Uma avó, uma neta e uma jovem escritora: Aline Bei lança seu terceiro livro

Divulgação Companhia das Letras

A paulistana Aline Bei lança seu terceiro livro, "Uma delicada coleção de ausência", romance que liga bisavó, avó e neta - Divulgação Companhia das Letras
A paulistana Aline Bei lança seu terceiro livro, "Uma delicada coleção de ausência", romance que liga bisavó, avó e neta
Por Luana Pavani [email protected]

Publicado em 26/06/2025, às 11h09 - Atualizado às 13h45

São Paulo, 26/06/2025 - Em campanha de lançamento de seu terceiro livro, "Uma delicada coleção de ausências" (Companhia das Letras, 288 págs) Aline Bei tem feito longas sessões de autógrafos. As filas com numerosos fãs coroam uma trajetória que começou em 2017, com o lançamento de "O Peso do Pássaro Morto", que ganhou o prêmio São Paulo de Literatura, livro lançado pela editora Noz, e que ela mesmo vendia e promovia no Instagram, percorrendo um a um perfis de amantes da literatura e depois enviava via Correios.
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O novo livro de Aline Bei, "Uma delicada coleção de ausências", é focado na relação de Laura e sua avó Margarida - Reprodução
Com o segundo livro, "Pequena coreografia do adeus", pela Companhia das Letras, foi finalista do prêmio Jabuti (2022) e ampliou a base de leitores - e de seguidores nas redes sociais, mantendo a troca de mensagens. 
Agora, a autora de 37 anos, apresenta  "Uma delicada coleção de ausências", o primeiro deles narrado em terceira pessoa, romance sobre a relação entre bisavó, avó e neta.
"Sou muito aberta a meu público, na medida do possível. Não há arte sem público", diz Bei, que além da faculdade de Letras também se formou no Teatro Escola Célia Helena. "Como artista, aprendo todos os dias com meus leitores que têm a generosidade de compartilhar comigo como se sentiram".
O Viva participou do evento de lançamento, em São Paulo, na última quarta-feira (25), na livraria Megafauna, com auditório cheio e fila que dobrava a esquina para a sessão de autógrafos.
A seguir, Aline Bei fala sobre "Uma delicada coleção de ausências": 

Novo formato (sem spoiler)

O "Delicada" se passa em presente contínuo, ao contrário dos outros dois, que são no passado. Outra mudança é a voz da narrativa, agora em terceira pessoa. O que eu posso contar, sem dar muito spoiler, é que fala da protagonista Laura, que não conheceu a mãe, Glória, e é criada pela avó, Margarida. A Laura se pega muitas vezes pensando quem é a mãe, mas tem a sorte de ter um lar, muito afetuoso, com a avó muito comprometida na criação dessa menina. E temos a outra protagonista que chega, a Filipa, que é a mãe da Margarida, contando do passado. Ela vai abrindo rupturas na família, também para os leitores, que vão se havendo com a história dessas mulheres. 
A Margarida em si foi inspirada em uma mulher que vi num passeio, em Buenos Aires, em 2019. Eu a vi de costas, encurvada ligeiramente, sentada em uma mesa coberta com uma toalha florida, num espaço público. Talvez o nome da personagem tenha vindo dessa cena, inconscientemente. E tinha uma tabuleta nessa mesa escrito: 'Leio mãos'. Eu não fui lá, nem fui ver o rosto dela. Acho que na escrita tem essa questão de não ser por inteiro, ser penumbra, ser desejo, ser a tentativa de. Talvez se eu a tivesse visto por inteiro, lido a mão, teria escrito outro livro, mas este não. 
Naquele momento eu ainda estava escrevendo "Pequena Coreografia do Adeus", e a protagonista Júlia  fica pensando que teria sido bom ter tido uma relação com a avó. E ela diz em um determinado momento:
"É uma pena que a maioria das nossas avós vão embora antes de virarmos pessoas que sabem aproveitar uma conversa".
E tive essa intuição de que meu próximo livro seria sobre a relação de avó e neta.

Infância e amizade

Tenho muitas meninas nos meus livros. A Laura tem as amigas da escola. Apesar da perda dos pais, a Margarida supre, lhe dá essa segurança, ela é a família da Laura e elas duas são completas. Já a Júlia e a mãe têm uma relação desfuncional em "Pequena", e no "Pássaro" aparece a escola quando a protagonista, que não tem nome, perde a amiga da mesma idade, não há tempo para brincar, um desenvolver-se natural da infância, que eu queria trabalhar. Em algum momento das minhas leituras, finquei meus pés na literatura de Elena Ferrante. Da relação de amizade que ela traça em "Uma amiga genial", me alimentei e aprofundou minha pesquisa.
A Laura veio dessa investigação de pátio, porque se na casa, ela sente que ela precisa proteger a avó da pessoa que ela é na escola, por ser mais livre. São essas heterotopias (citando Foucault) no pátio, lugares que se abrem quando as amigas vão brincando. E nesse movimento ela começa a descobrir ângulos, possibilidade, desejos... e chega em casa e guarda tudo isso. A gente precisa mesmo velar, vigiar algumas coisas.
A Margarida também tem isso, ela diz que o adulto precisa esperar que o passo da criança se alinhe com o nosso, viva algumas coisas, para então podermos contar algumas coisas. Se for antes da criança experimentar, a gente tem a chance de não ser escutado. 

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