Foto: Divulgação/Wenying Li, Instituto de Relíquias Culturais e Arqueologia de Xinjiang
Por Beatriz Duranzi
[email protected]Pesquisadores chineses identificaram o queijo mais antigo do mundo, datado de aproximadamente 3.600 anos, em múmias do cemitério de Xiaohe, na Bacia do Tarim, região de Xinjiang, noroeste da China.
As múmias, excepcionalmente preservadas devido ao clima árido e sepultamentos herméticos, apresentavam resíduos de uma substância branca ao redor do pescoço e peito. O estudo publicado pela revista científica Cell Press, confirma que se trata de uma forma primitiva de queijo kefir.
Utilizando técnicas avançadas de extração de DNA antigo, a equipe liderada por Qiaomei Fu, do Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia de Vertebrados da Academia Chinesa de Ciências, conseguiu identificar DNA mitocondrial de vaca e cabra nos resíduos, indicando que os queijos foram produzidos separadamente com leite desses animais.
Além disso, foram detectadas espécies de bactérias e leveduras, como Lactobacillus kefiranofaciens e Pichia kudriavzevii, comuns nos grãos de kefir modernos.
A descoberta sugere que a produção de kefir pode ter se originado ou sido mantida na região de Xinjiang desde a Idade do Bronze, desafiando a crença de que o kefir surgiu exclusivamente nas montanhas do Cáucaso. A análise genética revelou que a cepa de L. kefiranofaciens encontrada é mais próxima das variantes tibetanas do que das europeias, indicando uma possível rota de disseminação do kefir do noroeste da China para o Tibete e outras partes da Ásia Oriental.
Além disso, o estudo observou que, ao longo de milênios, as bactérias do kefir evoluíram, adquirindo genes que melhoraram sua capacidade de fermentação e reduziram a resposta inflamatória no intestino humano. Essa adaptação pode ter facilitado o consumo de laticínios por populações asiáticas, majoritariamente intolerantes à lactose.
O cemitério de Xiaohe, descoberto no início do século XX, contém sepultamentos datados entre 3.300 e 3.600 anos atrás. As múmias foram enterradas em caixões de madeira invertidos, cobertos com couro bovino, criando um ambiente hermético que preservou corpos e artefatos, incluindo o queijo.
A identificação do queijo mais antigo do mundo não apenas enriquece nosso entendimento sobre a dieta e práticas funerárias das populações da Idade do Bronze na Ásia Central, mas também oferece entendimentos valiosos sobre a evolução de alimentos fermentados e sua relação simbiótica com os seres humanos ao longo da história.
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