Lucro histórico dos planos de saúde deve pesar ainda mais para os idosos

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Entenda como é realizado o cálculo de reajuste dos planos e como as pessoas idosas podem ser afetadas - Envato
Entenda como é realizado o cálculo de reajuste dos planos e como as pessoas idosas podem ser afetadas
Por Bianca Bibiano [email protected]

Publicado em 09/06/2025, às 08h21

São Paulo, 09/06/2025 - A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), agência reguladora dos planos de saúde no Brasil, divulgou na semana passada os resultados do primeiro trimestre de 2025, apontando que as operadoras alcançaram lucro líquido de R$ 7,1 bilhões, um crescimento de 114% em relação ao mesmo período do ano anterior. É o melhor resultado para o trimestre desde 2019, quando foi contabilizado lucro líquido total de R$ 4,1 bilhões. Segundo a agência, esse resultado equivale a aproximadamente 7,7% da receita total do período, que foi de cerca de R$ 92,9 bilhões. Ou seja, para cada R$ 100,00 de receitas, o setor registrou R$ 7,70 de lucro ou sobra.

Para o advogado Elano Figueiredo, ex-diretor da ANS e especialista em sistemas de saúde, esse resultado pode impactar no reajuste dos planos de saúde, especialmente o reajuste da modalidade individual e coletiva, que deve acontecer ainda em junho. "Dada a normalização do custo assistencial, há agora uma sobra de recurso que deve permitir reajustes anuais mais módicos". Ele esclarece, contudo, que os reajustes são serão baixos, mas que podem ficar na faixa de 7%, como praticado nos dois últimos anos.

A data exata para o reajuste desse tipo de plano não está definida, pois depende de análise da agência reguladora junto ao Ministério da Fazenda. Figueiredo explica, porém, que quanto mais demorado for o anúncio do aumento, mais alto será o valor retroativo, que é cobrado à cada beneficiário de acordo com o aniversário do contrato.

Como funcionam os reajustes dos planos de saúde?

Reajuste anual

O especialista explica que, no caso dos planos individuais e familiares, o reajuste é autorizado pela ANS, que define um índice com base em dois critérios: 80% da variação dos custos médico-hospitalares (índice chamado Fator de Variação das Despesas Assistenciais) e 20% do IPCA (índice de inflação).

Nos últimos dois anos, esse índice ficou próximo de 7%. A metodologia tenta proteger o consumidor ao refletir apenas parcialmente o aumento de custos setoriais. Cerca de 25% a 27% dos beneficiários (aproximadamente 20 milhões de pessoas) estão nesta modalidade.

Já nos planos coletivos por adesão (com até 29 vidas), os reajustes são definidos por um "pool de risco" e apenas comunicados à ANS. Costumam ser mais altos, entre 18% e 23%, e com menor controle regulatório.

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Elano Figueiredo, especialista em sistemas de saúde, alerta para regras de constratação de planos para idosos (Divulgação)

Nos planos empresariais coletivo acima de 30 vidas, o reajuste é livremente negociado entre empresas e operadoras. A fórmula pode incluir inflação, sinistralidade e outras variáveis. Embora seja possível usar índices inflacionários (como IGPM ou IPC), muitas operadoras optam por considerar exclusivamente a sinistralidade. Esse valor é definido de acordo com o custo do serviço utilizado por cada beneficiário e tende a ser maior em populações com mais idosos.

"Operadoras que usam índices exclusivamente baseados em sinistralidade acabam elevando os custos para contratos com alto uso de serviços de saúde, como costuma ocorrer com idosos. Neste contexto, recomenda-se que pessoas idosas em posição de contratar planos empresariais busquem cláusulas com índices inflacionários fixos", pontua o advogado.

Reajuste por faixa etária

Esse tipo de reajuste ocorre à medida que o beneficiário muda de faixa etária. O último aumento permitido por lei é aos 59 anos, em respeito ao Estatuto do Idoso. Com isso, a faixa dos 59 anos concentra o maior impacto percentual, por ser a última oportunidade de ajuste etário. Antes do estatuto, os reajustes eram permitidos até os 70 anos. 

Para Figueiredo, essa limitação levanta um debate importante: "Seria possível suavizar o impacto criando mais faixas após os 59 anos, respeitando limites éticos e legais?  A discussão é delicada, mas necessária, sobretudo considerando o aumento da expectativa de vida e o novo perfil de utilização dos planos."

Como os idosos são afetados pelos reajustes dos planos de saúde?

Embora os reajustes, tanto anual quanto por faixa etária, ainda pesem mais no bolso das pessoas idosas, Figueiredo explica que a percepção de risco com relação a esse público está mudando. Um dos princioais fatores é o aumento do custo de sinistralidade entre usuários de 0 a 18 anos. "O custo elevado de terapias para crianças com atrasos de desenvolvimento se tornou tão alto para os planos que hoje um idoso representa um custo até menor ao plano de saúde do que uma criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou uma gestante, por exemplo, cujos tratamentos e riscos são mais imprevisíveis".

Ele credita a mudança também à maior previsibilidade nos custos de tratamentos para idosos quanto a uma maior busca dessa população em buscar um envelhecimento saudável. "Antigamente, as vendas dos planos para idosos eram desestimuladas, com corretores que não recebiam comissões em vendas para pessoas com mais de 59 anos, dentre outros mecanismos velados. Hoje, essa lógica mudou: há produtos específicos e incentivos de venda direcionados ao público sênior."

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