A força das matriarcas: mulheres 50+ lideram e sustentam lares no Brasil
Foto: Envato Elements
Por Joyce Canele
redacao@viva.com.brSão Paulo, 03/12/2025 - Os lares brasileiros passaram por uma mudança estrutural relevante nos últimos anos. Desde 2022, as mulheres passaram a ser maioria entre as responsáveis pela liderança da casa, tendência que se consolidou em 2023.
Segundo o Relatório Anual Socioeconômico da Mulher, do Ministério das Mulheres, os dados revelam transformações profundas no perfil das famílias, nas condições de moradia e nas necessidades sociais dessas mulheres.
Em 2023, havia 40,2 milhões de domicílios comandados por mulheres, ante 37,5 milhões sob responsabilidade masculina. A inversão começou no ano anterior e reflete movimentos demográficos e sociais observados pelo IBGE por meio da PNAD Contínua.
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A distribuição regional mostra diferenças importantes: apenas o Norte e o Centro-Oeste ainda têm homens como maioria no comando dos lares.
Já Sudeste, Nordeste e Sul, regiões que concentram a maior parte da população, registram predominância feminina.
Quem são essas mulheres?
O perfil das responsáveis pelos domicílios revela diversidade, mas também padrões consistentes. Do total, 57,2% se declararam pretas ou pardas e 90,1% viviam em áreas urbanas. O Sudeste concentra 42,4% dessas mulheres.
A maior parte vive em unidades domésticas nucleares, modelo que inclui mulheres com filhos ou casais com ou sem filhos. Esse formato representa 65,2% dos domicílios chefiados por mulheres.
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As unidades estendidas, que incluem outros parentes como netos ou sobrinhos, correspondem a 17,9%. Já os domicílios unipessoais, nos quais a mulher mora sozinha, somam 15,7%. O tipo composto, com não parentes convivendo no mesmo espaço, representa 1,2%.
As diferenças regionais reforçam cenários sociais distintos, como Norte e Nordeste que têm maior presença de domicílios estendidos, com porcentuais de 25,8% e 19,8%, respectivamente.
Sudeste e Sul concentram mais lares unipessoais, fenômeno associado ao envelhecimento populacional e à maior longevidade feminina.
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Mulheres idosas no comando dos lares
A idade das responsáveis pelo domicílio indica outro aspecto estruturante, cerca de 93,7% têm 25 anos ou mais, e 38,2% estão entre 40 e 59 anos. No entanto, 26,7% das mulheres que chefiavam domicílios em 2023 eram pessoas idosas.
Esse grupo tem participação especialmente elevada em alguns tipos de arranjo familiar. Entre os domicílios unipessoais, 55% são comandados por mulheres de 60 anos ou mais.
Nas unidades estendidas, elas representam quase 40%, mesmo nos arranjos nucleares, 16,5% das responsáveis eram idosas.
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Mulheres com deficiência
A PNAD Contínua de 2022 mostra que 14,2% das mulheres responsáveis pelo domicílio eram pessoas com deficiência, proporção superior à dos homens, de 9,8%.
O Nordeste concentra os maiores percentuais, tanto entre mulheres quanto entre homens. No Sudeste, os índices são os mais baixos do país.
Nos lares unipessoais, a presença de mulheres com deficiência é especialmente marcante, 25% das responsáveis se enquadravam nessa condição.
A correlação entre idade avançada e maior dificuldade funcional explica parte dessa composição, já que mulheres idosas representam boa parte das moradoras que vivem sozinhas.
Ao observar a população brasileira de 2 anos ou mais, estimada em 209 milhões de pessoas em 2022, cerca de 18,6 milhões eram pessoas com deficiência.
Entre elas, 57,7% eram mulheres, proporção acima da presença feminina total na população, que era de 51,2%.
Saneamento básico
O acesso simultâneo a abastecimento de água por rede geral, esgotamento sanitário e coleta de lixo alcançou 66,7% dos domicílios brasileiros em 2023. Entre as casas chefiadas por mulheres, o índice foi maior, de 68,3% e entre homens, ficou em 64,9%.
As diferenças regionais são expressivas, pois enquanto o Sudeste registrou 89% dos domicílios sob responsabilidade feminina com saneamento adequado, apenas 30,2% dos lares do Norte atendiam aos três requisitos.
Mulheres em domicílios improvisados
O Censo 2022 estimou que 160,5 mil pessoas viviam em domicílios improvisados no país, entre elas, 70,6 mil eram mulheres, o equivalente a 44% do total.
As condições de moradia desse grupo revelam vulnerabilidade significativa, entre as mulheres que viviam em moradias improvisadas, 35,3% estavam em tendas ou barracas de lona, plástico ou tecido.
A parcela restante de mulheres se distribuía entre estruturas degradadas, logradouros públicos, veículos e abrigos naturais.
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