Carlos Pupo / Estadão Conteúdo
São Paulo, 13/07/2025 - Hoje, 13 de julho, é festejado o Dia Mundial do Rock, e para comemorar esta data o Viva recebeu nesta semana o roqueiro Supla. Eduardo Smith de Vasconcellos Suplicy, filho dos políticos Eduardo Suply e Marta Suplicy, conquistou espaço com seu som, carisma e jeito sincero.
Com 59 anos e 40 de carreira, Supla é também ator e apresentador de televisão, acumulando inúmeras turnês, canções, participações em filmes, novelas e programas de auditório.
Em entrevista ao Viva, o artista conta sobre o lançamento do seu novo LP no final de julho. Ele não quis revelar o nome, "por uma questão estratégica", mas adiantou que já lançou alguns singles do álbum, como "Feel Bully" e "Nosferatu". “É um álbum que eu estou very proud of, bem orgulhoso”, diz.
Supla afirma estar no seu melhor momento, e para dar conta dos shows, atuação e entrevistas, por exemplo, ele se prepara com fisioterapia e procura manter sua mente sempre ativa. Leia a seguir a entrevista:
Viva: Você é um ícone do rock dos anos 1980 e 1990, com 40 anos de carreira e prestes a lançar seu vigésimo LP no final de julho. O que podemos esperar dele?
Eu peço perdão porque não posso adiantar o nome ainda, vou fazer isso essa semana, senão eu fico sem munição. Já lancei alguns singles do álbum, tipo "Feel Bully" e "Nosferatu", o cover "Be My Family", "Livre"...
Essa música "Livre" é romântica. Você é romântico?
É uma música que eu gosto muito, ela é romântica, eu sou romântico também.
O álbum foi gravado no Brasil?
Foi gravado uma parte em Los Angeles, com músicos locais. É uma banda que eu tenho em LA, que me acompanha. Tem o guitarrista que tocou no Dropkick Mer e no Mighty Mighty Boston; o baixista que tocou no Agro Lights, que é tipo meio reggae. E eu gravei algumas canções com eles, que estão no álbum. E tem a minha banda, os Punks de Boutique, que eu já venho tocando há três anos. É um álbum que está super bem balanceado, vai sair em vinil também, e tem seus momentos muito punk rock, como "Nosferatu", que é uma música meio bossa nova gótica, sabe? É um álbum que eu estou ‘very proud of’, estou bem orgulhoso do álbum.
As décadas 1980 e 1990 foram os períodos em que o rock estava em alta. Hoje, o rock já não é mais uma prioridade dos jovens. A que você atribui isso, é falta de interesse, falta de bandas ou à diversidade?
Acho que é diversidade mesmo. Tem muitos estilos, é uma coisa bem democrática hoje em dia, com a internet. Eu acho também, posso estar enganado no que eu estou falando, mas eu acho que para fazer rock precisa de um pouco de dinheiro. Você precisa de um estúdio para ensaiar, precisa de um bom equipamento para tirar um som legal. Por exemplo, um cara que canta rap ou trap, ele consegue fazer uns cinco shows na noite - sem desmerecer o trap ou funk, eu respeito todos estilos. Só que, por exemplo, eu gravei um funk, só eu e o DJ. Eu cheguei lá, cantei em cima do beat, e está pronto. É mais prático. Eu também não vejo nenhum novo roqueiro e, com certeza existe, sabe tipo um garoto de 18, 19 anos no auge do sucesso, cantando rock'n'roll, eu não vejo isso. Então, não tem com quem se identificar para ir atrás.
Por que lançar um LP, em vinil?
Porque eu adoro vinil, acho bonito, tem um som legal, é vintage. As pessoas que apreciam o meu trabalho vão ter uma lembrança, um tipo de souvenir. É bonito. Um monte de gente compra vinil. É uma coisa que meio que voltou e tem também a geração antiga. Acho que isso é a mesma coisa de falar que 'gente velha não gosta de internet'; isso aí foi uma salvação para os avós.
Que dica você dá para quem está começando e quer fazer rock?
Acredite em você. Tenha um trabalho para pagar as contas. Isso é o que acontece com qualquer cantor que vai pra Los Angeles, ele trabalha de garçom. Eu trabalhei em Nova York fazendo a minha música. Eu era demolidor de parede, jogador de futebol.
Muita gente confunde, acham que meu pai e minha mãe estavam lá. Não, eu fiz as minhas coisas, tinha dinheiro para ficar uns cinco, seis meses. Larguei gravadora, tinha novela para fazer aqui, larguei tudo para ser ‘Mr. John Pizzer’.
Tem que seguir o seu coração, acreditar. Porque se você não tentar, vai ficar sempre aquela pulga atrás da orelha. Se dedique, não importa o que você esteja fazendo, se dedique. Isso não é só para a música, é para a sua vida mesmo. E tenha noção se o seu trabalho está bom ou não.
Você acha que dá para começar fazendo rock aqui no Brasil?
Lógico que dá. Você pode acertar uma grande canção. Você tem que acreditar. Uma vez um cara falou para mim: 'seu estilo aqui já foi, não dá mais certo'. Eu saí da Casa dos Artistas (reality show realizado pelo SBT), vendi um milhão de álbuns e ainda virei boneco ‘action figure’, e mandei um para ele e falei: 'eu virei boneco, aquele estilo que você falou que não ia dar certo'.
Mas é difícil ignorar as opiniões, ainda mais hoje com a redes sociais 24h...
Tudo bem, as pessoas podem dar opiniões, todo mundo diz o que pensa hoje em dia. Mas você tem que acreditar em você e ter essa noção. Por exemplo, uma vez uma pessoa veio me dar um CD e eu perguntei: a música está boa? Não é questão de ser humilde, precisa ser honesto. Se você não me diz que a música está boa, eu não quero nem escutar.
Hoje, vemos muitos músicos independentes e também grandes artistas fazendo seus lançamentos nas redes sociais. Você acha que as gravadoras fazem falta na produção de jovens talentos?
Você pode ter um estouro no Spotify, você paga e fica um mês em alta, depois para de pagar e cai. As gravadoras estão de olho nas oportunidades que aparecem, nos burburinhos. Eu nunca vi uma gravadora trabalhar alguém que não tenha um burburinho em volta. As gravadoras também podem contratar uma pessoa só porque gostou da música, da voz, por exemplo.
Você tem quase 60 anos e como se prepara física e mentalmente para curtir, dar entrevista, subir no palco, fazer seus shows?
Não só para música, é muito importante você tomar conta da sua saúde. Porque quando você ficar mais velho, tem aquela coisa de poder andar melhor. Quantas pessoas mais velhas você já ouviu falar que caíram no banheiro, bateram a cabeça e morreram? Eu tento me cuidar ao máximo.
O que você faz para se cuidar?
Eu faço fisioterapia, porque eu tenho dois pinos na perna, e gasto muita energia no meu show. Eu sempre tento me manter ‘very active in my mind’, sempre muito criativo. Todo dia criativo, pensando, falando, lendo, conversando. Se manter criativo. Sempre. Porque se você parar de raciocinar, você afunda.
Com a idade vêm as limitações. É um problema para você ou um plus criativo?
Não, não, eu sempre tive um gás porque, eu sempre tive que provar um pouquinho a mais, por ser filho de político. Isso foi um gás para mim, um impulso. A Cher (cantora norte-americana) já dizia ‘It sucks getting old’, é uma bosta ficar mais velho, o cabelo vai caindo a barriga vai aparecendo, mas é do ser humano.
Você curte o seu atual momento?
Eu amo o meu atual momento. Eu amo a minha banda, como se fosse a minha família, vejo esses caras muito mais que a minha família, eu vivo 24 horas isso. Eu curto estar aqui falando com você, eu gosto do meu trabalho, gosto de todo o processo, desde fazer a canção, entrar no estúdio, ver como ela ficou. O payback maior é quando você está ao vivo e o público já vem cantando com você. Eu posso falar para você, eu sou muito grato por poder viver disso que eu faço.
De onde você tira inspiração. Como é o seu momento de criação?
Eu escrevo das coisas que eu estou sentindo. Pode ser de amor, por exemplo, no meu último álbum eu tinha falado sobre as “Ratazanas do iPhone”, música que fala sobre os assaltos que aconteceram na minha frente. Eu escrevo do que eu sei, do que eu sinto, do que eu estou vendo. Eu acho importante o artista tentar ser o mais honesto possível. Com ele mesmo também. Tem artistas que só cantam música de amor. ‘It's great’. Se isso é o que você gosta, ‘do it, man’. Se dedique.
Mas você não tem um momento específico para compor?
Também. Falo como os caras da minha banda: vamos fazer um jam? E vamos. Mas se eu tiver uma ideia agora, por exemplo, essa última música que eu lancei, a Livre, as palavras estavam mais ou menos num sonho, acordei e já escrevi: 'tive um sonho com você, era um dia lindo, pensei em te escrever e dizer o que sinto', era uma coisa que eu acordei meio com isso, aí eu escrevi. Mas não tem hora.
Você é muito versátil, além do rock você também já andou por vários ritmos...
Mas sempre com a atitude. Atitude roqueira, tem até funk, trap, e beleza, e também tem uma coisa com o meu irmão, João Suplicy, Bossa Nova, Panca Nova.
Você está no filme sobre a vida de Raul Seixas, como Elvis Presley. Você gosta de ser ator, tem mais algum projeto como ator?
Supla: Sim, eu fiz o Elvis, e participei do filme Criatura, produzido pela Paris Filmes. No ano que vem, vai ser lançada a série Wander, que eu também atuei. A série conta a história de um vampiro que não gosta de ser vampiro e que trabalha como motoboy. Eu gosto de atuar, acho muito legal. Quando tiver oportunidade para atuar em algum projeto, será um prazer.
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