do plano, o professor critica o fato dele não trazer metas numéricas e nem prazos definidos para cada uma das ações. "Isso acontece porque é um primeiro plano onde está se tratando de uma grande diversidade, e cada uma dessas ações precisa ser discutidas em contextos específicos. Esperamos que isso aconteça a partir de agora."
Ele pontua que há uma série de instituições da sociedade civil, entidades representativas, setores industriais e comércio que fazem parte do fórum, e estão comprometidos para promover essa transição.
A construção do plano envolveu representantes de diversos setores: ministérios, empresas, academia e sociedade civil. Após ser disponibilizado para consulta pública em fevereiro de 2025, o documento recebeu mais de 1.600 contribuições, resultando em sua versão final e aprovada.
Para se ter uma ideia, a Maximu’s Embalagens Especiais, empresa que atua na produção de embalagens plásticas para os setores automotivo, hospitalar e eletrônico, implementou um processo interno de reciclagem que já reintegrou mais de 600 toneladas de plástico à cadeia produtiva desde 2021.
Para isso, foram investidos mais de R$ 1 milhão na aquisição e instalação de uma extrusora recicladora, que viabiliza a logística reversa dentro da própria fábrica. O resultado é a transformação de aparas plásticas em novos produtos, como plástico bolha e materiais de proteção.
“Ainda existe uma percepção de que o plástico é o grande vilão ambiental, mas ele não chega aos oceanos sozinho - existe uma responsabilidade humana nesse caminho. Nosso objetivo é mostrar que é possível produzir de forma mais consciente e com menor impacto ambiental. E não se trata apenas de economia - é uma mudança de cultura. Nós entendemos que o futuro da indústria passa pela sustentabilidade”, explica o CEO da Maximu's, Márcio Grazino.
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