Ex-ministro de Bolsonaro admite falha em fiscalizar entidades que fraudaram INSS

Jefferson Rudy/Agência Senado

Para Ahmed Mohamad Oliveira, fraude tem início "onde começa o crescimento das entidades sem a prévia autorização das pessoas"" - Jefferson Rudy/Agência Senado
Para Ahmed Mohamad Oliveira, fraude tem início "onde começa o crescimento das entidades sem a prévia autorização das pessoas""
Por Paula Bulka Durães paula.bulka@viva.com.br

Publicado em 12/09/2025, às 13h05

São Paulo, 12/09/2025 - O ex-ministro da Previdência durante o último ano do governo de Jair Bolsonaro, Ahmed Mohamad Oliveira, negou envolvimento com a fraude do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), mas admitiu falhas no protocolo de verificação de oito entidades "fantasmas", aprovadas durante sua gestão.

Oliveira depôs ontem, 11, na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os desvios feitos na folha de benefícios de aposentados e pensionistas do INSS, entre 2019 e 2024. Durante a sessão, o ex-ministro afirmou que não sabia das operações fraudulentas até a Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal (PF) e pela Controladoria-Geral da União (CGU) em abril deste ano.

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Além de ter ocupado o cargo de ministro, Oliveira presidiu o INSS entre novembro de 2021 e março de 2022, e ocupou antes a Diretoria de Benefícios (Dirben). Ele assumiu o primeiro cargo como servidor do INSS em 1985, quando atuou como agente administrativo.

Questionado sobre os acordos firmados no período em que foi ministro, de março de 2022 a janeiro de 2023, com as oito associações "de fachada", Oliveira admitiu erros, porém defendeu que a assinatura do governo em si não é fraudulenta. "A fraude não se dá na assinatura. A fraude se dá onde começa o crescimento das entidades sem a prévia autorização das pessoas", alegou. 

O ex-ministro também confirmou a admissão de Virgílio de Oliveira Filho como consultor jurídico do ministério, suspeito de ter atuado contra o bloqueio de descontos automáticos em folha. O ex-titular do Ministério da Previdência justificou a nomeação pela experiência do procurador em governos anteriores.

Ele também negou o vínculo com o presidente da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares do Brasil (Conafer), Carlos Lopes, e outros nomes ligados à entidade. Os parlamentares apresentaram indícios de operações financeiras entre Oliveira, uma empresa "fantasma" e pessoas ligadas à associação. Em resposta, o ex-ministro disse que não tem “absolutamente nenhuma ligação”.

O depoente defendeu a decisão de manter seu sócio, Edson Akio Yamada, na diretoria do INSS, reforçando que ambos só iniciaram a sociedade quando deixou de ser ministro. Yamada assinou convênios com entidades ligadas a Antônio Carlos Camilo Antunes, o 'Careca do INSS', preso preventivamente nesta sexta-feira, 12, pela Polícia Federal (PF).

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Oliveira também foi acusado pelos parlamentares de agilizar a aprovação da medida provisória (MP) que afrouxou o controle do instituto sobre os descontos de associações em folha. Na época, o ex-ministro assinou uma nota técnica recomendando a aprovação da MP, que originou a lei 14.438/2022. "Estamos colocando os holofotes em cima daquilo que não fizemos. Mas e o universo de coisas que fizemos? Estou me sentindo como se não tivéssemos feito absolutamente nada", questionou.

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