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Por Por Fabiana Holtz, com equipe do Broadcast
[email protected]São Paulo, 08/05/2025 - Com a elevação anunciada ontem, a taxa básica de juros da economia, a Selic, chega ao seu maior patamar em quase 20 anos, de 14,75% ao ano. Certamente esse movimento do Banco Central (BC) para assegurar a estabilidade da economia terá repercussões no mercado de crédito, que fica mais caro não apenas para os consumidores, mas para as empresas e para o próprio governo. Por outro lado, a rentabilidade no segmento de renda fixa se torna mais atraente.
Em sua sexta alta consecutiva para conter o avanço da inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) evitou se comprometer com sinalizações de seus próximos passos. Não decretou o fechamento do ciclo, mas também não renovou a sinalização de que seguiria subindo os juros. Segundo o comitê, no momento os riscos de a inflação cair são tantos quanto os de a inflação subir.
No dia-a-dia, economistas apontam que esse cenário já tem alterado o comportamento de consumo do brasileiro, com impacto direto em suas finanças pessoais. Ou seja, o juro mais alto além de encarecer o crédito, reduz o consumo, que tende a se restringir ao básico, além de aumentar o endividamento das famílias. No caso do crédito, a relação é direta porque a base de sua formação para qualquer financiamento é a Selic.
Com relação ao consumo, em momentos como esse o natural é que as pessoas se concentrem em gastos mais essenciais, como alimentação e o pagamento de contas básicas, como aluguel, água, luz e gás.
No entanto, para quem tem uma reserva aplicada no banco o momento é de melhores retornos, principalmente se você possui títulos de renda fixa com rendimentos determinados por algum índice de referência, como Tesouro Selic e CDBs atrelados ao CDI, cuja rentabilidade acompanha a taxa.
Em tom bastante crítico, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que nesse patamar, a Selic "impõe um fardo ainda mais pesado à economia". Em nota, a entidade destacou as consequências negativas da alta dos juros para o emprego, a renda e o bem-estar da população. "Embora o controle da inflação seja o objetivo primordial do Banco Central, a elevação da Selic traz riscos significativos à economia, que está em processo de desaceleração mais acentuado do que esperávamos no final de 2024", alertou o presidente da CNI, Ricardo Alban.
E a notícia pega o mercado de crédito imobiliário em um momento de franca expansão, apesar da piora generalizada do cenário externo com a guerra comercial declarada pelos Estados Unidos. Nos primeiros três meses do ano, o financiamento imobiliário cresceu 16,2% na comparação anual, somando R$ 38,3 bilhões, de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
Pesquisa Sindicato da Habitação (Secovi-SP) sobre o mercado imobiliário da cidade de São Paulo confirma essa tendência, ao revelar uma expansão considerável, de 49,8%, dos lançamentos no mês de março, mas vendas praticamente estáveis, refletindo o crescente avanço nos juros para a tomada de financiamento.
No cenário mais provável, na avaliação dos economistas de instituições como Bradesco, Citi e Ativa, esta foi a última elevação da Selic no ciclo atual. Para o time de analistas do Itaú Unibanco, por sua vez, um movimento de corte da Selic deve acontecer somente na primeira reunião de 2026.
"Em linhas gerais, o comunicado traz a perspectiva de que essa foi a última alta do ciclo e adiciona que ficará restritivo por mais tempo", resume o economista Gustavo Rostelato, da Armor Capital.
Como não podia ser diferente, o cenário internacional, classificado agora como adverso, ganhou peso para os membros do Copom, com a perspectiva de a política comercial errática dos Estados Unidos colocar um freio no crescimento da economia global. Fora isso, o BC parece mostrar maior convicção de que a alta dos juros vai ter efeito na atividade econômica do Brasil, ao observar que há uma “incipiente moderação” no crescimento.
Mas o clima de incerteza permanece. “Eu acho que nem os diretores e nem o próprio presidente, Gabriel Galípolo, sabem o que farão na próxima reunião ainda", afirmou o economista-chefe da G5 Partners, Luis Otavio de Souza Leal.
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