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Por Fabiana Holtz e Isadora Duarte, do Broadcast
[email protected]São Paulo, 14/04/2025 – O pânico provocado nos mercados globais com o anúncio das tarifas recíprocas dos Estados Unidos sobre produtos importados, na visão de alguns analistas, ainda deve perdurar e seus impactos estão sendo calculados. No tabuleiro do comércio internacional, o movimento dado por Donald Trump torna praticamente inviável a relação comercial com alguns países e pode resultar em um rearranjo global.
E para um país como o Brasil, focado na produção de matérias-primas (as chamadas "commodities"), a situação é negativa para a indústria por um lado, com perda de participação em mercados importantes, mas pode trazer reflexos positivos principalmente para o agronegócio.
No Brasil, os produtos mais vendidos aos americanos são petróleo bruto, minerais betuminosos crus, produtos semi-acabados, ferro e aço na forma de matéria prima e até peças de aeronaves. Os semi-acabados de aço já são sobretaxados com tarifas de 25% desde 12 de março.
A diplomacia brasileira ainda está em negociações com o governo dos EUA. O principal argumento é que a relação comercial com os americanos é de déficit, ou seja, compra mais do que vende.
Diante dessa super taxação, o Brasil passa a ser visto por grandes mercados como o da União Europeia uma opção estável e segura para a importação de alimentos, como soja, por exemplo. Além disso, com as reações da China à escalada na guerra comercial, o Brasil deve ganhar ainda mais espaço no mercado asiático.
De fato, o Brasil tem buscado estreitar suas relações tanto com a União Europeia, quanto na Ásia nos últimos anos, o que pode começar a render bons frutos agora, em um momento de incertezas e diante dos temores de uma recessão global.
Em recente visita ao Japão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou dez acordos de cooperação “nas mais diversas áreas”, além de quase 80 convênios entre empresas, bancos e universidades. Ao convidar os japoneses a investirem no Brasil, Lula recordou que o país pode ser considerado ‘um porto seguro’, como foi para os japoneses em 1908.
Para o advogado especialista em Comércio Internacional Rodrigo Pupo, do escritório MPA Trade Law, a pauta brasileira concorre com o produto americano, como em soja e proteína animal.
“Inclusive, o Brasil pode abrir exportações para o Japão, que pode passar a comprar o produto brasileiro até como forma de proteção para o fornecimento americano". Em uma leitura inicial, por sua dimensão o Brasil seria um potencial destinatário das exportações que foram barradas nos EUA pela super taxação.
Na avaliação da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a princípio os setores mais afetados pelo tarifaço serão os de suco de laranja, carne bovina e etanol. Em sua análise, a CNA leva em conta a alta participação do Brasil nas importações americanas nestes mercados. Em nota técnica, a confederação menciona as indústrias em que o Brasil não teria 'espaço' para ganhar de um eventual concorrente, sendo o único ou principal País afetado.
É o caso das fabricantes de sucos de laranja resfriados e congelados, onde o Brasil representa 90% e 51% das compras americanas; da carne bovina termoprocessada, com 63%; e do etanol, com 75%.
Para os produtos do agronegócio brasileiro a tendência, na visão da CNA, é de um repasse para os preços no mercado americano, considerando a "sensibilidade" das importações americanas em relação às variações de preços dos bens importados.
De acordo com a CNA, há também potencial de perda de mercado para o agronegócio brasileiro em itens produzidos pelos Estados Unidos, nos quais o Brasil complementa o abastecimento do país. Segundo a entidade, esse é o caso da carne bovina, na qual a produção local (nos EUA) alcança 12,3 milhões de toneladas, mas o consumo atinge 13 milhões de toneladas, e do óleo de soja, entre outros produtos, nos quais o consumo fica próximo da produção.
Em carne bovina congelada, o recuo dos embarques pode chegar até 17 mil toneladas ante as 20 mil toneladas exportadas em 2023, em virtude da alta das tarifas de importação de 26,4% para 36,4%.
"O resultado mostra que os principais produtos afetados seriam justamente aqueles em que o Brasil é dominante no mercado dos EUA, como por exemplo os sucos de laranja e outras frutas, o etanol e o açúcar que concorrem em parte com a produção interna dos EUA", pontuou a CNA, ponderando que pode haver desvios de comércio em casos em que os concorrentes brasileiros enfrentem maiores tarifas.
De acordo com a análise preliminar da entidade, para o suco de laranja brasileiro, a importação dos Estados Unidos com tarifa adicional de 10% em relação à alíquota atual de importação cairia de 1,004 bilhão de litros (base 2023) para cerca de 261 milhões de litros. Ou seja, uma perda de exportação para o Brasil de 743 milhões de litros de suco de laranja exportados em cenário de tarifas elevadas. A alíquota atual de importação de suco de laranja sairia de 5,9% para 15,9%.
No etanol, a CNA projeta uma queda de demanda americana pelo produto brasileiro de até 41 milhões de litros, saindo de 337 milhões de litros (base embarques 2023) para 296 milhões de litros com a elevação da tarifa de 2,5% para 12,5%.
Para o açúcar, o impacto pode chegar a 28 mil toneladas, estima a CNA, passando de exportações brasileiras de 73 mil toneladas (base 2023) para 45 mil toneladas, com o aumento da tarifa de 33% para 43%.
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