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São Paulo, 12/08/2025 - Para o brasileiro, o carro é mais do que um meio de transporte, é uma conquista, sinônimo de liberdade, uma paixão nacional e até um sinal de status. Mas, na hora de comprar ou trocar um veículo, o coração pode não ser o melhor conselheiro. Diante de tantas opções que existem no mercado – carro zero, seminovo, usado ou assinatura -, escolher uma opção que atenda o seu interesse pode ser um processo desafiador.
Cada modalidade tem vantagens e desvantagens que impactam o bolso, a praticidade e até a revenda. Saber onde está o melhor custo-benefício é o primeiro passo para não transformar um sonho em dor de cabeça.
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A pedido do Viva, Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, fez uma simulação financeira para ajudar na sua decisão. Mas há outros fatores que devem ser considerados na hora da escolha, como estado do veículo e a quilometragem, por exemplo.
Para a simulação, foi escolhido o modelo Hyundai HB20 1.0 Comfort Plus TGDi Flex – Automático nas versões zero quilômetro, seminovo com 15 mil quilômetros, usado com mais de 15 mil quilômetros, além da cotação para assinatura na Rentcars e na AssineDrive. Foram considerados custos como: deságio, IPVA, seguro, revisões, pneus e custo de oportunidade (valor do benefício que você abre mão ao escolher uma alternativa em vez de outra). As despesas e a assinatura do carro foram calculadas para 48 meses.
Deve-se considerar que o momento da aquisição é o mesmo para cada um, logo, o seminovo e o usado já têm histórico de rodagem. Além disso, o zero sofre deságio de 15% no primeiro ano, enquanto os demais apenas 5%, pois já sofreram entre 10% e 15% anteriormente.
Todas as simulações consideram que não houve nenhuma manutenção corretiva e nenhum sinistro.
O valor desse carro zero é R$ 107.510,00. Ao final de 48 meses ele terá sofrido um deságio de 61,4%, de modo que o veículo estará valendo R$ 41.477,84. Neste caso, não há custo de oportunidade, já que foi investido todo o dinheiro disponível para a compra do carro zero.
Agostini lembra que o carro zero além de sofrer um deságio de 15% já no primeiro ano, ele também passa por mais revisões.
O zero terá que realizar as quatro primeiras revisões, já o seminovo apenas três, e o usado, duas revisões mais troca de amortecedores e meio jogo de pneus a mais".
Para os carros zero quilômetro, a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), divulgou que em julho foram emplacados 181.787 veículos, um crescimento de 14,24% ante junho, quando foram vendidos 159.122 veículos. De janeiro a julho já foram emplacados 1.060.362 ante 1.026.759 no mesmo período de 2024. Para o ano, a entidade espera um crescimento de 5% no licenciamento de veículos novos, totalizando 2.765.906 unidades vendidas. Essa projeção inclui automóveis e comerciais leves, caminhões e ônibus.
Nesta opção, o valor do carro é de R$ 96 mil, com gastos totais de R$ 132.463,89 ao final do período. Neste caso, como você economizou R$ 11.510,00, porque não quis comprar o zero quilômetro e aplicou essa diferença em renda fixa, ao final do período você tem R$ 16,689,54 investidos e o seu carro está valendo R$ 58.418,25; ou seja, o seu custo de oportunidade é de R$ 75.107,79.
Ao escolher o usado, a economia ante o zero quilômetro é de R$ 15.020,00, já que o valor dele é de R$ 92.490,00. No final dos 48 meses, somando o custo de oportunidade e o valor do carro, o indivíduo terá R$ 80.248,26.
De acordo com o presidente da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), Enilson Sales, apesar do cenário econômico desafiador, o segmento deve apresentar alta em relação a 2024. A Fenauto estima que o volume de veículos seminovos e usados negociados esse ano fique em torno de 16 milhões, crescendo um pouco sobre o ano anterior, que foi de 15.777.000 veículos comercializados. "O primeiro semestre demonstrou que isso poderá ser possível", diz Sales.
Ele acrescenta que o segundo semestre é mais desafiador. "A gente percebe claramente que as condições de crédito e as condições da própria conjuntura econômica brasileira têm se deteriorado. Mas imaginamos que conseguiremos vender 16 milhões de veículos. Essa é a estimativa e a torcida também da Fenauto”, revela.
Neste caso, além do valor investido, muitas pessoas consideram a tranquilidade de não ter que se preocupar com manutenções, seguro e IPVA, por exemplo. Com base no valor das duas empresas onde foi feita a simulação, o economista chegou ao valor médio da assinatura do veículo usado como exemplo de R$ 108.696,00, com franquia mensal 1.000 km e valor mensal de R$ 2.264,50 - sem reajuste anual.
Se o valor for investido integralmente e retirado mensalmente um montante para o pagamento da assinatura, o consumidor ficará com R$ 25.457,71 ao término do quarto ano, mas sem o carro.
Ao considerar o custo de oportunidade de cada opção, o carro usado parece mais vantajoso, mas é bom lembrar que nesta simulação não estão sendo consideradas manutenções corretivas e nem sinistros. Já a assinatura se mostra a pior opção, mas também é importante ressaltar que, neste caso, o consumidor não precisa se preocupar com questões como seguro e IPVA, por exemplo.
Carro zero - Todo o dinheiro foi investido na compra e, ao final de 48 meses o indivíduo tem o valor do carro à época: R$ 41.477,84.
Seminovo - A diferença entre o valor do novo e o seminovo, de R$ 11.510,00 foi investido em renda fixa e, no final do período, ficam R$ 16.689,54 investidos mais R$ 58.418,25 do valor do automóvel, totalizando R$ 75.107,79.
Usado - Neste caso, o montante no prazo final é de R$ 80.248,26, sendo R$ 21.779,06 de investimento, mais R$ 58.469,20 do valor do auto.
Assinatura - Aqui, embora o valor investido seja o maior, o indivíduo investiu esse valor mas precisou retirar todos os meses o equivalente a prestação da assinatura. Ao final de 48 meses, o restante da aplicação é de R$ 25.457,71, e não há carro sob sua posse.
Segundo Agostini, a assinatura só é vantajosa em três situações:
Se você já resolveu a questão financeira, fique atento agora a algumas dicas que vão ajudar a evitar “roubadas”, caso tenha se resolvido por um seminovo ou usado. Para o professor de engenharia mecânica do Instituto Mauá de Tecnologia Fernando Malvezzi, os cuidados ao comprar um veículo seminovo ou um usado são os mesmos.
Deve ser verificada a procedência e a documentação do veículo, o estado de conservação da carroceria e do interior. Também é importante avaliar o desgaste dos pneus, o estado do motor e da transmissão.
“Uma dica é suspender o carro em um elevador de veículo para avaliar possíveis vazamentos e desgaste excessivo dos componentes da suspensão. Se necessário, leve o carro a uma oficina de confiança antes de fechar o negócio”, sugere.
O professor orienta ainda que, se possível, compre o veículo de pessoas conhecidas ou com vendedores confiáveis e de boa reputação.
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- Verifique se o proprietário possui um registro do histórico de manutenção. No caso dos seminovos, isso deveria estar registrado no manual do proprietário;
- No caso de veículos usados, que normalmente já passaram do prazo de garantia, é mais comum a proprietário fazer a manutenção fora de concessionárias, em oficinas de sua confiança. Alguns proprietários guardam registros dessa manutenção preventiva, como notas fiscais. Verifique se a troca de óleo e filtros foi realizada regularmente;
- Verifique sistema de freios e suspensão: avaliar ruídos e trepidações durante a frenagem. Observar o desgaste de pastilhas, discos, amortecedores e buchas da suspensão. Avalie o desgaste dos pneus. Desgaste irregular pode indicar problemas no sistema de suspensão ou direção;
- Cheque se a correia dentada ou corrente de distribuição foi trocada no prazo indicado pelo fabricante;
- Verifique se todos as luzes e faróis estão funcionando. O estado da bateria também pode ser avaliado em uma loja especializada;
- Cheque o estado geral da lataria e possíveis pontos de ferrugem;
- Faça o escaneamento eletrônico para verificação de possíveis falhas. Isto é feito em oficinas de manutenção de veículos.
- Verifique se não há multas, IPVA ou licenciamento com pagamento pendente. Para isso, verifique no site do Detran e/ou Senatran;
- Verifique pendências judiciais, como financiamento não quitado ou penhora. Utilize a "Consulta de situação do veículo" no site do Detran, com a placa e o número do Renavam do veículo. O aplicativo Sinesp Cidadão (https://www.sinesp.gov.br/sinesp-cidadao) também permite verificar se o veículo tem registro de roubo, e pendências no Detran, mas não mostra pendências judiciais;
- Cheque se o número do chassi gravado no carro é o mesmo do documento. Se não estiver seguro em relação à procedência, pode valer a pena pagar por uma vistoria de empresas especializadas antes de fechar o negócio.
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