Bailinho e festas flashback fazem sucesso entre público 50+ pelo Brasil

Daniel de Oliveira

O flashback voltou com tudo em festas pelo País - Daniel de Oliveira
O flashback voltou com tudo em festas pelo País

Por Alessandra Taraborelli e Paula Bulka Durães

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Publicado em 29/06/2025, às 09h00 - Atualizado às 13h23

São Paulo, 29/06/2025 - Se você tem mais de 50 anos com certeza já foi em um “bailinho" na garagem, aquele em que quem não dançava segurava a vassoura à espera de um par, ao som de pop e rock, regado a coquetel de frutas. Pois as festas com músicas dos anos 70, 80 e 90 estão voltando com tudo. É uma boa oportunidade para sair para dançar e se divertir com a turma ou fazer novas amizades. 

Henriete Magnabosco, proprietária do restaurante Florisbela, em São Paulo (SP), identificou uma carência de oferta desse tipo de ambiente – lugares que tocam flashback – e lançou, no ano passado, o “Bailinho de garagem”.

A ideia surgiu após ela conversar com uma amiga sobre opções para o Dia dos Namorados do ano passado. Durante o bate-papo, Magnabosco lembrou que quando era jovem costumava frequentar bailinhos. A amiga, mais nova, ficou encantada com a história e convenceu a proprietária a criar esse ambiente em seu restaurante. 

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Carlinhos Oxydance e Henriete Magnabosco na festa "Bailinho na garagem", em São Paulo - Foto: Acervo pessoal

As amigas insistiram para uma próxima e assim foi, até que uma frequentadora sugeriu que Magnabosco conhecesse o seu irmão, o DJ Carlinhos Oxydance, produtor musical e radialista do programa Oxydance, transmitido na Web Vintage Radio, e que há mais de 35 anos organiza bailes de flashback. A parceria deu “match”, e o bailinho, que começou sem pretensão, vai realizar a 7ª edição no próximo dia 4 de julho. 

“O restaurante é um espaço de memória afetiva, quem frequenta se sente na casa da avó, a comida e o ambiente são afetivos. Aí, pensei: nada como resgatar o bailinho também como memória afetiva. Quanto eu escuto as músicas, eu me arrepio, fico muito emocionada... Então, eu fiz o primeiro baile e as pessoas adoraram.”

Esse sentimento vai além da nostalgia, é também um fator de saúde. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as manifestações artísticas e culturais influenciam positivamente a saúde física e mental das pessoas. No caso da música, ela age em diferentes áreas do cérebro humano, estimulando quatro neurotransmissores: a dopamina, endorfina, ocitocina e serotonina. O quarteto é responsável pela sensação de satisfação, felicidade, relaxamento e bem-estar que sentimos ao realizar essa e outras atividades.

Magnabosco explica que por se tratar de um restaurante, o espaço é pequeno, comporta cerca de 150 pessoas, e para realizar o evento é necessário mudar o ambiente, retirando mesas e cadeiras do salão principal. “É uma casa pequena, por isso é uma festa intimista. Eu estou propiciando momentos de recordação”, afirma, acrescentando que além do salão há o jardim, onde ela deixa algumas mesas e cadeiras. “Nós somos velhos, tem o salão para dançar e o jardim para descansar”, brinca. 

Além das garagens

Festas que foram sucesso nos anos 80 e 90 como Overnight, Toco, Broadway, The History, Túnel do Tempo, em São Paulo, estão de volta em edições especiais e realizadas por profissionais como o próprio Carlinhos e o DJ Vadão (Osvaldo Vieira), radialista da rádio Energia 97fm, que organizam essas festas. 

Oxydance ressalta que esse público é exigente e quer eventos de qualidade. “É unânime, essa geração sente saudade dos nossos tempos, dos anos 70, 80 e 90. Mas as festas precisam ser bem-feitas e bem promovidas”, conta o DJ, que há 35 anos está na pista.

Agora, o desafio é a comunicação, que tem que ser feita com muita antecedência. “Não adianta você divulgar uma festa na próxima semana. Precisa de, no mínimo, uns 40 dias de trabalho de divulgação para festas grandes, como Toco e Overnight, por exemplo”. 

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“Você não vai ter uma música de hoje sendo ouvida daqui cinco anos como um sucesso", Dj Vadão - Acervo pessoal

Os DJs concordam que um dos motivos que contribuem para a permanência dessas festas é a sensação dentre a geração 50+ de que falta música boa hoje.

“Você não vai ter uma música de hoje sendo ouvida daqui cinco anos como um sucesso. Se bobear, uma música que é ouvida hoje nas paradas, talvez ninguém lembre dela o ano que vem. É muito diferente das músicas dos anos 70, 80, 90”, avalia Vadão.

Carlinhos concorda que música é um negócio sério. “Eu sempre falei nos meus programas de rádio, música não tem ano, não tem data, a música boa é atemporal”, afirma ele, que foi radialista.

Diversão com conforto

Outro ponto de atenção para quem quer fazer uma festa do tipo, é que os 50+ gostam de se divertir, porém, com conforto. De acordo com Vadão, ao programar uma festa de flashback ele também se preocupa em oferecer um ambiente agradável e acolhedor. Para isso, os espaços possuem mesas e cadeiras, garçons para atender e as pessoas não precisarem ficar se deslocando para consumir alimentos e bebidas.

E, claro, tem a questão do horário. Esse público costuma ser o primeiro a chegar e também o primeiro a ir embora. A estratégia de Vadão é a seguinte:

“São pessoas que não ficam até o final da festa, por isso, procuro tocar as músicas mais antigas logo no início para atender esse público, que chega mais cedo, e reservo as músicas mais recentes para o final, quando o público mais jovem está presente”. 

Sim, tem jovens também nessas baladas. Alguns costumam trazer os filhos e até os netos para curtirem juntos. “As pessoas mais velhas procuram reviver bons momentos e os mais jovens se interessam pela musicalidade do passado e sempre voltam”, revela o DJ. 

Adriana Moura Freitas, 52, em uma festa flashback em Curitiba (PR)
Adriana Moura Freitas, 52, em uma festa flashback em Curitiba (PR) - Acervo Pessoal

Conforto e um ambiente agradável é o que a bancária Adriana Moura Freitas, 52, procura quando quer curtir a noitada. Apesar de ser fã de música eletrônica – ao ponto de frequentar festivais ao redor do País – a curitibana se incomoda com a falta de educação e o empurra-empurra em baladas que tocam hits mais atuais.

“São festas com pessoas mal educadas, que esbarram em você e não pedem licença, derrubam bebida… Isso já não acontece nas flashbacks que frequento”.

Desde que se divorciou há cinco anos, Adriana busca sair pelo menos duas vezes por mês para dançar sucessos do rock nacional e internacional dos anos 80 e 90, como Queen, Legião Urbana, Paralamas do Sucesso e Bon Jovi.

“Eu geralmente vou sozinha mesmo, mas sempre faço novas amizades e encontro alguém para conversar. Tenho grandes amigos que fiz nessas festas. Inclusive, já me envolvi romanticamente com alguém que é meu parceiro até hoje”. 

O despachante Sandro Rasbold, 51, prefere os sucessos do europop e da disco – Madonna, Cyndi Lauper, The Police, The Cure, Technotronic – e não se sente tão antenado nas músicas atuais. “Confesso que estou um pouco por fora dos lançamentos de hoje. O estilo de música que eu curto nunca mudou, só a mídia que eu uso para ouvir. Antes era fita, depois veio o CD, mp3 e agora os streamings”. 

Além das festas itinerantes, Sandro curte a casa Layout80, também em Curitiba (PR), que toca músicas dos anos 80 aos 2000, próxima ao centro da cidade. A casa tem uma pista de dança com bar e uma área de restaurante, com mesas para sentar. “Nessa fase dos 50 eu procuro me divertir, fugir da rotina do trabalho, casa, filhos e contas para pagar. Agora, se começa cedo ou acaba cedo não importa para mim, eu procuro aproveitar enquanto estou me divertindo”. 

“Cada música traz uma lembrança de algum momento da sua vida, seja você andando de carro, uma viagem, uma antiga namorada… Nós recordamos o tempo todo de quando éramos jovens. Antigamente, eu olhava para meu pai com 50 anos e achava ele velho. Meu filho pode até olhar para mim assim, hoje sou mais maduro, tenho meio século de vida, mas continuo sendo o mesmo menino e adolescente de sempre”, reflete.

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