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Por Felipe Cavalheiro
[email protected]Um recente estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) apontou que, com o envelhecimento populacional e a diminuição da força de trabalho no cenário atual, o crescimento econômico mundial deve recuar em média até 2 pontos porcentuais até o final do século. Mas o estudo também aponta que com políticas voltadas à chamada “economia prateada”, o PIB mundial pode ser elevado em torno de 0,4 ponto porcentual anualmente entre 2025 e 2050.
A análise foi feita com os dados de aproximadamente 1 milhão de pessoas acima dos 50 anos, de 41 países, incluindo o Brasil, entre 2002 e 2022. Com dados da ONU indicando que a população em idade ativa nos países desenvolvidos vai começar a diminuir em 2035, o que também deverá ocorrer com as economias emergentes até 2070, FMI buscou entender como essa parcela da população se relaciona com o mercado de trabalho e como as políticas podem impactar neste relacionamento.
Embora a inversão da pirâmide etária seja apenas questão de tempo, esse aumento na porcentagem de idosos não acompanha proporcionalmente uma diminuição na força de trabalho. Ainda que a população esteja mais velha, o famoso ditado “os 70 são os novos 50” nunca foi tão real: em 2022, a capacidade cognitiva de uma pessoal de 70 anos é similar a de alguém com 53 anos no começo do século.
No entanto, esta preservação da saúde cognitiva não é homogênea. Ainda que o resultado geral seja bem positivo, com cada geração envelhecendo melhor, a desigualdade aparece tanto na diferença entre países, classes sociais e até mesmo gênero. Usando uma pontuação de saúde cognitiva que ia de 0 a 1, o FMI examinou a regressão nos 20 anos de estudo, considerando estes fatores.
Se manter no emprego é uma preocupação para todo mundo, mas, entre os mais velhos o desafio aumenta: segundo o estudo, são os menos prováveis para começar uma nova ocupação. Muitos pensam só na entrevista de emprego como uma barreira etária, mas a dificuldade vem desde a escolha da carreira, e se mantêm a cada novo dia.
Em um comparativo, o Brasil tem uma estabilidade maior, enquanto os Estados Unidos registram uma queda acentuada, especialmente entre quem não tem ensino superior. A probabilidade de mudança de ocupação entre as idades maiores e menores cai quase pela metade nos EUA, sendo 8,63% no grupo de 20 anos sem ensino superior em relação a 4,88% no grupo de 70 anos.
Mesmo nas políticas de inclusão etária, outras desigualdades aparecem. A exemplo disso, temos o desemprego entre mulheres idosas: mesmo com um aumento significativo da Taxa de Participação entre 55 e 64 anos no mercado de trabalho desde 2000, de 35% para 51% da população feminina, a disparidade de gênero volta a crescer após os 65 anos, com quase três vezes mais participação percentual masculina.
A última análise do FMI se volta para as responsabilidades políticas; tanto empresariais quanto governamentais. Para tanto, o estudo comparou a expectativa de produção em diferentes países para os próximos 75 anos com as projeções de crescimento nos cenários de aplicação de três grupos de políticas: de envelhecimento saudável, de aposentadoria mais eficiente e de diminuição na disparidade de participação no mercado de trabalho entre gêneros.
No cenário em que todas as políticas são aplicadas, o crescimento econômico seria 0,4 ponto porcentual maior, revertendo quase um terço dos impactos causados pela tendência demográfica.
A IA trouxe a tona uma discussão: como seu uso pode substituir o trabalho humano, ou servir para facilitado. Unindo o debate à preocupação com a adesão dos funcionários mais velhas às novas tecnologias, o FMI usou duas medidas: a exposição, isto é, o quão sucessível a IA uma atividade é; e complementaridade, o quanto uma atividade pode aproveitar a IA como uma aliada.
Desta forma, atividades com alta exposição e alta complementaridade têm maior propensão de ganhar um aumento na produtividade, enquanto atividade com alta exposição e baixa complementaridade possuem maior risco de serem substituídas. Por fim, às atividades de baixa exposição serão pouco afetadas pela Inteligência Artificial, tanto positiva quanto negativamente.
Os resultados encontrados pelo FMI indicaram que tanto a exposição quanto a complementaridade seguem constante entre todas as idades. A maior disparidade ainda é entre alta e baixa escolaridade, podendo assim beneficiar quem teve mais tempo de estudo. Mesmo na comparação entre Estados Unidos e Brasil, o aproveitamento da IA é similar.
Quando perguntado exclusivamente para trabalhadores acima dos 54 anos, se percebeu a preferência pelo uso de da Inteligência artificial para poupar as tarefas mais desgastantes: o grupo com ocupações consideradas estressantes teve o maior índice de alta exposição e alta complementaridade.
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