Os brasileiros têm dificuldade de compreender a conta de energia elétrica, de acordo com levantamento da empresa de geração distribuída Bulbe Energia. A enquete aponta que oito de cada 10 consumidores no País leem a fatura, enquanto apenas quatro deles compreendem de fato o que está escrito.
Segundo a pesquisa, 34% daqueles que responderam o questionamento não sabem explicar a razão da alta no valor cobrado ao ler a fatura. As maiores dúvidas estão relacionadas a fatores como a relação entre o consumo de energia e o valor cobrado (48%), a bandeira tarifária (41%) e os impostos e taxas adicionais (40%). Os dados consideram que uma mesma pessoa pode ter mais de uma dúvida.
Diante deste cenário, 10% dos consultados buscam gráficos no site da concessionária para entender a conta, enquanto 5,6% utilizam aplicativos que monitoram o consumo em tempo real. A interação direta com as distribuidoras se dá para apenas 1,6% dos entrevistados, que buscam tirar dúvidas com as concessionárias seja de forma online ou presencialmente.
Já a busca por notícias na TV, rádio ou redes sociais sobre as motivações das variações é feita por apenas 6% dos participantes.
O levantamento ouviu 500 pessoas de todos os Estados do País com mais de 18 anos e de todas as classes sociais via plataforma de pesquisas online no último dia 28 de fevereiro.
Mudança passa por regulação\
O diretor executivo de regulação da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Ricardo Brandão, reconhece que há espaço para melhorias nas faturas, de modo a facilitar a compreensão dos consumidores, mas lembra que o tema é objeto de regulamentação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
"Por mais que as distribuidoras façam simulações, estudos de layout, entre outras iniciativas, o espaço pra modificação e aprimoramento é pequeno, porque essa forma de demonstração dos dados está na Resolução Normativa nº 1.000, de 2021", afirmou ao Broadcast Energia.
Ele disse também que parte do desafio é equilibrar as informações que precisam ser publicadas com o espaço e a didática. "O espaço é diminuto e a gente fica sempre num dilema entre aumentar a quantidade de informações e, assim, o consumidor ter mais acesso a dados e aumentar a transparência, ou buscar uma forma que seja mais didática. Mas, por outro lado, eu reduzo a quantidade de informações disponíveis ao consumidor. Então, não é, de fato, uma coisa muito simples", completou.
Neste contexto, a agência reguladora tem tomado algumas medidas para padronizar as contas. Em fevereiro deste ano, publicou o manual de instruções para padronização do número de identificação das unidades consumidoras e demais instalações conectadas ao sistema da distribuidora. "O objetivo é facilitar a visualização do número da unidade consumidora e, dessa forma, aprimorar a operação e a qualidade dos serviços prestados pelos agentes do setor elétrico", informou à época.
O levantamento traz ainda informações relativas às preferências dos entrevistados quanto à tarifa: 42,4% dos participantes gostariam que a conta trouxesse um desconto para quem adotar medidas de eficiência energética; 42% gostariam de um sistema de tarifa onde o preço varia ao longo do dia, permitindo economia em horários de menor demanda; enquanto 17,8% gostariam de um modelo pré-pago.
Essas situações já estão em teste em alguns locais do País por meio de sandboxes tarifários, que são ambientes regulatórios experimentais. Brandão lembra, porém, que essas experiências têm um horizonte de cinco anos. "A gente está mais ou menos na metade do caminho. Teremos muito material, massa crítica e dados para avaliação da Aneel, para depois escolher qual é o modelo que vai se adaptar melhor à realidade brasileira", pontuou.
Ele avalia ainda que a discussão da modernização das modalidades tarifárias deve ocorrer antes de uma decisão sobre a abertura de mercado para os consumidores atendidos em baixa tensão, o que permitiria às residências e pequenos comércios deixarem de ser atendidas pelas distribuidoras para escolher seu fornecedor de energia elétrica.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, já sinalizou que o governo pensa em promover a abertura total do mercado de energia em 2030, mas até o momento a discussão não avançou.