Carlos Moura/Agência Senado
São Paulo, 30/09/2025 - Preso em flagrante, o presidente da Confereração Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer), Carlos Roberto Ferreira Lopes, negou participação na fraude do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e diz desconhecer detalhes da operação de pessoas e empresas ligadas à entidade.
O depoimento foi concedido para a comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI), que começou na tarde de segunda-feira, 29. Na madrugada desta terça-feira, Lopes foi preso, acusado de mentir para o colegiado, mesmo depois de ter se comprometido a dizer a verdade.
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De acordo com a apuração da Broadcast, entre 2019 e 2024 a Conafer registrou um crescimento de mais de 790 vezes nos descontos de aposentados e pensionistas do INSS. O valor acumulado no período atingiu R$ 688 milhões. A associação está listada entre as entidades que mais acumularam descontos associativos dos segurados, segundo a investigação da Polícia Federal.
Durante a sessão, o presidente da entidade admitiu não achar normal as mais de 71 mil contestações dos aposentados contra os descontos da Conafer, mas garantiu que os segurados que “porventura reclamaram da prestação do serviço” já foram restituídos.
Lopes também constestou os bloqueios que a associação sofreu, que teriam prejudicado a agricultura familiar. "100% das nossas atividades foram bloqueadas, sejam elas institucionais ou financeiras, colocando mais de 1,2 mil funcionários sem serviço, 2.950 municípios sem atendimento, deixando a esperança esperando, os resultados sem ações, os sonhos sem objetivos", lamentou.
O presidente da Conafer foi questionado sobre a prática da entidade de descontar benefícios de aposentados que morreram. Segundo o relator, as investigações da Controladoria-Geral da União (CGU) apontam 2.083 "ressucitados" em 2023 e 1.135 em 2024. Lopes afirmou desconhecer a prática.
O último depoimento para a Comissão foi encerrado com bate-boca entre o advogado de Antônio Carlos Camilo Antunes, o 'Careca do INSS', e o relator Alfredo Gaspar (União-AL). Entretanto, o empresário se comprometeu a compartilhar documentos de suas empresas.
Na quinta-feira, 25, o depoente se recusou a responder as perguntas e acusou o relator de parcialidade. "Não responderei às perguntas elaboradas pelo relator. Segundo meus advogados, Sua Excelência disse, por mais de uma vez, que sou ladrão do dinheiro de aposentados, sem me dar a chance de defesa", justificou.
Antunes está preso preventivamente desde 12 de setembro e teria movimentado R$ 24,5 milhões em cinco meses, com o pagamento de propina para servidores do INSS, para facilitar os descontos na folha de benefícios dos aposentados. O 'Careca' negou participação no esquema das fraudes, mas admitiu que sua empresa prestou serviços às entidades fraudulentas.
"A minha empresa sempre prestou serviços a associações tendo como destinatário final o aposentado associado, mas sem qualquer ingerência ou responsabilidade sobre os descontos incidentes em seus benefícios previdenciários. Tais descontos eram realizados diretamente pelas associações."
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