Ex-ministro da Previdência Carlos Lupi nega envolvimento com fraudes no INSS

São Paulo, 09/09/2025 - A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS recebeu na segunda-feira, 8, o depoimento do ex-ministro da Previdência, Carlos Lupi, que negou envolvimento no esquema de fraudes, responsável por desviar de R$ 6,3 bilhões em descontos associativos não autorizados, entre 2019 e 2024. 

O ex-ministro afirmou que só teve noção das proporções do escândalo após a ação da Polícia Federal (PF). "A gente, infelizmente, não tem o poder da adivinhação. Nunca tivemos capacidade de dimensionar o tamanho ou o volume do que esses criminosos fizeram no INSS", defendeu. Lupi reforçou que as denúncias anteriores à investigação da PF foram arquivadas por falta de provas, em 2016 e 2020.

Leia também: Congresso instala CPMI para apurar descontos indevidos do INSS

Questionado sobre o conhecimento do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sobre o esquema de fraudes, o ex-ministro ressaltou que não repassou para o chefe de Estado nenhum indício de desvio. "Eu não tinha informação suficiente para comunicar", apontou. Lupi negou ter contato com figuras centrais como Carlos Camilo Antunes, o 'Careca do INSS' e  nomes de dentro do instituto ligados aos descontos indevidos.

O ex-ministro confirmou ter indicado alguns dos servidores relacionados ao esquema, como Adroaldo da Cunha Portal, ex-secretário do Regime Geral de Previdência, mas defendeu que a responsabilidade pelos desvios caberia ao INSS. "Errar é humano; eu posso ter errado várias vezes. Má-fé eu nunca tive. Acobertar desvios, nunca fiz na minha vida."

Carlos Lupi também negou ter sido omisso ao longo do período em que foi ministro, entre janeiro de 2023 e março de 2025. Para o ex-ministro, houve limitações nas ações da Previdência, mas medidas foram tomadas desde maio de 2023, a partir da reunião entre a PF e o INSS, que sinalizaram desvios externos.

Lupi reconheceu que foi alertado sobre os desvios internos em junho de 2023, pela conselheira Tonia Galletti durante reunião do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS), mas voltou a dizer que medidas foram adotadas na época.

O ex-ministro defendeu que o seu pedido de demissão, no começo deste ano, foi motivado por pressões políticas que tornaram a permanência no cargo "insustentável". "Quero explicar aos senhores parlamentares que eu não sou denunciado, eu não sou citado. Foram feitas dezenas de investigações e depoimentos, e meu nome sequer apareceu."

Próximos passos

Instalada em 20 de agosto, a CPMI do INSS investiga, no Congresso Nacional, fraudes relacionadas a atuação do instituto. Na semana que vem, está previsto o depoimento do 'Careca do INSS', no dia 15, e do empresário Maurício Camisotti, no dia 18. Ambos são ligados à Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec), associação denunciada pelos desvios não autorizados.

A Comissão ouviu a diretora de Auditoria de Previdência da Controladoria-Geral da União (CGU), Eliane Viegas Mota, na última quinta-feira, 4. No depoimento, Mota apontou que o ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, que deixou o cargo em abril de 2024, resistiu em seguir as recomendações da CGU para suspender os descontos automáticos na folha de benefícios.