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São Paulo, 07/08/2025 - A educação financeira só é concreta quando é inclusiva, compreendida e vivenciada, afirma com convicção Soraya Amaro, professora de economia e educação financeira da Escola do Sebrae. “Quando trabalhamos com o conceito, os alunos não aprendem apenas a economizar ou investir. Isso leva o jovem a pensar diferente e pode inclusive mudar a sua realidade”, ensina Amaro, que participou do painel “Na prática, a teoria é inclusiva?”, do evento "O futuro da educação financeira no Brasil", em São Paulo, realizado na tarde de ontem pela Anbima, B3, Banco Central, Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Febraban, FGC e Sebrae.
Segundo ela, o jovem gosta de ser o protagonista da situação. “Quando eles recebem uma informação têm o prazer de ser envolvidos no contexto para passar adiante. A ideia é usar esse perfil para formar agentes de mudanças”, defende a professora.
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Com décadas de experiência no assunto, Amaro afirma que é preciso construir pontes entre o que se aprende e o que se vive. “É preciso ensinar a pensar e estimular a leitura crítica da realidade, com exemplos reais”.
Na visão de Jaqueline Lima, analista do Sebrae Minas e gestora do CER - Polo Sebrae de educação empreendedora e mediadora do painel, o ensino de finanças nas escolas precisa dar um passo a mais. “É preciso que as escolas se comuniquem mais com o mercado financeiro. São essas alianças que funcionam”, afirma ou mencionar oportunidades de emprego para esses jovens do lado das instituições e empresas, e com a escola trazendo esses profissionais para conhecer a realidade da educação.
“Essa aliança precisa acontecer, não só da forma teórica, mas também com a prática”, acrescenta Lima. “Conseguimos trazer excelentes resultados com os alunos porque a prática no nosso trabalho é muito presente”, concorda Amaro.
Na tentativa de mensurar o impacto de sua matéria no cotidiano dos estudantes, a professora Soraya Amaro aplicou uma pesquisa entre seus alunos do ensino médio de uma escola privada (público da classe A e B). Foram ouvidos apenas 110 alunos, mas os resultados são surpreendentes.
Entre os alunos consultados 75% não tiveram acesso à educação financeira no ensino fundamental, mas 93,6% afirmaram que ao ter contato com o assunto a matéria os fez pensar de forma diferente. “Muitos declararam que estavam mais participativos nas decisões financeiras da família, o assunto era tratado em casa e passaram a ser mais ponderados sobre a questão”.
Ao serem questionados sobre de que forma isso teria ocorrido, 90% afirmaram que a educação financeira os ajudou a ter mais organização e ser uma pessoa mais consciente com relação ao uso do seu dinheiro. “E mais importante: esse aluno se torna um multiplicador dessa informação”.
Dentro do grupo pesquisado, 82% disseram que agora conseguiam ajudar os pais a planejar metas familiares.
“As pessoas sabem no fundo que precisam de mais conhecimento, mas ao mesmo tempo o assunto finanças ainda é um mistério para elas”, afirmou Erasmo Vieira, professor universitário de finanças, também presente ao debate.
O número de pessoas com acesso a conta corrente no Brasil é um dos maiores do mundo. “Temos mais de 90% da população brasileira adulta bancarizada. Mas quando você tem uma conta também ganha uma ferramenta chamada cartão de crédito. Você teve alguma aula sobre como usar isso? Sobre cheque especial? Não!”, lamenta o professor, ao lembrar do alto nível de endividados do Brasil. “Isso em um país que hoje tem uma taxa de juros de 15% ao ano, a mais alta em quase 20 anos”.
Amaro conta que desenvolveu um projeto em que os alunos teriam de atuar em uma área vulnerável. Durante o trabalho seu grupo presenciou o despertar da carreira de uma jovem que trabalhava em um shopping próximo e vendia docinhos na comunidade.
“Durante o nosso trabalho lá essa moça começou a fazer mais doces e ofereceu para um Buffet. Ela passou a ter uma renda de R$ 10 mil e foi atrás da informação de como abrir uma empresa MEI”, conta a professora.
Jaqueline Lima, do Sebrae MG, concorda que o casamento entre educação financeira e empreendedorismo em geral tem um resultado muito abundante, “porque os resultados vão se multiplicando”.
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