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Começar de novo: como sair do vermelho e organizar as finanças em 2026

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Reorganizar os gastos e manter as finanças sob controle exige perseverança e mudança de hábitos, mas o esforço vale a pena - Imagem gerada por IA
Reorganizar os gastos e manter as finanças sob controle exige perseverança e mudança de hábitos, mas o esforço vale a pena
Por Thiago Lasco

31/12/2025 | 13h30

São Paulo, 31/12/2025 - Fim de ano é tempo de retrospectiva e balanço. Hora de avaliar o que andou bem em 2025 e o que precisa melhorar ou ser diferente no próximo ciclo. E uma das resoluções mais tomadas neste momento costuma ser em relação à vida financeira: quitar as dívidas, reorganizar os gastos e garantir que, daqui para a frente, as contas vão andar na linha. Viver no vermelho, nunca mais.
Mas nem sempre é fácil dar essa virada. Ela requer método, disciplina e uma boa dose de perseverança. Para o planejador financeiro Andrés Montano, o esforço é comparável ao necessário para adotar uma alimentação mais saudável.
“A pessoa vai precisar cortar ou reduzir o consumo de açúcar, bebidas alcoólicas, alimentos ultraprocessados. Com dinheiro, é a mesma coisa: será preciso abrir mão de algumas coisas e fazer certos sacrifícios nesse período de recuperação da saúde financeira, para mudar de vida”, compara.
Nesse processo, a ansiedade está sempre à espreita, mas é preciso não sucumbir e ter paciência. “Eu percebo principalmente dois comportamentos entre os endividados. Ou a pessoa não quer encarar a própria situação, ou fica afobada tentando resolver tudo ao mesmo tempo”, diz a planejadora financeira Paula Bazzo, da Planejar. “Mas ela precisa se conscientizar de que o endividamento se construiu ao longo de meses ou anos e, a menos que surja algum dinheiro inesperado, não vai se resolver em poucas semanas.

Por onde começar?

O primeiro passo é encarar a situação de frente e descobrir o tamanho do problema. Faça uma lista de todas as suas dívidas, especificando credor, valores, taxa de juros, vencimentos e atraso. 
Use os seus extratos, faturas e outros registros dos últimos meses para apurar as entradas e saídas de dinheiro. Quanto e quando você recebeu? Quanto, quando e onde foi gasto? Isso vai criar uma espécie de “mapa” da sua vida financeira, que vai mostrar quanto sobrou ou faltou a cada mês.
“Identifique os excessos: reduza custos fixos, renegocie serviços, elimine os desperdícios. Mas não deixe de manter algum lazer, pois sem isso a probabilidade de desistência aumenta”, ensina Paula.
A partir daí, calcule de forma realista quanto você conseguiria dispor de recursos para começar a pagar suas dívidas. A ideia não é eliminá-las da noite para o dia, mas reorganizá-las (leia mais abaixo), deixando as parcelas mensais menos prejudiciais ao seu orçamento mensal. Em outras palavras, a dívida tem que caber no seu bolso.
“Isso pode ser feito renegociando com os credores, unificando várias dívidas, fazendo portabilidade, trocando uma mais cara [com taxa de juros mais alta] por outra mais barata, entre outras formas”, enumera Montano.
Se você puder, busque maneiras de gerar renda extra (leia mais abaixo). Isso vai trazer algum alívio para o orçamento nesse período de ajuste e ajudará o plano a funcionar por mais tempo, até que as dívidas sejam eliminadas.

Como fazer o inventário de despesas e receitas?

Existem várias maneiras possíveis, do velho caderninho aos aplicativos para celular, passando pelas planilhas eletrônicas. Encontre uma solução que funcione para você e que consiga ser mantida ao longo do tempo.
O caderninho é democrático e muito fácil de começar: reúna extratos bancários e faturas de cartão de crédito e mãos à obra. Quem tem familiaridade com o computador vai se dar bem com as planilhas. Alguns aplicativos de celular podem se conectar com os bancos e puxar os lançamentos diretamente da sua conta corrente, automatizando o processo.
Esse inventário deve conter: entradas (salários, pensões, rendas com aluguéis), despesas essenciais (moradia, saúde, alimentação, transporte), supérfluos (gastos com lazer, restaurantes, viagens, salão de beleza, vestuário, presentes) e uma coluna de objetivos de vida, com recursos que formarão uma reserva financeira, para projetos de médio e longo prazo”, explica Paula. O resultado de cada mês, positivo ou negativo, é a diferença entre as entradas e as saídas.

Quais dívidas pagar primeiro? 

A regra geral é priorizar as dívidas pelo risco (dívidas cujo não pagamento traga consequências mais graves) e pelo custo (taxas de juros mais elevadas). Essas devem ser quitadas primeiro, afirmam os dois planejadores financeiros.
Na primeira categoria, estão as dívidas com bem em garantia, como financiamentos de imóveis ou veículos, em que há o risco de perda do bem, e as contas essenciais, como aluguel, energia, água e gás, em que a falta de pagamento pode levar ao despejo ou ao corte no fornecimento dos serviços.
No segundo grupo, das mais “salgadas”, costumam estar dívidas de cheque especial, cartão de crédito (rotativo ou parcelado) e empréstimos pessoais com juros elevados.
Quase sempre existe a possibilidade de renegociar. O que não significa que toda renegociação seja necessariamente boa: é preciso avaliar com cautela se as novas condições vão realmente trazer um alívio ao orçamento.
“Feirões e plataformas oficiais, como Desenrola e Serasa Limpa Nome, costumam oferecer descontos reais, mas é importante já ter feito a lição de casa para fazer uma renegociação que caiba no orçamento. Se não houver uma mudança de comportamento, com escolhas mais conscientes e responsáveis, o problema vai apenas crescer e se arrastar por mais tempo”, diz Paula.

Como enxugar gastos sem sufocar a vida?

Com moderação. Se o plano ficar pesado demais, não vai dar certo por muito tempo. “Normalmente, as despesas variáveis são mais fáceis de serem revistas do que as fixas, mas nada impede que essas também sejam consideradas. A ideia não é ter uma vida chata, mas adequar os gastos à renda real, o que vai trazer mais tranquilidade para a família”, afirma Montano.
Paula diz que uma proporção frequentemente utilizada é a 50-30-20: 50% do dinheiro vai para despesas essenciais, 30% para supérfluos e lazer e 20% para objetivos de vida. “Eu não defendo ‘supérfluo zero’, porque isso costuma gerar recaídas. A pessoa precisa de um mínimo de prazer para sustentar o plano”.
A especialista da Planejar acrescenta que fazer cortes em despesas essenciais, como moradia e transporte, pode ser a saída para provocar um impacto mais expressivo no orçamento.
“Em casos mais críticos, é preciso reduzir o padrão de vida e consumo, trocando o carro pelo transporte público e cozinhando mais em casa, por exemplo. Mudar-se para um bairro mais barato traz um efeito cascata: aluguel mais baixo, IPTU menor, supermercados mais baratos”, ela analisa. 
“Vale também repensar as mensalidades de internet, celular e academia e mudar planos para versões mais enxutas. Elimine taxas bancárias e crie barreiras para minimizar as compras por impulso: remova aplicativos de compras do celular, não deixe seu cartão de crédito cadastrado nos sites das lojas em que você faz compras e pare de receber ofertas por e-mail”, sugere.

Como gerar renda extra?

Ideias não faltam! O importante é encontrar algo que tenha a ver com o seu perfil. Mesmo um pequeno reforço no orçamento (R$ 500 a mais no mês, por exemplo) vai ajudar você a sair do vermelho mais rápido. Aqui vão as sugestões de Andrés Montano e Paula Bazzo:
  • Fazer comida para vender (doces, bolos, salgados, marmitas, congelados...);
  • Fazer tricô ou artesanato para vender;
  • Oferecer serviços de faxina, organização pessoal, jardinagem;
  • Cuidar de crianças;
  • Cuidar de pets;
  • Trabalhar como motorista de aplicativo;
  • Dar aulas particulares (de idiomas, música, culinária, pintura, artesanato...);
  • Fazer serviços online (de revisão de texto, digitação, design gráfico, marketing digital...);
  • Prestar consultorias de algum conhecimento específico que você possui (RH, consultoria empresarial, decoração...);
  • Responder pesquisas remuneradas na internet ou participar de “cliente oculto”;
  • Vender roupas, calçados, eletrônicos ou objetos da casa que estão sem uso;
  • Oferecer aluguel de itens duráveis como furadeira, móveis, tendas.

Entrou um dinheirinho a mais. O que faço?

Pode ser o décimo terceiro salário, um bônus da empresa, a restituição do Imposto de Renda ou mesmo um dinheiro totalmente inesperado. O que é mais importante: usar o valor para quitar dívidas ou mantê-lo em caixa para alguma eventualidade?
Bem, ter uma reserva de emergência é extremamente importante. Quando você não tem essa reserva, qualquer imprevisto acaba gerando uma nova dívida: um pneu furado, uma despesa médica... a vida nem sempre corre dentro do planejado.
“Mas, para quem está endividado, a prioridade tem de ser a quitação das dívidas. Não vale a pena manter dinheiro em caixa quando se está pagando juros altos”, acredita Montano. “O ideal seria direcionar grande parte dessa receita extra para as dívidas e uma parte menor para o início de uma reserva de emergência.”

Consegui quitar as dívidas! E agora, como divido o meu dinheiro?

Uma referência muito comum é a regra 50-30-20, já explicada nesta reportagem. “Mas esses percentuais são uma referência genérica, que precisa ser adaptada para a realidade de cada pessoa ou família”, afirma Paula. “O importante é criar uma meta fixa de poupança mensal. Ela pode começar pequena (por exemplo, de 5% da renda) e ir aumentando conforme a renda cresce.”

Quais são as maiores dificuldades envolvidas?

Tanto Paula como Montano já ajudaram muitas pessoas a sair do vermelho e reorganizar sua vida financeira. Pelo que os dois profissionais descrevem, as maiores dificuldades não são sobre números, mas sim em relação a questões emocionais e comportamentais.
“Sair do vermelho exige mudanças no estilo de vida das pessoas e elas têm muita dificuldade de fazer sacrifícios e abrir mão de algo, para ganharem saúde financeira. É difícil reduzir o padrão de vida, seja por deixarem de fazer algo de que gostam, seja pela questão da perda do status”, analisa Montano.
Paula observa que algumas pessoas carregam sentimentos de vergonha e fracasso por estarem endividadas e evitam encarar a própria realidade financeira, o que acaba adiando a solução. Outras não têm clareza sobre o quanto ganham e gastam e vivem em descontrole constante.
Há ainda as que querem resolver “tudo de uma vez” e fazem cortes drásticos demais, que se revelam insustentáveis. E as que sofrem uma forte pressão emocional, seja por cobranças da família, seja pela comparação com a vida financeira de outras pessoas, o que alimenta sentimentos de inadequação e frustração.
Muitas pessoas acreditam que só vão conseguir sair das dívidas quando tiverem mais dinheiro, o que geralmente não é verdade. Se a pessoa ganha mais dinheiro, mas não muda de comportamento, ela tende a repetir os padrões de consumo. Organização e consciência financeira são tão importantes quanto o aumento da renda. Sem isso, qualquer valor extra que entra acaba se perdendo no mesmo ciclo”, conclui Paula.

Vou ter que controlar os meus gastos para sempre?

Sim. Assim como uma pessoa que conseguiu perder peso deve fazer uma reeducação alimentar para não voltar a engordar, quem quer manter as finanças em ordem precisa adotar o hábito de controlar o fluxo mensal de despesas e receitas
“Isso é fundamental, ainda que as pessoas em geral não gostem ou digam que não têm tempo para isso. Ter clareza sobre sua renda e seus limites reais de gastos é essencial para a vida financeira não sair dos trilhos”, defende Montano.
Mas esse acompanhamento não deve ser encarado como um sacrifício eterno. “Isso não precisa ser feito com neurose ou rigidez. Pode ser um check-up leve e funcional: reservar 15 minutos por semana para revisar a vida financeira, corrigir excessos assim que forem percebidos, acompanhar metas e dívidas, manter uma consciência constante sobre os próprios números”, afirma Paula.
O que eu costumo dizer para meus clientes é: as finanças estão a serviço de uma vida feliz, e não o contrário. Ter clareza sobre o que entra e o que sai é o que permite tomar decisões mais conscientes, realizar sonhos, se proteger de imprevistos e viver com mais leveza.

Onde posso buscar ajuda?

A ajuda pode vir de diferentes frentes, conforme o caso:
  • Para organizar orçamento, dívidas e metas de forma estruturada, recomenda-se a orientação de um planejador financeiro com certificação CFP. “Esse profissional oferece uma visão ampla e personalizada, sem conflitos de interesse com instituições financeiras”, explica Paula;
  • Em casos de dívidas abusivas ou práticas ilegais, os núcleos de apoio ao consumidor, como Procon e Defensoria Pública, atuam para garantir os direitos da pessoa endividada;
  • Alguns bancos também têm programas internos de educação financeira, que podem incluir renegociação guiada e orientações básicas;
  • Grupos de apoio e mentorias acessíveis ajudam na motivação e criam um senso de comunidade – uma ajuda bem-vinda para quem está tentando mudar hábitos profundos;
  • Psicoterapia também pode ser importante em alguns casos. “Quando a relação com o dinheiro está carregada de culpa, compulsão ou sabotagem, é sinal de que há gatilhos emocionais que precisam ser acolhidos com cuidado”, observa Paula.
Buscar ajuda não é sinal de fraqueza, mas de inteligência emocional e estratégica. Lidar com dinheiro envolve escolhas, história de vida, emoções e, muitas vezes, traumas. Cada uma dessas ajudas cumpre um papel; juntas, elas podem devolver o controle financeiro, a autoestima e a confiança na própria relação consigo e com o dinheiro”, conclui a especialista da Planejar.

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